Por Sucena Shkrada Resk* –
Neste Dia Mundial da Saúde (07/04), fica o alerta em defesa de nossos profissionais da área da saúde
A batalha contra a Covid-19 está resultando em muitas baixas no front, em todo o mundo. No município de São Paulo, o médico socorrista Paulo Fernando, 56 anos; o enfermeiro Idalgo, 45; o cardiologista Ricardo Antonio e o anestesiologista José Manoel, no Rio de Janeiro; e a técnica em enfermagem Adelita, 38, de Goiás são alguns dos profissionais da saúde que morreram recentemente. Um pesar sentido por seus familiares, colegas de trabalho e por nós, da sociedade, com uma mensagem de agradecimento. Neste cenário de crise, milhares destes profissionais também estão sendo afastados de suas funções porque seus testes deram positivo para a doença. Neste Dia Mundial da Saúde, uma atenção mais aprofundada sobre estes cidadãos e trabalhadores.
Na Itália, cerca de 90 médicos também sucumbiram à doença transmitida pelo novo coronavírus até esta segunda-feira. Em Wuhan, na China, onde tudo começou no final de dezembro do ano passado, é importante frisar que o médico Li Wenliang, que foi um dos primeiros a notificar sobre o surgimento da doença – e não recebeu inicialmente o merecido crédito – também perdeu sua vida. Seus colegas, o oftalmologista Mei Zhongming e o médico Jiang Xueqing, morreram mais recentemente. Nos EUA, que se tornou o novo epicentro da Covid-19, devido ao número de casos, o cirurgião médico James Goodrich não resistiu à doença, e está entre as mais atuais baixas.
Cada uma destas perdas não pode ser esquecida, além de todos os profissionais aqui não mencionados, como todas as vítimas fatais no mundo, que já chegam a mais de 67,5 mil pessoas. Infelizmente não conseguimos homenagear merecidamente a todos que deram literalmente suas vidas pela recuperação de cidadãos e cidadãs em diferentes locais do planeta e àqueles que resistem bravamente todos os dias em seus plantões ou estão temporariamente afastados, em quarentena.
Mas o que é possível multiplicar, neste cenário de crise, são as reivindicações destes profissionais, que são um apelo por melhor infraestrutura para que possam atender com segurança. Globalmente, há um grande déficit de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), testes para a detecção da doença, como também de respiradores mecânicos para os casos mais graves. Os profissionais da linha de frente precisam de itens básicos, como sabão, álcool gel, de papel toalha, máscaras cirúrgicas, de proteção N95, óculos e aventais de proteção, entre outros. Os órgãos públicos e privados estão com dificuldade de conseguir cobrir a necessidade destes insumos com agilidade, pois esta demanda atinge a maior parte dos países.
Aqui no Brasil, a Associação Médica Brasileira (AMB) tem recebido centenas de denúncias sobre esta precariedade. No início do mês, já eram mais de 2,6 mil em todo o país. O Conselho Nacional e os regionais de Enfermagem também estão ouvindo os profissionais do segmento. Muitos têm recorrido ao próprio bolso para adquirir o material de segurança, enquanto estoques não são atualizados pelos gestores.
O problema, no entanto, é mais fundo, porque vivenciamos internacionalmente uma guerra comercial quanto ao suprimento destes itens, que coloca em profunda discussão valores éticos que estão sendo corrompidos pelo raciocínio de “quem paga mais, leva primeiro”. Ao mesmo tempo, está exigindo proatividade da área industrial para canalizar sua força produtiva para suprir esta falta de insumos. A maioria das automotivas do mundo começaram a se desdobrar neste esforço, como grandes empresas na área cosmética, de bebidas, da moda, de eletrodomésticos, entre outros setores da economia. Uma nova discussão surge: todos os países devem adquirir autossuficiência na fabricação e não podem ficar à mercê do monopólio de poucos, ou seja, das nações que detêm hegemonia no contexto do capitalismo.
No campo do empreendedorismo local, estamos vendo exemplos de costureiras que estão se desdobrando para produzir EPIs para hospitais. É realmente um esforço em “tempos de guerra”, uma guerra que exige de todos nós, novos paradigmas de desenvolvimento. É um raciocínio que se prolonga pós-Covid-19.
Nossos “soldados” do front, que vão desde as equipes de limpeza, segurança, assistência social aos profissionais da enfermagem e da área médica são nosso suporte real, que precisam ser assistidos em todas as suas necessidades. Desmerecê-los é um posicionamento fatal à toda humanidade. Além do estresse físico, sofrem o mental. Se cada um de nós tentar se colocar por uma vez em seus lugares, talvez, tenhamos a dimensão deste imenso hiato na área da saúde. Não por acaso, aqui no Brasil, psicólogos também criaram na Rede de Apoio Psicológico, um serviço voluntário aos profissionais da linha de frente da Covid-19.
O distanciamento social orientado à população por infectologistas e autoridades se torna extremamente necessário, neste contexto, para que o sistema de saúde não entre em colapso. Para se ter uma ideia, hoje mais de 50% dos 12.500 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) nos hospitais no estado de São Paulo já estão lotados por pacientes da Covid-19 e com outras doenças. Municípios, estados e o governo federal estão correndo contra o tempo.
Se esta retaguarda não estiver minimamente “desafogada” e as pessoas entrarem no ritmo normal de circulação, um verdadeiro caos é previsto, como já se vê em locais como EUA, Itália, Espanha, Equador e Irã, como outros. Os hospitais de campanha que estão entrando em funcionamento em vários pontos visam atender principalmente baixa e média complexidade para que leitos de possam ser liberados nas unidades hospitalares formais para casos mais graves.
*Sucena Shkrada Resk – jornalista, formada há 28 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
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