Por Stephanie Kim Abe para Cenpec –
Estudo revela que um(a) em cada 10 estudantes de redes municipais do 9º ano não participou das aulas em abril deste ano
Em abril desde ano, época em que o Brasil vivia o maior pico da pandemia, um(a) em cada 10 estudantes do 9º ano das redes municipais de educação não participava das aulas remotas. No 5º ano, a média de participação foi um pouco maior, cerca de 92,5%.
O alerta vem do estudo Permanência Escolar na Pandemia (PEP), realizado com mais de 1,2 mil secretarias de Educação de todas as regiões brasileiras. Lançado hoje pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) e o Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa (CTE-IRB), o levantamento buscou analisar a adesão de estudantes da rede pública às atividades remotas durante o período da pandemia.
O achado vai ao encontro dos dados do relatório Cenário da Exclusão Escolar no Brasil, realizado pelo Cenpec em parceria com o Unicef. A pesquisa, divulgada em abril deste ano, revelou que mais de 5 milhões de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos não tiveram acesso à educação no Brasil em novembro de 2020. Desses, mais de 40% eram crianças entre 6 a 10 anos, faixa etária cujo acesso à educação estava praticamente universalizado antes da pandemia.
Em um contexto pré-pandemia, onde as taxas de evasão e abandono escolares eram quase nulas nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a rede possuir um índice de 10% de alunos inativos durante o ensino remoto é uma situação alarmante, que exige adoção de medidas pelo Poder Público visando à reversão desse quadro.
Estudo Permanência Escolar na Pandemia
Assista ao lançamento do estudo, transmitido pelo canal no YouTube do Iede:
Aprofundamento das desigualdades
O estudo também revela que o acesso às aulas remotas e a participação nas atividades impressas ou on-line foi desigual, conforme a região onde o(a) estudante está. A frequência dos(as) alunos(as) foi maior nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, quando comparadas aos percentuais do Norte e Nordeste. Essa constatação reforça a importância de olhar para as desigualdades educacionais na hora de pensar políticas públicas que busquem combater o abandono e a evasão escolar.
Um dos problemas a serem enfrentados nesse combate é a falta de uma cultura de monitoramento e de sistematização de dados nas secretarias de educação. De acordo com o estudo, as informações sobre a frequência de estudantes não estavam organizadas em muitas das redes participantes:
Na maioria das redes estaduais e municipais do País, o controle sobre a participação dos estudantes ao longo da pandemia ficou apenas a cargo das escolas. Esse é um ponto muito preocupante revelado pelo estudo, já que essas informações deveriam ser também de ciência das redes de ensino, inclusive, para que pudessem identificar quais são as escolas sob sua responsabilidade em que há menor taxa de participação dos alunos e que, por isso, precisam de um suporte maior para evitar casos de abandono e evasão escolar.”
Estudo Permanência Escolar na Pandemia
Boas práticas
O estudo também destaca a atuação de algumas redes municipais de ensino que conseguiram garantir a participação dos(as) estudantes no período da pandemia, como Nova Brasilândia D’Oeste (RO), Ji-Paraná (RO), Lucas do Rio Verde (MT), Italva (RJ) e Aimorés (MG).
A pesquisa não classifica essas experiências como exemplos de boas práticas a serem copiados, mas busca tentar entender como que ações essas redes lançaram mão para fazer esse monitoramento. Lista de controle de retirada das atividades impressas pelos familiares, comunicação intensa e constante pelo WhatsApp com os(as) responsáveis, visitas domiciliares de gestores(as), formação de educadores(as) para o uso das plataformas on-line são algumas dessas práticas consideradas importantes pelo estudo no acompanhamento da frequência escolar.
O presidente do CTE-IRB, Cezar Miola, ressalta que a gestão dos dados escolares é fundamental para o efetivo acompanhamento de estudantes que perderam o vínculo com a escola:
“É preciso identificar e localizar as crianças e adolescentes que abandonaram a escola ou que não conseguiram se manter aprendendo em casa durante a pandemia e adotar medidas para que eles tenham o seu direito à educação garantido.”
Cezar Miola