O número de pessoas em situação de rua tem aumentado nas principais capitais do Brasil. No Rio de Janeiro, essa população quase triplicou em três anos: em 2016 foram contabilizadas 14,2 mil pessoas nessa condição, segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social. Em um cenário hostil, as mulheres ainda enfrentam maiores dificuldades. É o que aponta a pesquisadora Suzana Rozendo Bortoli. Em sua tese de doutorado defendida na USP ela se propôs a chamar a atenção para as vivências de mulheres invisibilizadas e apontar possibilidades para que a imprensa modifique a forma de retratá-las.
A jornalista entrevistou 15 mulheres adultas que vivem nas ruas e estavam em Casas de Reinserção Social do município do Rio de Janeiro. Os depoimentos foram coletados em 2014 e revelam o medo da violência física e sexual nas ruas. Além da insegurança, as maiores dificuldades relatadas foram a falta de alimentos, a preocupação com a higiene e o preconceito sofrido.
Além de dar voz a pessoas marginalizadas, um dos objetivos da pesquisa era descobrir se essas mulheres concordavam com a forma como eram retratadas na mídia. Para isso, Suzana analisou matérias publicadas nos jornais cariocas Extra e O Globo e concluiu que jornalistas eram parciais em suas narrativas. Alguns exemplos mostram que os periódicos não traziam pluralidade de fontes, ao divulgar somente a versão dos que se queixavam das pessoas nas ruas de seus comércios e casas. Também os associavam à degradação urbana, à violência e ao uso de drogas.
“O jornalista precisa ouvir os dois lados da história. O repórter não pode ser parcial e divulgar as ‘vozes oficiais’, ele precisa ter contato com aquela pessoa em situação de vulnerabilidade”, afirma a pesquisadora. (#Envolverde)