Sociedade

Plano Diretor paulistano é incoerente com necessidades de transporte urbano

Por Katherine Rivas, da Envolverde –

Aberje debate com especialistas novas alternativas de mobilidade urbana.

Com o objetivo de fortalecer novas políticas de mobilidade urbana, a Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) lançou o LAB de Comunicação para Mobilidade que promove três debates com especialistas até novembro.

O primeiro encontro, que aconteceu no dia 29 de setembro, abordou as políticas públicas e tendências urbanísticas dos próximos anos. Diretor-geral da Aberje, Hamilton Santos, coloca como foco da proposta a interação entre universidades, academia e empresas. A estratégia será conscientizar inicialmente os associados e logo o público em geral.

O projeto conta com o apoio da multinacional General Motors (GM), que expressou o seu compromisso com a Aberje de difundir soluções de mobilidade urbana aliadas à tecnologia. Marco Munhoz, vice-presidente da GM, avalia a parceria como um impulso para a empresa enxergar novas alternativas de desenvolvimento com ajuda de especialistas.

Plano Direto e Estratégico

Especialistas apresentaram o cenário atual do transporte na cidade de São Paulo e apontaram a urgência de um Plano Estratégico de longo prazo para a metrópole.

Este cenário tem um crescimento periférico acelerado impedindo que o transporte atenda de forma adequada a comunidade. Diretor da USP Cidades, Miguel Bucalem considera que a solução é olhar para a cidade de forma compacta, poli-centrica e equivalente.

Por tal motivo seria necessária a transformação dos bairros periféricos em pequenas cidades levando até estes tudo o que demanda mobilidade (trabalho, lazer e comércio). Outra das estratégias é diminuir o tempo de viagem do paulistano para 31 min e criar núcleosurbanos voltados aos pedestres. “Na área central da cidade precisaríamos reformular a estação da Luz e o Parque Dom Pedro. Um plano estratégico de longo prazo (15 anos) é um instrumento muito valioso” explica Bucalem.

Segundo o diretor a ideia de criar um Plano Diretor de 10 anos enquanto um Plano de Transporte deve ter entre 15 e 20 anos não faz sentido. Ele avaliou positivamente as políticas de adensamento (uso total do espaço urbano).

Eduardo Vasconcelos apresenta 11 mitos da mobilidade urbana. Foto: Katherine Rivas
Eduardo Vasconcelos apresenta 11 mitos da mobilidade urbana. Foto: Katherine Rivas

 

Eduardo Vasconcelos, assessor da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), acredita que o adensamento da cidade é importante, mas levará décadas para ser instaurado. “Não podemos esperar tanto, temos problemas urgentes para resolver como mortes no trânsito e a poluição. Quem pode mudar a Zona Leste? Vamos esperar 40 anos para isso? ”, desabafa. No evento, Vasconcelos apresentou ao público os 11 mitos da mobilidade brasileira e manifestou que há dificuldade para dialogar com a imprensa tradicional e divulgar dados corretos.

Alguns dos mitos foram: “São Paulo não tem 7 milhões de automóveis nas ruas”, segundo o especialista a frota atual é de 4 milhões e a informação do Detran foi mal difundida.  “Túneis e vias expressas não mudam nada”. Vasconcelos confirmou que a construção de vias não gera melhorias no trânsito.

Ele comparou o sistema de transporte de Estados Unidoscom o da Europa (este último produz metade de gases poluentes que o americano) e mencionou que chegou a hora de escolher o modelo certo.

Para Vasconcelos, o foco do Brasil não pode ser o efeito estufa e sim a redução do uso de automóveis.  Ele qualificou o “efeito-estufa” como prioridade para países ricos.  E criticou as pessoas que reclamam que o custo de ter carro é alto. “Quem usa carro não paga a real demanda da cidade. Paga 70 centavos de IPVA diário sendo que na rua tem 1 milhão de carros estacionando de graça ocupando espaço de pedestres e ciclistas”, explica.

O urbanista Cândido Malta também defende que o Plano Diretor das cidades deve ter estratégias de no mínimo 20 anos, independentemente da troca de mandato. Ele considera que o adensamento precisater limites sem ceder à pressão especulativa dos imóveis.

Pesquisa Origem- Destino

No evento foram anunciadas as diretrizes da pesquisa Origem-Destino para o ano 2017. O estudo da SPTrans vai diagnosticar o sistema de Mobilidade atual e criar alternativas de planejamento para o metro, ônibus e trem.

O projeto conta com duas etapas. Na primeira serão recolhidos dados dos cidadãos como lugar, origem e destino das viagens, número de viagens realizadas, e tempo de percurso.

Na segunda etapa serão realizadas visitas domiciliares para entender os motivos reais do deslocamento.  O estudo definira 567 zonas de origem e destino até o segundo semestre de 2017. Os resultados contribuirão com novas Políticas Públicas e de adensamento. (#Envolverde)