Pode parecer estranho, pois quando se fala em moda, logo vem à cabeça aquela ideia de que gente “moderna” está sempre usando lançamentos e repaginando o guarda-roupa a cada troca de estação. Pois parece que isso já não é mais moda. O público mais exigente e culto tem dado cada vez mais valor para aspectos sustentáveis quando adquire uma peça para seu look.
E exatamente um recorte sobre esse universo que será mostrado no flash de moda que será realizado nesta sexta-feira, dia 17 de maio, da Festa-feira INquieta. O evento será realizado no Galpão do Plátano (Rua Gen. João Manoel,627), no coração do Centro de Porto Alegre. A promoção é do POA INquieta Sustentável e do Galpão do Plátano e começará às 17h. Estarão presentes marcas como Colorê, Mudha, Tsuru, UmPraUm, Resto Zero, RGLOOR, 2B Comfy Wear e acessórios SilvAna.
Entre os principais objetivos do encontro é estimular a conexão entre empreendedores, consumidores e interessados em iniciativas com a pegada socioambiental. Com relação à vestimenta e acessórios, marcas gaúchas já estão ganhando destaque nacional através da Brasil Eco Fashion Week. Isso é resultado de ações e iniciativas para um consumo mais consciente no território gaúcho.
Para se ter uma ideia, há vários níveis e formas da preocupação com a sustentabilidade. A Colorê, por exemplo, foca o reaproveitamento de tecidos de descarte da indústria. Suas peças são produzidas no atelier em Porto Alegre, no estilo slow fashion. Confecciona peças exclusivas e diferenciadas através da união de retalhos.
Já a RGloor, surgiu com a intenção de oferecer roupas femininas de luxo com diferencial no design e caimento. A empresa se atém a origem das matérias-primas. Utiliza tecidos finos, como seda proveniente de casulos descartados da indústria têxtil, produzido em um tear artesanal em uma comunidade do Paraná. O tricoline e o crepe de viscose vem de uma empresa familiar paulista. E, quando há disponibilidade usa o algodão orgânico da Justa Trama(também de Porto Alegre).
Esta marca ainda tem vários outros diferenciais, pois a proprietária Rochele Gloor morou dez anos nos Estados Unidos, sendo oito em New York, onde fez bacharelado em design de moda na Fashion Institute of Technology (FIT) e se especializou em tricot computadorizado na Inglaterra. Ela coordena o projeto de inclusão social de costura, o Atelier da Cruz, em uma comunidade vulnerável da periferia. Uma porcentagem de suas vendas volta para esse grupo de mulheres na forma de projetos e manutenção do espaço.
A 2B Comfy Wear trabalha com peças confortáveis que servem para qualquer tipo de pessoa. A maior parte delas é feita em algodão 100% brasileiro e sua cadeia produtiva é totalmente local. Um dos diferenciais é que está iniciando um trabalho com tecidos eco da MR . As proprietárias Heloisa Herve e Bia Job tem ainda um comércio, Aloja, que reúne 18 marcas autorais gaúchas. Bia conta que tem muitos clientes fixos e que a procura por produtos ecofriendly tem aumentado.
Acompanho temas relacionados à proteção ambiental há quase 30 anos. Muita coisa mudou desde a Rio 92, Rio+20, enfim, momentos cruciais para repensar o desenvolvimento a qualquer preço. Hoje o consumidor está cada vez mais consciente do seu poder de escolha. E ninguém que tenha conhecimento e o mínimo de noção de responsabilidade vai querer comprar de quem utiliza trabalho escravo, degrada a natureza e gera resíduos para o poder público dar a destinação final. Acho que é a primeira vez na história que entrar na moda virou uma questão de nível de consciência planetária.
Sílvia Franz Marcuzzo
consultora em sustentabilidade, jornalista, facilitadora de grupos, mobilizadora de ações de um mundo em transição. Articuladora do POA INquieta Sustentável