Sociedade

Qual a importância do quintal de casa? Experiências no campo e na cidade afirmam a agroecologia

Por Daniel Lamir para o Brasil de Fato – 

“Em muito tempo esse quintal era algo que não tinha valor, onde se plantava as minúcias”

Uma das lições da agroecologia é ensinar a aproveitar bem cada pedacinho de terra. Isso significa que ter alimentos orgânicos e de qualidade pode estar mais perto do que você pensa, inclusive no quintal de sua casa. A área que também é conhecida “terreiro” ou “ao redor” da morada nem sempre é valorizada com o potencial cultural e produtivo que tem. Mas, pensando em contextos como agricultura urbana ou convivência com o semiárido, por exemplo, cada vez mais se percebe a importância dos conhecidos quintais produtivos.

Apesar de vez por outra passarem despercebidos pelas políticas públicas, casas com terrenos que produzem alimento podem garantir geração de renda, autonomia e fortalecimento da agrobiodiversidade.

A agricultora Sara Maria mora na área rural do município paraibano de Cubati. Ela afirma que o quintal produtivo dela é um espaço de terapia e de experimentação agroecológica. O trabalho produtivo é feito ouvindo o cantar dos pássaros ou vendo as cores de camaleões entre as árvores. Ao mesmo tempo, Sara explica que é no quintal produtivo que ela cria estratégias para conviver com os períodos de estiagem.

“Quando tem anos abundantes de chuvas, podemos plantar no roçado e ter lucro. Mas quando vem a estiagem é dentro do nosso quintal produtivo que conseguimos produzir e o excedente chega até a vender e trazer renda para dentro de casa”, afirma.

Uma das muitas utilidades do quintal de Sara é a utilização de sementes crioulas adquiridas em trocas com outras pessoas. / Foto: Arquivo pessoal

Saindo do Semiárido, podemos ver os quintais produtivos também na perspectiva do direito à cidade. No bairro de Passarinho, na zona Norte do Recife (PE), por exemplo, cerca de 30 mulheres participam de um projeto que realiza troca de saberes sobre quintais produtivos. O “Mulheres Urbanas: segurança alimentar e consumo consciente” é uma realização da organização Casa da Mulher do Nordeste, excetuando oficinas e intercâmbios para um consumo consciente e agroecológico na tradicional luta pelo à cidade no bairro de Passarinho.

Uma das mulheres que moram lá e cultivam um quintal produtivo é Vilma de Souza. Ela considera o espaço do terreiro dela reduzido, ao mesmo tempo que contar ter uma produção de 10 espécies de frutíferas, além de hortaliças e verduras. Vilma é do Recife, mas filha de agricultora de área rural. Ela conta que sempre produziu um quintal produtivo na área urbana do Recife, mas que o projeto ampliou os conhecimentos para buscar um consumo consciente.

“Através desse conhecimento eu sei lidar melhor com a terra, eu aprendi também a plantar muitas coisas, com fazer a poda, plantar, porque hoje em dia a maioria dos alimentos que compramos são industrializados, contém agrotóxicos. Então, você ter o privilégio e o prazer de ter algumas coisas em casa e colher do seu próprio quintal e também ajudar os seus vizinhos”, explica.

Tanto no campo quanto na cidade, culturalmente, há uma presença das mulheres no quintais produtivos. Graciete Santos, que faz parte da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), afirma que é preciso reconhecer essa ligação feminina com os quintais na hora da conquista de políticas públicas.

“Nós dos movimentos de mulheres e movimentos feministas temos provocado as políticas públicas, as organizações e os movimentos para dar luz a esse espaço como lugar de práticas agroecológicas, que garante a segurança alimentar das famílias, que é produtivo. Em muito tempo esse quintal era algo que não tinha valor, onde se plantava as minúcias, as coisas pequenas e a própria assistência técnica não reconhecia esse lugar”, destaca.

Sara Constância exalta carinho e cuidado com o quintal produtivo. / Foto: Arquivo pessoal

Pelo Brasil existem diversas experiências quintais produtivos no campo e na cidade. Há exemplos que contam com gestão coletiva e não estão ligados exclusivamente a uma residência. Uma escola, por exemplo, pode gerir um quintal produtivo. No Semiárido, uma das propostas do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Asa Brasil, é ampliar a quantidade de quintais produtivos na região.

Edição: Lucas Weber

#Envolverde