Por ONU Brasil –
Em uma terceira rodada de debates realizada em São Paulo no último sábado (22), cerca de 30 pessoas, entre elas refugiados, imigrantes e brasileiros, discutiram projetos de negócios voltados para solucionar problemas de estrangeiros que desembarcam no Brasil para reconstruir suas vidas.
Seis grupos vão apresentar iniciativas, já no formato de negócio inovador, a um corpo de jurados nos próximos dias 19 e 20 de novembro, na rodada final da iniciativa “Negócios Sociais”. O vencedor receberá uma consultoria do SEBRAE para o projeto se tornar realidade.
A série de workshops é uma iniciativa da organização não governamental Migraflix e tem o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), do Google e do SEBRAE.
Além de dar ferramentas para criar empreendimentos, os workshops têm como objetivo integrar brasileiros, refugiados e imigrantes e desafiá-los a propor ideias criativas e economicamente plausíveis para facilitar a vida de quem quer viver no Brasil.
Os seis projetos propostos vêm sendo aperfeiçoados desde o primeiro workshop, em 13 de agosto: uma plataforma na Internet para facilitar a busca de emprego; a montagem e distribuição de kits de boas-vindas em aeroportos; a recepção de refugiados em portos, aeroportos e pontos de fronteira; uma plataforma online para empresas recrutarem refugiados e imigrantes; outra para o compartilhamento de experiências, produtos e serviços entre refugiados imigrantes e brasileiros; e um banco de dados com oportunidades de hospedagem e moradia.
Refugiados empreendedores
Uma das mais entusiasmadas participantes do “Negócios Sociais” é a administradora de empresas Maha Mamo, que nasceu na Síria e passou a maior parte de sua vida no Líbano com sua família.
Maha jamais conseguiu ser reconhecida como cidadã desses dois países por razões religiosas e, refugiada no Brasil há dois anos, tornou-se uma das vozes mais vibrantes da causa da apatridia — pessoas que não são consideradas nacionais sob as leis de nenhum país. Por sua influência, seu grupo no workshop trata de uma das questões que mais a afligiu quando decidiu se refugiar no Brasil: a moradia.
“Recebi ordem de deixar o Líbano em 48 horas e, assim que consegui o visto para o Brasil, a única coisa que queria saber era onde eu iria dormir”, relatou. “Felizmente, antes de eu embarcar junto com meus irmãos, encontrei pelo Facebook uma família brasileira que aceitou nos hospedar, em Belo Horizonte”, completou Maha.
Já o grupo do engenheiro de telecomunicações Majd Soufan contribuiu para um dos projetos voltados para a recepção de refugiados nos pontos de chegada ao Brasil. “Todos precisam de informações básicas, como onde se abrigar, como encontrar água e comida, como solicitar o refúgio às autoridades, como conseguir um emprego”, explicou Soufan, que é refugiado sírio e vive no Brasil há três anos.
Na fase de busca por emprego, os refugiados no Brasil têm enfrentado o mesmo problemas que os brasileiros desempregados: a crise econômica. Mas, entre os vários empecilhos, os estrangeiros se ressentem dos burocrátivos processos de revalidação de diplomas. Diante disso, um dos grupos de empreendedores fixou-se em facilitar esse processo. Entre seus participantes, está o refugiado cubano José Angel Malbranche, que há um ano vive no país.
José Angel atua na sua área de formação: é graduado em Língua Inglesa, em Cuba, e trabalha como professor e tradutor desde que ingressou no Brasil. Mas não trouxe seu diploma, o que lhe causa entraves para se candidatar a um mestrado ou a um emprego em escolas. “Este workshop abriu a cabeça de todos nós e nos dá ferramentas para adotar projetos que vão ajudar muitas outras pessoas”, resumiu.
Ao avaliar o projeto de outro grupo, que pretende divulgar um folheto com informações básicas para refugiados recém-chegados ao Brasil, Alphonse Nyembo, da República Democrática do Congo, sugeriu a inclusão de um contato para auxílio psicológico imediato. “Os refugiados chegam muito abalados, têm medo do que vão encontrar no país que os acolhe. Quando uma pessoa é forçada a se deslocar devido à guerra, já está com problema psicológico”, comentou durante os trabalhos. (ONU Brasil/ #Envolverde)
*Publicado originalmente no site da ONU Brasil