Diferentes formas urbanas podem estar associadas a diferentes níveis de consumo energético – com um conhecimento rigoroso de todas estas dinâmicas, podemos planejar e gerir melhor”, explica Vítor Oliveira, um dos principais pesquisadores contemporâneos em morfologia urbana.
Em visita ao Brasil para participar de uma série de eventos cientificos, Oliveira aponta que a morfologia urbana – campo de estudo consolidado desde a década de 1970 no Brasil -, pode contribuir para o debate sobre o futuro das cidades e oferecer uma análise abrangente e aprofundada sobre como a organização espacial delas influencia a vida dos cidadãos. “As cidades brasileiras têm um conjunto de especificidades próprias, mas têm também uma série de forças e fragilidades partilhadas com países da América do Sul e do Sul Global, e também do Norte Global”, afirma.
Cidades resilientes
O pesquisador português é autor do livro “Morfologia Urbana: um estudo da forma física das cidades”, uma tradução inédita da PUCPRESS – editora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) -, referência para o estudo da forma física das cidades no Brasil. Resultado de anos de pesquisa do autor, a obra apresenta uma abordagem inovadora e multidisciplinar, explorando a interação entre a forma urbana e diversos aspectos da vida em sociedade, como o desenvolvimento social, o meio ambiente, a mobilidade urbana e a desigualdade social. “As nossas sociedades e cidades deparam-se com desafios fundamentais. Em algumas localidades, em pleno século XXI, as pessoas não têm acesso àquilo que há de mais básico – alimentação e água”.
Para Oliveira, a morfologia urbana desempenha um papel fundamental ao apontar estratégias para o enfrentamento dessas dificuldades – que ainda se depara com alguns desafios, como a tradução do conhecimento produzido em ações práticas de planejamento e gestão das cidades. “A morfologia urbana nos proporciona uma compreensão rigorosa do modo como a forma física da cidade (o modo como organizamos os sistemas de ruas, padrões de parcelamento e estruturas edificadas) influencia, por exemplo, o consumo de energia. De modo direto, essa influência passa pelos edifícios e pelas suas necessidades de arrefecimento, aquecimento e iluminação. De modo indireto, há uma influência da forma nos fluxos de transporte e nas nossas escolhas modais”, revela.
Segundo Jeremy Whitehand, geógrafo britânico, autor do prefácio e pesquisador de renome nos estudos em morfologia urbana, o livro “inspira tanto quanto informa”. Para Whitehand, a obra “oferece um tratamento sistemático dos atributos básicos da morfologia urbana e, nesse aspecto, é único entre os livros já publicados”.