Editorial da Edição 282 revista Eco 21 –
Sob a liderança da Ministra da Agricultura, Teresa Cristina, a Frente Parlamentar Ruralista da Câmara dos Deputados não demorou em aderir aos princípios básicos do Protocolo de Nagoya e votar a favor da ratificação desse importante Tratado Internacional da Convenção sobre Biodiversidade.
Os parlamentares ruralistas mais pareciam integrantes do Partido Verde do que das siglas políticas conservadoras que anteriormente lutavam contra o conteúdo do Protocolo. Mas o tsunami ambientalista do mês de Julho não se restringiu aos ruralistas, ele arrastrou uma parte importante dos empresários, dos ex-Ministros da Fazenda e dos Presidentes do Banco Central os quais lançaram duas Cartas Abertas convocando a lutar contra o desmatamento, as queimadas, e a preservar a biodiversidade brasileira, principalmente a da região amazônica.
Ambos os textos são lapidários em relação à política ambiental implementada pelo Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Não demorou muito e Salles lançou uma nova ofensiva a favor do desmatamento e das queimadas. Analistas políticos e ambientalistas afirmaram que o Governo Bolsonaro aproveitou a pandemia para “passar a boiada”, a expressão utilizada pelo Ministro Salles na célebre reunião ministerial do dia 22 de Abril.
De acordo com o levantamento da Folha de São Paulo em parceria com o Instituto Talanoa, foram publicados 195 atos relacionados ao Meio Ambiente no Diário Oficial da União, entre Março e Maio deste ano. No mesmo período de 2019, Bolsonaro assinou apenas 16.
Várias decisões de Salles foram contestadas pelo Ministério Público Federal e pela Justiça, tais como a reforma administrativa do ICMBio, órgão responsável pela gestão das Unidades de Conservação no país. Infelizmente, foram afastados especialistas em gestão ambiental os quais foram substituídos por militares. Uma verdadeira “boiada” para ninguém botar defeito.
Segundo estudo de Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado no dia 29/7, se afirma que, para apoiar uma recuperação após a pandemia de COVID-19, a região precisa urgentemente criar empregos decentes e construir um futuro mais sustentável e inclusivo. Segundo o BID, a transição para uma economia com zero emissões líquidas de carbono poderiam criar 15 milhões de novos empregos na América Latina e no Caribe até 2030.
O jornalista Bruno Lupion da Deutsche Welle escreve que “Nascida na contracultura, longe do poder econômico e político, a defesa de um ecossistema sustentável é uma bandeira cada vez mais empunhada pelos donos do dinheiro grosso, como fundos de pensão e de investimento. Além de novos atores, o ambientalismo financeiro tem novos motivos. Em vez do dever ético de preservar o Planeta para as próximas gerações, há o dever de assegurar rentabilidade e estabilidade a investimentos no longo prazo”. E isso é o que, felizmente, estão começando a entender os “donos do dinheiro grosso” do Brasil. “Temos um potencial enorme. É um ativo colossal para negociações internacionais, aberturas diplomáticas e desenvolvimento social, econômico e ambiental, e não um passivo a ser resolvido com serra e fogo”, afirma a economista Maria Eugênia Buosi.
Depois de muita pressão pública, o MMA cancelou duas “boiadas” que estavam nos atos assinados pelo Presidente Bolsonaro. Uma anistiava desmatadores da Mata Atlântica e a outra transferia o poder de concessão de florestas para o Ministério da Agricultura. A ratificação do Protocolo de Nagoya agora depende do Senado e do Presidente Bolsonaro.
Gaia viverá! Lúcia Chayb e René Capriles
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