Sociedade

Troncos de árvores mortas se tornam esculturas em parque de Burle Marx

Um coronel da reserva do Comando da Aeronáutica, psicólogo de formação, ambientalista e artesão em grande parte de seu tempo, Calistrato Salles Teixeira, ou Tatão como é conhecido, tem transformado a paisagem dos jardins do Parque da Cidade Burle Marx, em São José dos Campos. Cada tronco de árvore ao seu alcance se transforma uma imensa e bela escultura, com os mais diversos motivos temáticos.
“Quando eu era menino em Santa Catarina fazia brinquedos de madeira, os entalhes começaram mais tarde, nos anos 70”, comenta o artista, que ainda como instrutor de vôo da Aeronáutica, em seu tempo de espera nos aeroportos do país, levava um pequeno conjunto de ferramentas ia aperfeiçoando sua técnica nas horas de espera.
Morador desde 1985 na cidade, com uma passagem de quatro anos pelo Canadá, retornou ao Vale do Paraíba e encontrou o parque como um local apropriado para sua arte. A matéria prima vem da natureza, os troncos de árvores mortas, que Tatão conhece detalhadamente as características da espécie podendo inclusive avaliar o tempo que tinha de vida e a perenidade de suas esculturas.
As figuras entalhadas seguem um conceito de preservação ambiental e de aproveitamento do material disponível, inclusive o que a madeira propõe em termos de figura. Como um jacaré à espreita na mata, um leão com a boca aberta no caminho da Residência Olivo Gomes, um guerreiro africano e diversas outras num total de 10 peças. As obras estão sendo sempre recuperadas, pois ficam no tempo.
“Algumas já apodreceram, pelo menos duas delas passaram a motosserra e foram levadas por pessoas que trabalharam aqui, para protegê-las das intempéries”, ironiza Tatão sobre o sumiço das peças. Ele também estuda as espécies de aves existentes no Parque da Cidade, algumas muito raras e em perigo de extinção.
O costume de ir ao parque e observar a dinâmica da natureza, o fez a oferecer ao administrador da época a escultura de um gato em um galho caído. A perfeição da obra chamou a atenção e, desde esse momento, de tempos em tempos, ele cria uma nova figura ou restaura aquelas já criadas. O que tornou a arte de Tatão algo público e democrático, pois costuma fazer suas peças ao ar livre, espalhando suas ferramentas em troncos caídos que utilizava como mesa e sendo observado pelas pessoas.
“Eu trabalho com o que a natureza oferece, aliás, é ela quem me dá inspiração. Faço porque gosto mesmo. E é um desafio pessoal aperfeiçoar aquilo que a gente sabe fazer, isso é um hobby.”

Para o escultor suas peças existem para que as pessoas possam interagir com elas, tanto adultos e crianças. “Essas esculturas são feitas para as pessoas tocarem e as crianças empoleirarem-se. Ver uma criança se encantando com esses personagens me traz uma grande satisfação.”
A arte que reverencia a natureza fez de Tatão um dos defensores do Parque da Cidade. “Esse parque é um paraíso no que se refere aos bichos e aves. Temos que preservá-lo para que essa rica fauna permaneça aqui. Eu nunca mandaria cortar um cedro para fazer minha escultura, faço com o que a natureza me oferece dentro de seu ciclo de vida”, explicou.
(#Envolverde)