Sociedade

Um antisséptico bucal feito de chá verde

por Rita Stella, de Ribeirão Preto – 

Um antisséptico bucal à base de chá verde deve disputar espaço nas prateleiras de drogarias em breve. A fórmula do novo produto contém a catequina epigalocatequina-3-galato – substância extraída do chá verde, com comprovada ação antioxidante, antierosiva, anti-inflamatória, antimicrobiana, antitumoral e mineralizadora.

Por se tratar de um extrato natural, da planta Camellia sinensis, conhecida no mundo todo por seus benefícios à saúde, a catequina faz desse enxaguatório um substituto vantajoso aos existentes hoje no mercado. De acordo com pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, responsáveis pelo estudo, os antissépticos bucais mais recomendados trazem em suas fórmulas o digluconato de clorexidina, antimicrobiano eficiente, mas que não deve ser usado por longos períodos devido aos efeitos colaterais.

Produto com registro de patente confirmado é potente antimicrobiano de ação prolongada e atóxico – Foto: Wathriotu via Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0

Entre as ações indesejáveis causadas pela clorexidina estão a erosão e descoloração dos dentes e restaurações; alteração da cor da língua; descamação e sensibilidade oral, além de ser tóxica ao organismo. Com a utilização da catequina de chá verde, ao contrário, o antisséptico é atóxico, antierosivo e não causa malefícios à coloração dos dentes ou aos demais tecidos da boca.

Aparência do chá verde em três diferentes etapas (da esquerda para direita): a infusão das folhas, as folhas secas, e o líquido – Foto: Alessandro Martini via Wikimedia Commons / CC0

Os primeiros resultados da formulação atóxica e antimicrobiana do enxaguatório da USP foram confirmados por Marina Moscardini Vilela em sua dissertação de mestrado, orientada pela professora Andiara De Rossi e apresentada à Forp em 2015. As pesquisadoras verificaram que o antisséptico de chá verde possui as mesmas propriedades dos já comercializados: redução da placa bacteriana que pode causar cárie e gengivite e é eficiente também nas aplicações antes de cirurgias bucais. A indicação deve ser feita sempre por profissionais da área de saúde.

Folhas secas e moídas de chá verde – Foto: Editor at Large via Wikimedia Commons / CC BY-SA 2.5

Nanotecnologia potencializa ação antimicrobiana

Marina, que agora estuda o uso do enxaguatório por crianças em seu doutorado, conta que o grupo de pesquisa resolveu inovar e acrescentou a nanotecnologia às propriedades da catequina. Ana Paula Dias Moreno, também orientada pela professora Andiara, foi responsável pelo desenvolvimento das “nanopartículas com quitosana” – fibra natural extraída de carapaças de crustáceos (camarão, lagosta) do tamanho de uma molécula. A pesquisadora deu às nanopartículas o formato de nanocápsulas que envolveram a catequina do chá verde.

Esse encapsulamento conferiu propriedade mucoadesiva às partículas e aumentou o poder antisséptico do novo produto. As nanopartículas literalmente “grudam nas bochechas e outros tecidos da boca, liberando princípios ativos antimicrobianos”, diz Ana Paula.

Ao avaliar o produto final, Ana Paula garante que ele mostrou “resultados microbiológicos e físico-químicos positivos, com alta eficiência de encapsulamento, estabilidade, tamanho de partícula adequado e ainda potencial elétrico, que conferiu mucoadesão e possibilitou efeito residual com liberação sustentada do princípio ativo”.

A técnica que incorpora a catequina em nanopartículas “proporcionou o aumento da atividade antimicrobiana deste componente”, afirma a pesquisadora.

O estudo e o desenvolvimento desse produto contaram com a colaboração dos professores Sergio Luiz Souza Salvador, Priscyla Danielly Marcato Gaspari e Roberto Santana da Silva e das especialistas químicas Marina Constante Gabriel Del Arco e Juliana Cristina Biazzoto de Moraes, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP. O novo enxaguatório de chá verde teve pedido de patente confirmado em outubro do ano passado. (#Envolverde)

Publicado originalmente no Jornal da USP