por Lúcia Chayb e René Capriles, revista Eco21 –
Em 1848, Karl Marx e Friedrich Engels lançaram o Manifesto Comunista, um dos documentos políticos de maior influência em nível mundial. O primeiro parágrafo diz textualmente: “Um espectro ronda a Europa: o espectro do comunismo. Todas as potências da velha Europa aliaram-se numa sagrada perseguição a esse espectro”. 171 anos depois, se vivos fossem, Marx e Engels certamente atualizariam o Manifesto com esta redação: “Um espectro verde ronda a Europa: o espectro do ambientalismo e das mudanças climáticas.
Toda a juventude da velha Europa está unida numa aguerrida consecução desse objetivo; juntaram-se
a eles o Papa, vários Secretários-Gerais da ONU, líderes políticos europeus e os Partidos Verdes”. Ainda
parafraseando o Manifesto original, continuamos especulando: “O ambientalismo já é reconhecido como uma força por todas as potências europeias.
Já é tempo de os ambientalistas exporem abertamente, perante o mundo todo, sua maneira de pensar, os seus objetivos, as suas tendências, e de contraporem aos negacionistas das mudanças climáticas um Manifesto do próprio movimento”. E a resposta veio na voz de jovens como Greta Thunberg (Suécia), Anna Taylor e Holly Gillibrand (Reino Unido), Luisa Neubauer (Alemanha), Kyra Gantois, Anuna de Wever e Adelaide Charlier (Bélgica) e Alexandria Villasenor (EUA). Elas escreveram este Manifesto: “Nós, jovens de todo o mundo, não iremos à escola hoje para exigir dos adultos a responsabilidade por deter a mudança climática. (…) Hoje fazemos greve de Londres a Kampala, de Varsóvia a Bangcoc, porque os políticos nos decepcionaram. Presenciamos anos de negociações, acordos lamentáveis sobre a mudança climática, empresas de combustíveis fósseis com carta branca para abrir e perfurar nossas terras e queimar nosso futuro em benefício próprio. Vimos que as fraturas hídricas, a perfuração em águas profundas e as extrações de carvão continuam.
Os políticos sabem a verdade sobre a mudança climática e entregaram voluntariamente o nosso futuro a especuladores cuja ânsia por dinheiro rápido põe em perigo a nossa existência”. A voz dos adolescentes impactou o mundo político. Jean-Claude Juncker, Presidente da Comissão Europeia, após ouvir um discurso de Greta Thunberg afirmou que a Comissão investiria um quarto do orçamento da União Europeia na luta climática. Milhares de estudantes em toda Europa fizeram a greve estudantil. Imediatamente houve uma resposta de Angela Merkel; ela disse que “na Alemanha, os jovens estão protestando pela proteção do clima sem nenhuma influência externa, de repente tiveram a ideia de participar do processo climático”.
No dia 1º deste mês (Março) o The Guardian publicou uma Carta-Manifesto assinada pelo “Grupo de Coordenação Global da Greve Climática liderada por Jovens”. Nela eles dizem: “Nós, os jovens, estamos profundamente preocupados com o nosso futuro. A humanidade atualmente está causando a sexta extinção em massa de espécies e o sistema climático global está à beira de uma crise catastrófica. Seus impactos devastadores já são sentidos por milhões de pessoas em todo o mundo.
No entanto, estamos longe de alcançar os objetivos do Acordo de Paris. Os jovens representam mais da metade da população global. Nossa geração cresceu com a crise climática e teremos que lidar com ela pelo
resto de nossas vidas. Apesar disso, a maioria de nós não está incluída no processo de tomada de decisões local e global. Somos o futuro sem voz da humanidade. Nós não aceitaremos mais essa injustiça. Exigimos justiça para todas as vítimas passadas, atuais e futuras da crise climática, e assim estamos nos levantando. Milhares de pessoas saíram às ruas em todo o mundo. Agora faremos nossas vozes serem ouvidas.
No dia 15/3, protestaremos em todos os continentes. Finalmente, precisamos tratar a crise climática como uma crise. É a maior ameaça na história da humanidade e não aceitaremos a inação dos tomadores de decisão ameaçando a nossa civilização. Nós não aceitaremos uma vida com medo e devastação. Temos o direito de viver nossos sonhos e esperanças. A mudança climática já está acontecendo. Nós, os jovens, começamos a nos mexer!. Nós vamos mudar o destino da humanidade, quer vocês gostem ou não. Unidos vamos protestar até vermos implantada a justiça climática. Exigimos que os tomadores de decisões do mundo assumam a responsabilidade e resolvam essa crise”. Trata-se de uma verdadeira revolução; uma mudança de visão que está impactando o mundo todo e já atingiu à própria ONU. O Secretário-Geral, António Guterres disse: “Dezenas de milhares de jovens foram às ruas com uma clara mensagem: a de que os líderes mundiais atuem agora para salvar o Planeta e o nosso futuro diante da emergência climática.
Estes estudantes aprenderam algo que muitas pessoas mais velhas parecem não entender: estamos correndo contra o relógio pelas nossas vidas e estamos perdendo”. Com as greves dos estudantes ambientalistas e com o New Green Deal de Alexandria Ocasio-Cortez nos EUA, uma nova política está sendo gestada nesta Era do Antropoceno.
Gaia Viverá!
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