Sociedade

Washington Novaes segue seu caminho no universo

Por Dal Marcondes – 

O jornalista Washington Novaes morreu esta semana aos 86 anos. Deixou um legado de séculos em bom jornalismo, ética e valor humano

A palavra para definir a passagem do jornalista Washington Novaes pela Terra é “generosidade”. A tranquilidade foi a tônica de seu enfrentamento com os mais espinhosos temas do cotidiano do jornalismo e a forma incisiva e respeitosa como estruturava sua narrativa, sempre com dados e informações relevantes para o público e para os formuladores de políticas públicas. Acima de tudo, ele transformou suas pautas em deliciosas histórias e causos que contava com seu cantado sotaque goiano. Washington tinha para mim um sabor adicional, me lembrava de forma muito carinhosa meu avô goiano, Pergentino Sena.

Adorava encontrá-lo e puxar um dedo de prosa. Uma noite na sala de imprensa do Riocentro, durante a Rio+20 nos sentamos a um canto para conversar. Eu trabalhando para o Terra Viva, projeto da Agência IPS e ele escrevendo para o Estadão. Papo vai, papo vem e perguntei como estavam as coisas lá no jornal, afinal trabalhei na casa por quase 10 anos. Washington me contou que em sua última passagem por São Paulo resolveu ir até a redação conversar. Já tinha muito tempo que escrevia semanalmente para o jornal e a grana era sempre a mesma. “Cheguei e me mandaram para a sala de um rapaz, sentei de lado e fiquei ouvindo ele falar ao telefone. Depois de umas quatro ligações entrou uma moça, acho que secretária, e chamou para fora da sala. Ele me olhou e saiu.” Diante da pausa perguntei: E aí?

“Aí eu levantei e fui embora, do jeito que a conversa ia eu não ia conseguir aumento nenhum e ainda podia perder o que tinha, achei melhor não apostar”.

Logo que comecei com a Envolverde no final dos anos 1990 tinha uma enorme dúvida sobre a relevância do trabalho que estávamos realizando. Um amigo já tinha me dito que era uma loucura abandonar minha carreira como jornalista de economia para escrever sobre meio ambiente. Para mim a pauta ambiental e a pauta econômica sempre estiveram imbricadas, não há questão ambiental ou social que não tenha origem em uma decisão econômica, pensava, e ainda penso. Uma segunda-feira pego o jornal pela manhã e começo a ler o artigo do Washington Novaes. Lá pelas tantas leio: “segundo publicou a Agência Envolverde…” Daquele momento em diante tive a certeza de que estava fazendo a coisa certa. Washington se tornou um leitor assíduo do site e, com generosidade, nos autorizou a publicar seus artigos sempre na semana seguinte à publicação no Estadão.

Algum tempo depois, para o lançamento do documentário “Xingu, Terra Ameaçada”, uma espécie de continuação do trabalho “Xingu, Terra Mágica”, da década de 80, convidou um grupo de jornalistas para ir com ele ao Xingu, a uma aldeia Kuikuro, onde a estreia seria em primeira mão para os índios. Foi incrível participar daquele momento, poder assistir a relação de respeito mútuo entre os índios e aquele homem que fez da defesa dos povos indígenas, da biodiversidade e de um Brasil justo e menos desigual a luta de sua vida.

Dias atrás foi a vez de seu amigo Aritana Yawalapiti deixar o plano da Terra, tenho certeza de que agora os dois podem conversar em paz. Também vai se encontrar com outro grande amigo, o também jornalista Aloysio Biondi, de quem contava histórias. Uma vez me disse que negociou um salário para o Biondi ir trabalhar em Goiânia, mas quando chegou a hora de falar com o patrão o Biondi disse que o salário era muito alto, ficou com a metade.

Washington Novaes não está mais aqui, mas suas histórias e sua inspiração ficam! (#Envolverde)