Política Pública

Socorristas na Síria indicados ao Nobel da Paz

Um grupo de voluntários de defesa civil busca sobreviventes após um ataque com bomba de barril em Alepo, na Síria, em agosto de 2014. Foto: Shelly Kittleson/IPS
Um grupo de voluntários de defesa civil busca sobreviventes após um ataque com bomba de barril em Alepo, na Síria, em agosto de 2014. Foto: Shelly Kittleson/IPS

Por Lyndal Rowlands, da IPS  – 

Nações Unidas, 22/8/2016 – Os Capacetes Brancos da Síria, um grupo de voluntários conhecidos por resgatar civis de edifícios desmoronados, podem chegar à indicação “mais popular” da história do Prêmio Nobel da Paz, segundo a organização de direitos humanos Syria Campaign. Sua candidatura ao Nobel deste ano recebeu o apoio de 133 organizações e pessoas na Síria e no resto do mundo.

A organização criou,no começo desta semana,um site para reunir apoio público para a designação dos Capacetes Brancos da Síria. A iniciativa se concretizou após a dura semana vivida por essa brigada de voluntários,que cavam escombros durante uma infinidade de horas em busca de pessoas entre os restos dos prédios arruinados.

No começo da semana passada, Jaled Omar Harrah, uma das figuras mais conhecidas dos Capacetes Brancos, foi assassinado durante uma operação de resgate na cidade síria de Alepo. Harrah é o voluntário visto no vídeo do “bebê milagre”, que após 14 horas de escavação encontrou Mahmud, o bebê que havia ficado soterrado quando o prédio de três andares onde vivia com sua família desmoronou após um ataque aéreo.

“Jaled caiu exausto após nove horas de escavação”, recordou Anna, da Syria Campaign, ao relatar o dia em que Harrah resgatou Mahmud em um e-mail dirigido aos seus seguidores. “A equipe não acreditava que alguém tivesse sobrevivido. Ele tinha a cabeça apoiada em um monte de escombros quando ouviu o choro de um bebê vindo debaixo”, contou. Harrah pensou que fosse imaginação, mas seus amigos também ouviram, e então continuou escavando por horas até chegar a Mahmud, conseguindo salvar sua vida.

Esse bebêé um dos 60 milsíriosresgatados pelos Capacetes Brancos, cujo verdadeiro nome é Forças de Defesa Civil daSíria. Eles “não querem se unir a nenhum dos lados em luta e optaram por se unirem à defesa civil para fazer algo útil e significativo”, explicou à IPS Ole Solvang, subdiretor de Emergências da organização Human Rights Watch. O grupo é mais conhecido por suas operações de busca e resgate de pessoas, mas faz muito mais, destacou, após visitar os escritórios das Forças de Defesa Civil no começo da semana passada.

“Agora criaram duas equipes para eliminar artefatos que não explodiram, na maioria bombas de fragmentação”, que deixam meninos e meninas feridos, bem como adultos, quando as recolhem sem saber do perigo. Essa é uma tarefa de extremo risco para quem a realiza.Outra atividade importante do grupo é ajudar organizações como a HRW, com sede em Nova York, a registrar o tipo de arma utilizada na guerra na Síria, que já deixou 250 mil mortos e milhões de deslocados.

Isso também levou as Forças de Defesa Civil a pedirem ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) a proibição do uso de bombas de barril na Síria, um artefato explosivo improvisado, e por isso impreciso, cujas detonações são devastadoras. “O problema são os ataques indiscriminados com todo tipo de armas. Além de bombas de barril, vimos ataques indiscriminados com bombas regulares, lançamento de minas marinhas desde helicópteros e bombas de fragmentação e incendiárias. Na maioria são armas russas da época soviética”, explicou Solvang.

Mas esclareceu que o problema não é só o tipo de arma usada, mas como é usada, porque aumenta o risco para os civis. “A estratégia que vemos cada vez mais se conhece como dupla descarga, o avião lança uma bomba e após cinco ou dez minutos volta e lança outra, quando as forças de Defesa Civil e outras pessoas trabalham para tentar tirar as pessoas que ficaram presas nos escombros”, apontou Solvang.

“Frequentemente é esse tipo de ataque que acaba causando mais mortos e feridos porque as pessoas se aglomeram nessas áreas.É muito difícil não concluir que se trata de uma estratégia deliberada e que procuram eliminar as pessoas que se juntam em torno desse contexto”, ressaltou Solvang. Por isso, os Capacetes Brancos têm o que pode ser o trabalho mais perigoso do mundo.

“Nos entristeceu e horrorizou a notícia de que haviam matado Jaled Omar Harrah em Alepo”, afirmou à IPS Amanda Pitt, porta-voz do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) da ONU. “O grupo representa o melhor significado de ser um trabalhador humanitário”, destacou a Ocha.

Entre as organizações que apoiam a candidatura dos Capacetes Brancos para o Nobel da Paz estão Syrian Nonviolent Movement, Union Medical Careand Relief Organizations, Christian Aide Islamic Relief UK. O grupo também havia recebido apoio de Jo Cox, a parlamentar britânica assassinada em junho passado. Sua família escolheu os Capacetes Brancos entre as três causas que receberão fundos das doações recebidas em sua honra.

O ganhador do Nobel da Paz será conhecido no começo de outubro. A Fundação Nobel informou que este ano recebeu um número sem precedentes de indicaçõesao prêmio, 376 candidatos, mas não revela suas identidades nem confirma as designações, e somente comunicará o ganhador. Envolverde/IPS