Política Pública

Tecnologia digital a favor dos ODS

Por Fernanda Macedo*

Com um público ligado no que há de mais moderno no universo digital, o festival Campus Party trouxe soluções tecnológicas para a sustentabilidade.

Foto: Natália Torres/ Pnud Brasil

 

Em sua décima edição, o Campus Party se uniu ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para propor um grande desafio a seu público: desenvolver soluções tecnológicas para os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU, e também fomentar o empreendedorismo inovador.

Conhecida como a maior experiência tecnológica do mundo que reúne jovens geeks em um festival de inovação, criatividade, ciência e empreendedorismo, a Campus Party é um universo digital. Entre os dias 31 de janeiro e 5 de fevereiro no Pavilhão de Exposições Anhembi, em São Paulo, o festival recebeu cerca de 80 mil pessoas e proporcionou 700 horas de conteúdo em nove palcos temáticos, além das 100 horas dedicadas ao desafio do Pnud para os ODS, chamado The Big Hackathon.

A partir de uma palestra de abertura, realizada por Haroldo Machado Filho, assessor sênior do Pnud 1300 pessoas se organizaram em equipes para desenvolver soluções até o estágio de plataforma ou aplicativo minimamente funcional. Todos os projetos foram submetidos ao site Hackdash, que reúne todos os projetos do The Big Hackathon. No sábado 4 de fevereiro, os demos foram apresentados a cinco bancas avaliadoras que escolheram aos 20 finalistas.

Os 20 selecionados entre os 51 projetos submetidos ao The Big Hackathon foram: beparte, BestB4, Ciclo Pack, Ciibi (Cidade, Inclusão e Bicicleta), Dr. Nutrix, EconoKlean, Eleven Challenge, Empresar, Fiscaluno, HealthKeeper, HelpAZ, ME DEFENDA, mehelp, Moeda Solidária, PROJETO ALICE, Saving Sea, SOULVOX, Teto de Verde, ToComSede e WhoNeedStuff?.

Foram também concedidas menções honrosas a soluções que fossem mais transversais e atingissem mais ODS: BestB4, Health4U e Teto de Verde. A Health4U embora não estivesse entre as 20 melhores avaliadas pelos júri, conseguiu integrar de forma transversal os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e, por isso, recebeu a menção honrosa.

Os critérios considerados pela comissão formada por especialistas do Pnud foram a integração entre os ODS, a viabilidade financeira, a criatividade da solução, a escala que ela pode gerar, seu impacto social e uma avaliação sobre a tecnologia escolhida.

Mas, além de selecionar os melhores projetos, outra intenção do Pnud em realizar essa parceria é empoderar os jovens com a agenda dos ODS, considerando que eles são parte da solução. “O mais importante nesse momento é fazer a juventude pensar nessas soluções e também como a tecnologia pode servir para impulsionar o alcance dos ODS. Só de mil jovens terem ouvido falar em ODS já é um avanço para a gente. E o fato de estarem pensando como cada ODS se integra a outro, pensar até o nível de metas dos ODS e como tudo isso se reflete em uma solução tecnológica, é muito interessante”, comenta Beatriz Abreu, assistente em desenvolvimento sustentável do Pnud.

As equipes reúnem em média jovens de 16 a 35 anos, mas há pessoas mais experientes participando do desafio também. Ícaro Sousa, 21 anos, da equipe HealthKeeper focou no ODS 3, de bem-estar e saúde, para desenvolver a solução junto com seu time. Trata-se de uma plataforma de big data onde as ONGs que atuam na área de reabilitação cadastram seus pacientes e, por meio desses dados, é gerada uma plataforma de informações que será compartilhada por todas as organizações que trabalham nesse tema, facilitando o acompanhamento dos pacientes, economizando tempo no atendimento e gerando também um mapa da cidade com base nessas informações. “Esses dados vão circular pelas ONGs podem servir também para o governo, porque vamos fazer um mapeamento por big data que poderá descrever, por exemplo, uma região da cidade em que há maior consumo de um tipo de droga. E essas informações podem ser usadas na política pública”, comenta Sousa.

Edileusa de Andrade, da equipe que desenvolveu o Teto de Verde, trouxe com ela a inspiração inicial. Ela atuava no polígono das secas, entre o Piauí e a Bahia, para uma mineradora, e lá começou a trabalhar hortas para geração de renda. Nos debates com o grupo, percebeu que havia um grande potencial de aumentar o impacto social desta ideia. Decidiram então propor uma solução voltada para a construção de telhados verdes constituídos por hortas orgânicas. Em parceria com catadores e agricultura familiar, a cada horta vendida para o setor privado, metade da metragem seria replicada em uma comunidade de baixa renda, abrigo ou escola pública, para democratizar a alimentação saudável e orgânica a pessoas que não têm esse acesso.

Beatriz diz que alguns parceiros como incubadoras já estão procurando o Pnud para pensar o que pode ser feito como continuidade a este desafio tecnológico junto aos finalistas. Por enquanto, essa iniciativa dos ODS na Campus Party é uma experiência apenas no Brasil, mas Beatriz espera que seja algo replicável na ONU em outros locais.

“O engajamento das pessoas e as ideias que surgiram com o The Big Hackathon nos impressionaram muito e nos ajudou a ver que estamos no caminho certo ao aproximar mundos que teoricamente são tão distantes, como o do Terceiro Setor e o da tecnologia. Esperamos que os projetos que surgiram na Campus Party possam ganhar escala e ajudar a tornar o mundo mais justo e sustentável”, finaliza Tonico Novaes, diretor geral da Campus Party Brasil.

Confira abaixo um breve resumo dos três projetos que receberam a menção honrosa do Pnud e para mais informações sobre os outros 48 projetos acesse: https://hackdash.org/dashboards/bighack10

BestB4 – Um aplicativo que pretende conectar produtos mais baratos e de qualidade próximos ao vencimento a consumidores que buscam economia, consumo consciente e responsável.

Health 4U – Primeira plataforma de cooperação médica e atendimento especializado de saúde para suporte ao sistema público de saúde. O objetivo é conectar médicos de todo Brasil que se cadastrarão no app e oferecerão uma hora da sua semana para um atendimento voluntário em seu consultório, na sua clínica ou até na casa do paciente visando diminuir o fluxo de atendimento ao SUS e ajudando o Sistema a se manter ativo nesse período de crise econômica.

Teto de Verde – Construção de hortas orgânicas para espaços corporativos, com a intenção de harmonizar ambientes coletivos, incentivar o consumo de produtos orgânicos e uma relação solidária na produção do alimento. A solução traz também a replicação social, representada da seguinte forma: a cada horta vendida, outra idêntica é doada a um espaço social escolhido pelo cliente. Este processo envolve 14 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU porque é criado a partir de uma cadeia que estimula a geração de renda solidária, uma vez que os fornecedores serão cooperativas de catadores (que fornecerão o material a ser usado para montagem das estruturas), grupos de agricultura familiar (fornecedores de material orgânico, mudas, adubo e terra), além do olhar cuidadoso e profissional de mulheres refugiadas que trabalham na manutenção dos espaços.

(Página 22/ #Envolverde)

* Publicado originalmente no site Página 22.