por Samyra Crespo –
Os relatórios deveriam ser esperançosos. Afinal, a ciência da conservação vem avançando a passos largos: restauração de ecossistemas, reintrodução de espécies na natureza, santuários ecológicos e programas muito bem sucedidos de recuperação de espécies ameaçadas de extinção estão em curso, mostrando resultados alentadores.
Mas, infelizmente, não há o que celebrar: só no Brasil perdemos 22 milhões de hectares, a maior parte constituída de florestas nativas, áreas protegidas. E com a perda da mata, lá se vai a fauna.
A segunda notícia a me chamar a atenção foi o início do julgamento da mineradora responsável pela tragédia de Mariana há nove anos, em Londres, sede da empresa (inglesa-australiana).
Pode criar um precedente internacional importante na seara dos crimes ambientais, como foi o do Exxon-Valdez, décadas atrás.
Mostra também, para nossa vergonha, como a justiça brasileira é incompetente para lidar com os litígios ambientais, especialmente aqueles que devem punir empresas negligentes com as regras ambientais e com a segurança humana dos seus empreendimentos.
Mariana e Brumadinho são irmãos gêmeos na desgraça. A causa em julgamento deverá render reparação de bilhões aos prejudicados até hoje à espera de que a justiça seja feita. Vou acompanhar de perto esse julgamento que poderá mudar a história do direito ambiental.
A terceira notícia, alvissareira, é o anúncio da Conferência de Meio Ambiente em âmbito nacional, prática de participação que havia sido banida dos governos Temer-Bolsonaro.
Deverá ocorrer em dezembro próximo, após intenso processo de consulta a estados e municípios com protocolos de participação da sociedade civil. Todos os documentos da Conferência já se acham disponíveis no domínio gov.br
O tema é, oportunamente, ‘Emergência Climática’ e teremos então a chance de ampliar esse debate mais do que necessário, diante das sucessivas catástrofes a que temos assistido, despreparados e perplexos: queimadas em escalas nunca vistas, chuvas intensas com alagamentos, secas severas no país todo.
A Conferência, espera-se, deverá gerar importantes subsídios para a COP30 que ocorrerá no Pará no próximo ano.
A COP30 ganha foro de cúpula. Será uma das reuniões mais importantes do planeta com centralidade no tema que lhe é pertinente: as mudanças climáticas.
Há uma grande expectativa da comunidade ambientalista internacional de que o Brasil retome seu protagonismo na promoção do Desenvolvimento Sustentável.
E falei de uma conclusão. Qual poderia ser? O post abaixo a declara com simplicidade: como aprovar um modelo de produção e de organização da sociedade que extingue 73% da biodiversidade existente na Terra em 50 anos?
* Samyra Crespo é ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
(Originalmente publicado na Revista Eco-21)