Por Hiram Firmino *
Parece estar escrito, desde sempre, no dicionário da nossa travessia sobre a Terra: o que nos move, mesmo feito gado indo para o matadouro das mudanças climáticas, acelerando a colheita do que fazemos com a sua natureza, é a esperança. Quando estamos confusos e deprimidos, buscando um sentido na vida, seja em nós mesmos ou no que fazemos ao planeta, é ela que nos salva: a “velha” esperança, por nós compartilhada, de sobrevivermos. A confiança de que algo bom irá nos acontecer. De que quanto maior o desamor e a escuridão da noite, mais próxima está a chegada de um novo amanhecer, a luz de um novo amor, como poetizava Vinicius de Moraes.
É com essa crença que, apesar de nossa escolha preferencial pela dor, parece estarmos condenados a dar certo. Predestinados a evoluir sempre, tal como todas as espécies vivas do planeta.
É com esse pensamento de “re-acreditar” sempre na melhora natural do ser humano, que a Revista Ecológico acompanha, em mais uma edição especial sobre o “Dia Mundial da Água”, o desfecho/acordo federal que se esboça para enfrentar e sanar o ocorrido com a tragédia de Mariana. Um acordo de reparação ambiental de R$ 20 bilhões, seguido de governança pela própria Samarco, que causou o acidente, ninguém pode negar e tem o aval dos ambientalistas mais moderados: ele é melhor que a falta de acordo e governança alguma, vide o perigo desse dinheirão entrar nos cofres públicos e nada chegar ao Rio Doce.
Foi o que não aconteceu há 15 anos, na tragédia da Mineração Rio Verde, em Macacos, Nova Lima (MG), onde cinco operários morreram; e a Ecológico também recorda, com muita dor, nesta edição. Um recado comparativo dito pela própria ministra Izabella Teixeira, para se manter a eterna vigilância: “O modelo do nosso acordo com a Samarco só vai ser exitoso se tivermos o engajamento da sociedade”. É o chamado segundo passo que se espera do processo.
Caro leitor, você também vai conferir uma outra tragédia anunciada, muito maior e silenciosa, prestes a acontecer, segundo o professor, doutor em Arqueologia e especialista em Cerrado, Altair Sales Barbosa: o fim anunciado deste bioma brasileiro, o maior ecossistema da parte central de toda a América Latina, incluindo as veredas e os buritis de Guimarães Rosa.
Você vai saber ainda por que o arroto do boi no Brasil, hoje o maior criador de gado e exportador de carne do mundo, ameaça nos levar mais depressa ao inferno do aquecimento global.
Vai entender o que se passa na mente do “Cabeça da Terra”, como é chamado Ailton Krenak, um dos maiores líderes políticos e intelectuais dos povos indígenas no país.
E, por fim, para não perdermos de vez a velha esperança no mundo, no Brasil e em nós mesmos, vide a crise econômica e financeira que nos abate, além dos embates éticos e políticos, você vai reler o primeiro capítulo da série, acredite se quiser, de “O Segredo”, o best-seller de Rhonda Byrne, que publicamos originalmente na JB Ecológico, revista antigamente encartada no Jornal do Brasil.
No mais, é aguardarmos para ver se a nova novela da Rede Globo também irá tratar, mesmo de leve, mas de forma esperançosa e educativa, a questão ambiental. O nome do seu personagem principal diz tudo: é o Velho Chico mesmo! Quando ainda lhe havia água abundante, antes da sua degradação, como diria Drummond: 90% de água em seu curso e 80% nas almas das pessoas ribeirinhas.
É dele, do Velho São Francisco, um dos temas do “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, que também estaremos falando em nossa próxima edição, com a cobertura completa do evento, o registro de seus vencedores e recados de esperança hídrica.
Boa leitura! Até o dia 22, lua cheia de abril.
* Hiram Firmino é diretor-geral e editor da Revista Ecológico.