Ambiente

Restaurar 30% de áreas degradadas do planeta pode salvar 71% de espécies da extinção

Por Robson Rodrigues – 

Mata Atlântica está na zona de alta prioridade de restauração com rica biodiversidade, baixos custos de restauração e alto sequestro de carbono. Atualmente restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente

Um estudo global encomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU), feito por 27 pesquisadores de 12 países, mostrou que podemos salvar 71% de espécies da extinção restaurando apenas 30% dos ecossistemas degradados do planeta.

A pesquisa publicada na revista “Nature” é liderada pelo cientista brasileiro Bernardo Strassburg da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RIO) e mostrou ainda que esses ecossistemas podem retirar 466 bilhões de toneladas de gás carbônico do planeta, o que equivale a 49% de todo o acumulado desde a Revolução Industrial.

Para descobrir as principais regiões do globo em que os efeitos dessa restauração seriam otimizados, os pesquisadores levaram em conta todos os biomas: florestas, savanas, campos, zonas alagadas, desertos. Eles investigaram quais regiões degradadas do planeta devem ser preferencialmente recuperadas para maximizar os benefícios e minimizar os custos e concluíram que a restauração pode ser até 13 vezes mais eficaz quando realizada em áreas prioritárias. Para isso, combinaram três critérios: preservação da biodiversidade, sequestro de carbono (a retirada de gás carbônico da atmosfera) e os custos.

“Definir essas áreas prioritárias é importante porque, dependendo de onde a restauração acontece, os resultados podem ser bastante diferentes”, afirma Bernardo.

O estudo identificou um total de 2,9 bilhões de hectares de terras restauráveis. As áreas prioritárias estão em todos os continentes, das ilhas no Mar Báltico até a Terra do Fogo, no extremo-sul argentino. Também incluem todos os biomas, de florestas a desertos, que também têm importância para a biodiversidade.

Mata Atlântica

No Brasil, a Mata Atlântica é o bioma de alta prioridade global sob qualquer um dos critérios. “Seja para salvar as espécies da extinção ou para mitigar mudanças climáticas, e em particular para ambos simultaneamente, a Mata Atlântica é especial. Grande parte dela está na zona de alta prioridade de restauração da nossa escala”, destaca Bernardo Strassburg.

A floresta brasileira é um dos biomas mais biodiversos do planeta e fornece uma série de serviços ambientais, como água, alimentos, regulação do clima, abriga plantas com princípios ativos para a área da medicina, protege a fertilidade do solo, entre outras coisas. Mesmo assim a região foi a mais devastada do Brasil. Segundo dados do SOS Mata Atlântica, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente.

Uma das dificuldades em restaurar essa região é porque mais de 70% da população brasileira vive nessas áreas. São mais de 145 milhões de pessoas em 3.429 municípios. A quase completa destruição da Mata Atlântica se deve à ocupação e à super exploração.  Inicialmente para a extração do pau brasil, seguida do ciclo da cana-de-açúcar e café, implantação da pecuária, exploração de ouro e madeira. Por outro lado, Strassburg não considera que restaurar áreas degradadas atrapalhe o desenvolvimento de atividades econômicas.

“Essa ação não prejudicaria a agricultura. Podemos recuperar até 55% das áreas degradadas do planeta e ainda manter a produção agrícola atual, provavelmente com vários impactos positivos como conservação da água, solo e melhor polinização”, diz.

Imagem de destaque: Vinícius Mendonça_Ibama

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