O estresse e a ansiedade são dois dos principais fatores que levam ao aumento das doenças provocadas pela obesidade nos tempos atuais. Mas não só. De acordo com o médico neurologista Rogério Tuma, colunista de CartaCapital, o sedentarismo provocado pelas facilidades da vida moderna – como facilidade no transporte, na conservação e acesso aos alimentos graças a avanços na agricultura e na pecuária, e a oferta dos chamados fast food – é o que explica o alto índice de obesidade na sociedade atual.

“A ansiedade provoca descarga de adrenalina. E essa descarga nos deixa mais estimulados. O intuito dessa descarga é aumentar a quantidade de açúcar no sangue para que possa ser gasto. A única resposta que temos ao estresse é a resposta adrenal. Quando aumenta a adrenalina, o coração bate mais forte, a pressão sobe, o músculo recebe mais sangue, a gente respira mais rápido para se preparar para a fuga, ou para o ataque. Isso funcionava quando a gente tinha ameaça física. Vinha um bicho lhe comer, você corria, subia no coqueiro, o músculo tinha que estar bom, você esquecia até a dor. Isso servia para uma resposta física. Hoje a ameaça vem pelo telefone, pela televisão: cai a bolsa, sobe a bolsa. Você tem descarga de adrenalina, que prepara o organismo para um gasto energético, mas você fica parado no mesmo lugar”, explica o especialista.

“Ao mesmo tempo, percebemos o que é mais gostoso. O sabor dos alimentos fica na gordura. Essa gordura e o doce, em oferta abundante, fizeram com que essas pessoas geneticamente selecionadas passassem a acumular mais peso”, diz Tuma.

O especialista falou sobre o assunto numa série de entrevistas ao repórter Gianni Carta. O site de CartaCapital disponibiliza agora o primeiro dos três blocos da conversa. Assista:

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Leia a íntegra do primeiro bloco

Hoje a gente tem critérios científicos para definir isso. A gente define em índice de massa corpórea. Em determinado índice, há uma faixa normal. Fora dessa faixa, você tem o sobrepeso ou o obeso. Mas a média é baseada no IMC, o índice de massa corpórea.

Numa pessoa muito musculosa, o que você pode medir é a quantidade de tecido adiposo na pele. A pessoa musculosa não tem muito ganho de peso, em termos de massa muscular. O peso dos ossos também não tem interferência. O que tem peso é a gordura.

Acho que a maior causa da obesidade é uma associação entre uma seleção natural das pessoas no tempo em que a comida não era farta, junto agora com a oferta abusiva de alimento hipercalórico. O que eu acho é que, por milhares de anos, fomos selecionados. As pessoas que conseguiam comer pouco e com pouca comida armazenar como energia, para depois gastar, foram as pessoas que sobreviviam numa época em que a gente não conseguia alimento tão facilmente como consegue agora. Isso selecionou os seres humanos a ponto de que, as pessoas que vivem agora, são descendentes daquelas que tinham mais facilidade para acumular energia. E, com o avanço da tecnologia, do refrigerador, do transporte, dos métodos de agricultura, da pecuária, o alimento ficou mais fácil de ser adquirido. Ao mesmo tempo, percebemos o que era mais gostoso. O sabor dos alimentos fica na gordura. Essa gordura e o doce, em oferta abundante, fez com que essas pessoas geneticamente selecionadas passassem a acumular mais peso. O nosso organismo funciona bem aonde não tem oferta de comida. A gente percebe isso. Onde tem pouca comida, mas não a ponto de a pessoa ser desnutrida, tem um ganho na qualidade e na longevidade na vida. Onde tem muita oferta de alimento, as pessoas morrem antes.

No fast food, temos uma comida fácil de ser adquirida, fácil de ser mastigada e deglutida, e junto com o refrigerante, uma substância líquida de muito sabor e muito calórica, você faz uma refeição rapidamente, bem concentrada e com caloria exagerada.

A ansiedade provoca descarga de adrenalina. E essa descarga nos deixa mais estimulados. O intuito dessa descarga é aumentar a quantidade de açúcar no sangue para que possa ser gasto. A única resposta que temos ao estresse é a resposta adrenal. Aumenta adrenalina para bater o coração mais forte, a pressão sobe, o músculo recebe mais sangue, a gente respira mais rápido para se preparar para a fuga ou o ataque. Isso funcionava quando a gente tinha ameaça física. Vinha um bicho lhe comer, você corria, subia no coqueiro, o músculo tinha que estar bom, você esquecia até a dor. Isso servia para uma resposta física.

Hoje a ameaça vem pelo telefone, pela televisão: cai a bolsa, sobe a bolsa. Você tem descarga de adrenalina, que prepara organismo para um gasto energético, mas você fica parado no mesmo lugar. Ele desgasta o seu organismo e, dentro desse processo, a busca por mais açúcar aumenta a vontade de comer.

Vídeo e edição: Maria Clara Parada.

* Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.