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Brasil acelera ônibus de trânsito rápido

Ônibus articulado de trânsito rápido circulando pelo canteiro exclusivo em Curitiba, no Paraná. Foto: Mario Roberto Duran Ortiz Mariordo CC BY 3.0

 

Rio de Janeiro, Brasil, 29/5/2013 – O Brasil, e em especial a cidade do Rio de Janeiro, vivem um boom de ônibus de trânsito rápido (BRT, sigla em inglês), um sistema de transporte que já tem uma norma internacional de qualidade. Segundo a Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos do Brasil, há 113 projetos de BRT em 25 cidades, que representam 1.270 quilômetros de corredores. Até 2016 todos deverão estar funcionando.

“O BRT é a estrela do transporte sustentável. É uma solução ambiental e econômica para grandes cidades que têm muitos problemas de congestionamento”, disse à IPS a diretora no Brasil do Instituto de Políticas para o Transporte e o Desenvolvimento (ITDP, sigla em inglês), Helena Orenstein. Este sistema não exclui outras formas de locomoção, mas integra a malha de meios urbanos de transporte, afirmou. Porém, faltava uma definição comum.

O ITDP ajudou a formular um padrão de qualidade conhecido como BRT Standard, em associação com uma comissão de especialistas e diferentes organizações. Lançado em março, o BRT Standard analisa e pontua 32 itens divididos em seis categorias, com planejamento de serviços, infraestrutura, integração e acesso, entre outros, além de alguns que somam pontos negativos, como superlotação e pouca manutenção.

O resultado é uma ferramenta com parâmetros comuns de qualidade para avaliar os BRT em todo o mundo, além de orientar e estimular as melhorias destes meios de transporte, segundo Orenstein. “A ideia é que funcione com características de excelência e atenda os requisitos de segurança, conforto e funcionalidade. Já basta desperdiçar três horas por dia para se deslocar nas cidades”, acrescentou a diretora do ITDP, uma organização técnica não governamental que atua em vários países.

A certificação funciona como uma lista de verificação que soma ou diminui pontos, e é de fácil compreensão para autoridades, consultores e operadores. O BRT Standard pode conceder certificação de bronze (55-69 pontos), prata (70-85) ou ouro (85-100). A intenção é “certificar os BRT já implantados para corrigir falhas eventuais e premiar os bons exemplos”, afirmou a especialista. Pedro Torres, gerente de desenvolvimento urbano do ITDP, explicou que um comitê técnico revisará e atualizará anualmente a classificação resultante.

Em sua primeira edição, depois de um teste-piloto em 2012, foram analisados 67 sistemas de ônibus de trânsito rápido de 41 cidades de África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Colômbia, Equador, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, México e Peru. Deles, 12 receberam certificado ouro, 28 prata e 24 bronze. Os três restantes, dois da cidade norte-americana de Pittsburgh e um de Nova Délhi, na Índia, não conseguiram pontos suficientes para o bronze, mas cumpriram requisitos mínimos para serem considerados “BRT básicos”.

Entre os que mereceram ouro, encabeçam a pontuação o GBRT de avenida Zhongshan, na cidade chinesa de Guangzhou, quatro serviços do Transmilenio de Bogotá, e a Linha Verde de Curitiba, a cidade brasileira que em 1974 foi pioneira mundial neste tipo de transporte coletivo. “Foi uma experiência muito positiva. É uma oportunidade para que a sociedade, os governos e as empresas contem com uma ferramenta pública de avaliação e monitoramento dos projetos”, destacou Torres à IPS.

O presidente da Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos do Brasil, Otávio Cunha, saudou a iniciativa do BRT Standard e disse que a entidade divulgou entre seus filiados os itens avaliados. “Defendemos a construção de corredores como alternativa de transporte sustentável e com melhor relação custo-benefício. A ideia de ter uma norma de qualidade é boa”, afirmou à IPS.

O trânsito gera estresse, eleva a quantidade de acidentes e é motivo de uma “deseconomia”, uma retração econômica em razão do desperdício de combustível e de tempo destinados à locomoção, pontuou Cunha. “O Brasil vive uma crise de mobilidade e uma grande deseconomia na vida das cidades em função do trânsito. Os corredores de ônibus podem tornar a viagem mais rápida. O BRT é uma nova concepção de transporte público de superfície, e está inspirado nos requisitos de excelência dos metrôs”, ressaltou.

Em um corredor exclusivo é possível transportar dez mil passageiros por hora em ônibus, e apenas 750 em automóveis. Um ônibus pode se encher de passageiros em apenas 15 segundos antes de deixar o ponto. Em muitas cidades o intervalo entre os ônibus pode chegar a 20 segundos, o que o torna mais eficiente. Nos BRT do Brasil esse tempo chegará a dois minutos, informou Cunha. E um ônibus cheio de passageiros pode tirar de circulação 120 automóveis, acrescentou.

Outros benefícios são redução nas emissões de gases-estufa procedentes do transporte. O BRT da Cidade do México, que tem 20 quilômetros de extensão, reduziu em 80 mil toneladas por ano o volume de dióxido de carbono dessa fonte, segundo o ITDP. Embora os BRT tenham seus custos e seu tempo de construção, são muito menores do que os de uma linha de metrô, que pode exigir até dez anos. Construir e equipar dez quilômetros de BRT consome, em média, 18 meses, e uma quantia dez vezes menor do que um metrô.

Os 113 projetos de BRT em 25 cidades do Brasil correspondem a 30% do total de ônibus rápidos que já funcionam em todo o mundo, segundo estimativas da Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos do Brasil. O governo investiu ou está investindo cerca de US$ 6 bilhões. Até o final de 2013, serão incluídos mais projetos em cidades médias e se chegará a um valor total de quase US$ 9 bilhões.

A cidade do Rio de Janeiro conta com quatro novos projetos: o Transcarioca, de 39 estações, a ser inaugurado em dezembro com custo de US$ 900 milhões; o Transbrasil, de 25 estações, começou a ser construído em 2012 ao custo de US$ 600 milhões; o Transoeste, de 64 estações, concluirá sua segunda fase em agosto com custo de US$ 380 milhões; e a Transolímpica, de 18 estações, que deverá começar a funcionar em janeiro de 2016 e custará US$ 1,1 bilhão.

Na classificação BRT Standard, o Transoeste recebeu ouro, apesar de apresentar problemas de superlotação e da precariedade do asfalto em alguns trechos dos corredores. Como contrapartida, indicou Torres, o tempo médio de viagem que era de duas horas caiu pela metade, e o serviço oferece unidades novas, com ar-condicionado, câmeras internas, acesso fácil e horários frequentes. O Transbrasil promete ser um dos maiores corredores rápidos do mundo em quantidade de passageiros, cerca de 820 mil por dia, segundo o projeto. Envolverde/IPS