Os sonhos e dilemas dos grandes executivos são tão importantes para a construção de uma economia inclusiva, verde e responsável quanto os números apresentados nos balanços trimestrais.
O jornalismo tem papel fundamental na construção de uma cultura de sustentabilidade e para dar às empresas, à sociedade e aos gestores públicos o sentido de urgência necessário para transformações na forma de produzir, nos modelos de gestão e nos produtos e serviços que são oferecidos ao mercado. Mais, a mídia é o elemento capaz de dar escala a essas mudanças, por meio de uma abordagem de temas econômicos que privilegie valores que vão além da mera remuneração dos acionistas, mas que também beneficiem a sociedade. Muita gente está trabalhando para essas mudanças, inovando na gestão de empresas, na criação de produtos e na elaboração de leis que ajudam a induzir processos econômicos verdes e capazes de levar a bilhões de pessoas direitos que hoje são considerados universais, mas estão longe de ser universalizados, como educação, saúde, trabalho e muitos outros.
Para o vice-presidente do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, é importante que mais jornalistas tenham a compreensão de que a sociedade, com seus múltiplos atores, precisa ver refletidos nos meios de comunicação as mudanças que já estão ocorrendo. As práticas que reforçam a capacidade das empresas e países de se reinventarem, de criarem uma economia que não dilacere o planeta comprometendo o futuro. Para ele existem pontos fundamentais e que devem ser encarados não apenas pelas empresas e organizações sociais envolvidas no debate pela sustentabilidade, mas por toda a sociedade, o que inclui a mídia. “É preciso olhar para a realidade e ver onde já há avanços, e onde queremos ir em cada um dos desafios ambientais, sociais e econômicos. Mais do que isso, é importante identificar os gargalos que impedem as mudanças, que podem ser tecnológicos, culturais ou institucionais, e trabalhar para construir soluções”, explica.
O Instituto Ethos vai realizar nos dias 8 e 9 de agosto, junto com mais de 30 organizações parceiras, sua Conferência Internacional 2011, um espaço para se elaborar propostas sobre como avançar na implantação de uma economia verde, com menor impacto ambiental, tanto no consumo de recursos naturais, como em emissões de carbono. No entanto, segundo seu vice-presidente, apenas mudar processos e produtos, não é o suficiente, “essa mudança deve vir incorporando a dimensão da inclusão, da redução da desigualdade, da eliminação da miséria, porque isso não é automático”, diz ele. “Corremos o risco de trocar os produtos e ficarmos com as mesmas poucas pessoas com acesso a eles”, explica, reforçando a necessidade de um modelo que consiga incluir os nove bilhões de habitantes que a Terra deverá abrigar em 2050. E, para isso, as pessoas, empresas e governos precisam de um ambiente econômico que valorize esses objetivos.
A Conferência deve abordar 17 temas estruturais para uma arquitetura de mudanças, passando por Energia, Direitos Humanos, Resíduos Sólidos, Trabalho Justo. O foco das discussões já contemplará a Rio+20, momento em que o Ethos espera contribuir com propostas concretas para a criação desse ambiente econômico indutor da sustentabilidade. “É uma oportunidade para os jornalistas se aprofundarem nos temas, mas também conhecerem alguns dos atores que são parte dessa mudança”, explica Itacarambi. Para ele, o espaço da Conferência Ethos será um ambiente privilegiado para buscar fontes sobre os mais diversos assuntos. “Já estão confirmadas a presença de nove ministros e de presidentes de dezenas de empresas”, conta.
Mas o que perguntar para estas pessoas? Como abordar os velhos temas da economia sob a ótica da sustentabilidade, da inclusão e da construção de um futuro onde biodiversidade e terra sejam aliados, onde cada habitante do planeta tenha sua dignidade reconhecida? Itacarambi dá a dica: “Eu gostaria de saber o que essas pessoas pensam a respeito do futuro, quais são suas dúvidas e seus dilemas?” Para ele, o amanhã da sociedade está muito ligado ao que pensam executivos e governantes. Portanto, o que eles acham sobre o futuro é fundamental para se entender a direção que vão imprimir com suas decisões estratégicas e cotidianas. Não se trata de esquecer os rituais da velha economia, que tem de dar resultados nos balanços trimestrais, mas sim de incluir outros valores, que privilegiam processos amigáveis com a natureza e valorizam os serviços ecossistêmicos, além de ter a humanidade como beneficiária de tudo isso.
* Especial para o Instituto Ethos.