ODS 13

Estudo aponta que desastres climáticos relacionados a chuvas mais que triplicaram nesta década

O número de desastres relacionados a chuvas subiu de 2.335 na década de 1990 para 7.539 no período de 2020 a 2023 - Ainda na metade, a atual década já tem o dobro de pessoas afetadas pelo fenômeno, grande parte em razão do desastre no Rio Grande do Sul, comparado com o período de 2010 a 2019 - Prejuízos econômicos são 123 vezes maiores do que na década de 1990, chegando a R$ 132 bilhões entre 2020 e 2024 - Números são do segundo volume da série de publicações Brasil em Transformação, da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, para alertar sobre as consequências das mudanças climáticas no Brasil - Soluções Baseadas na Natureza são apontadas como estratégia sustentável para centros urbanos

Estudo aponta que desastres climáticos relacionados a chuvas mais que triplicaram nesta década
por Fundação Boticário –

Os desastres climáticos causados por chuvas intensas no Brasil aumentaram 3,2 vezes nesta década. Entre 2020 e 2023, foram registrados 7.539 eventos desse tipo, um salto em comparação com os 2.335 ocorridos ao longo de toda a década de 1990. Os dados são de um estudo inédito da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, coordenado pelo Programa Maré de Ciência da Universidade Federal de São Paulo, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a UNESCO e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A publicação “Temporadas das Águas: O Desafio Crescente das Chuvas Extremas” faz parte da série Brasil em Transformação, que busca alertar a sociedade sobre os impactos e consequências das mudanças climáticas no Brasil.

De acordo com o relatório, o aumento das chuvas extremas é atribuído às mudanças do clima e tende a se intensificar ainda mais. Desde 1991, foram registrados 26.767 eventos desse tipo no Brasil, com um crescimento acentuado a partir dos anos 2000. A partir de 2020, a média anual de registros foi duas vezes maior do que a da década anterior (2010-2019) e 7,3 vezes superior à da década de 1990.

O regime pluviométrico apresenta uma tendência de aumento de 30% de chuvas nas regiões Sul e Sudeste, enquanto as regiões Norte e Nordeste podem registrar uma redução de até 40% até o final deste século, em 2100, segundo dados do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). Outro dado, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), alerta que a disponibilidade de água no Brasil pode reduzir em até 40% até 2040. 

Os meses de verão concentraram 44% dos registros de desastres climáticos relacionados às chuvas no Brasil nas últimas três décadas, especialmente nas regiões Sudeste e CentroOeste. No entanto, esse padrão varia entre as diferentes regiões do país. No Norte e Nordeste, além do verão, há um aumento significativo de ocorrências durante o outono. No Sul, o outono registra o maior número de desastres, embora eventos extremos sejam frequentes ao longo de todas as estações.

O número de municípios brasileiros afetados por desastres relacionados às chuvas também aumentou. No total, 4.645 cidades já enfrentaram algum tipo de evento extremo associado às precipitações. A proporção de locais impactados subiu de 27% nos anos 1990 para 68% nos anos 2000, atingindo 83% na atualidade. Além disso, 2.307 novos municípios foram afetados pela primeira vez na década de 2000, e, na atual, mais 328 municípios passaram a figurar nesse cenário.

Os desastres climáticos relacionados às chuvas estão diretamente relacionados à passagem de frentes frias. Um relatório do Projeto Com-ANTAR revelou um degelo recorde na cobertura de gelo marinho durante o período de 2023-2024, destacando também a influência das partículas de fuligem provenientes das queimadas no Brasil sobre o gelo marinho da

Antártica. Essas partículas escurecem o gelo, reduzindo sua capacidade de refletir a luz solar e acelerando seu derretimento. Esse processo impacta diretamente o ciclo das chuvas e contribui para a elevação do nível do mar.

Entre 1991 e 2023, a maioria dos desastres climáticos relacionados às chuvas no Brasil esteve ligada a eventos hidrológicos (64%) e meteorológicos (31%). Dentro do grupo de desastres hidrológicos, as enxurradas foram as mais frequentes, representando 55% dos registros, seguidas pelas inundações (35%). Já entre os desastres meteorológicos, as chuvas intensas foram responsáveis por 75% dos casos. Os desastres geológicos, embora menos representativos, tiveram os deslizamentos de solo como principal ocorrência, correspondendo a 91% dos registros desse grupo.

91,7 milhões de pessoas afetadas

Entre 1991 e 2023, aproximadamente 91,7 milhões de pessoas foram impactadas por desastres climáticos relacionados às chuvas no Brasil, o que representa um aumento de 82 vezes em comparação com os anos 1990. Naquela década, cerca de 400 mil pessoas foram afetadas, mas entre 2020 e 2023 esse número disparou para 31,8 milhões. Em 2024, o desastre no Rio Grande do Sul causou impacto em 2,4 milhões de moradores, elevando a média anual de afetados para 6,8 milhões, quase o dobro da média registrada na década anterior (3,8 milhões).

“Esse aumento não apenas evidencia a crescente frequência, mas também a gravidade dos desastres climáticos relacionados às chuvas, que têm gerado um número cada vez maior de vítimas e danos materiais em todo o país. Esses dados reforçam a necessidade urgente de implementar medidas de prevenção e adaptação, visando proteger as comunidades vulneráveis e mitigar os impactos desses eventos extremos”, explica Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

Além dos impactos imediatos, os desastres relacionados a chuvas causaram sérios danos à saúde e ao bem-estar da população. Cerca de 90% dos indivíduos impactados sofreram danos adversos, incluindo traumas psicológicos que podem resultar em incapacidades temporárias ou permanentes. Aproximadamente 654 mil pessoas ficaram feridas ou doentes, enquanto 8,7 milhões de pessoas foram desabrigadas ou desalojadas. Os desastres também resultaram em 4.247 mortes, o que representa 86% de todas as fatalidades causadas por desastres climáticos no Brasil. 

Prejuízos econômicos

Entre 1995 e 2023, os prejuízos econômicos causados por desastres climáticos relacionados a chuvas no Brasil totalizaram R$ 146,7 bilhões. Somente entre 2020 e 2023, as perdas chegaram a cerca de R$ 43 bilhões, valor 40 vezes superior aos R$ 1,1 bilhão registrados na década de 1990. Com as perdas do desastre no Rio Grande do Sul, em 2024, estimadas em R$ 88,9 bilhões, o total de prejuízos nesta década – somados aos R$ 43 bilhões de 2020 a 2023 – já alcança cerca de R$ 132 bilhões, o dobro dos R$ 68 bilhões registrados na década anterior (2010-2019) e cerca de 120 vezes maior do que na década de 1990.

A maior parte dos prejuízos (83%) é de origem privada, com destaque para a agricultura (47%) e o comércio (30%). Já os prejuízos públicos somaram R$ 24,4 bilhões, com o transporte (52%), saneamento básico (28%) e ensino (8%) sendo os setores mais impactados.

Soluções

De acordo com Juliana Baladelli Ribeiro, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário, é fundamental priorizar investimentos em políticas de prevenção e adaptação. “Medidas como um planejamento urbano adequado, a adaptação dos centros urbanos e sistemas de alerta meteorológico eficazes têm o potencial de salvar vidas e reduzir significativamente os danos materiais. As Soluções Baseadas na Natureza devem ser implementadas como estratégia sustentável nos centros urbanos, associadas a ações convencionais de forma complementar”, afirma.

Chamadas de SBN, essas soluções podem ser aplicadas em diferentes escalas. Em nível local, intervenções como jardins de chuva, biovaletas e vias verdes ajudam a reduzir o escoamento superficial e a aumentar a infiltração da água no solo, diminuindo a pressão sobre os sistemas tradicionais de drenagem. Já parques lineares ajudam a manter um espaço seguro ao longo das margens dos rios para que a água possa transbordar em casos de chuva intensa, sem trazer transtornos à população, inundando apenas a área do parque.

O estudo

A publicação “Temporadas das Águas: O Desafio Crescente das Chuvas Extremas” compõe o segundo volume da série “Brasil em Transformação: O Impacto da Crise Climática”. O primeiro, chamado de “2024: O Ano Mais Quente da História, também evidenciou o aumento no número de desastres climáticos no Brasil, assim como o crescimento dos danos humanos e prejuízos econômicos associados ao aquecimento global. O estudo usou como base os registros de desastres do Sistema Integrado de Informação sobre Desastres (S2ID), do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, no período de 1991 a 2023.

IMPACTOS DAS CHUVAS NO BRASIL DE 1991 a 2023 
Impacto social91,7 milhões de pessoas afetadas
4.247 mortes: 86% dos casos relacionados a desastres climáticos no Brasil 
8,7 milhões de desabrigados ou desalojados: 94% dos casos relacionados a desastres climáticos no Brasil 
Danos materiais34,6 milhões de bens e infraestrutura danificados ou destruídos
Mais afetados: Obras de infraestrutura (90%) e Habitação (8%)
Prejuízos econômicosSetor público: R$ 24,4 bilhões: transporte (52%) e saneamento básico (22%)
Setor privado: R$ 122,3 bilhões: agricultura (47%) e comércio (30%)

Sobre a Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica

É uma rede de Municípios, Estados, instituições privadas e sociedade civil organizada, engajada e mobilizada na implementação de ações locais alinhadas às metas nacionais e globais da Década do Oceano, com foco na promoção da Cultura Oceânica para o desenvolvimento sustentável, em um processo crescente para a construção de Cidades Azuis. Site: https://alianca.maredeciencia.eco.br/ | Redes sociais:@maredeciencia

Sobre a Fundação Grupo Boticário

Com 35 anos de história, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para conservar o patrimônio natural brasileiro. Com foco na adaptação da sociedade às mudanças climáticas, especialmente em relação à segurança hídrica e à proteção costeira, a instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada em todos os setores. Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, considera que a natureza é a base para o desenvolvimento social e econômico do país. Sem fins lucrativos e mantida pelo Grupo Boticário, a Fundação Grupo Boticário contribui para que diferentes atores estejam mobilizados em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou mais de 1.800 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas reservas naturais de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil pelo desmatamento –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com 1,4 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A instituição é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador e presidente do Conselho do Grupo Boticário, criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. | www.fundacaogrupoboticario.org.br | @fundacaogrupoboticario (Instagram, Facebook, LinkedIn, Youtube, TikTok).

Sobre a Rede de Especialistas em Conservação da Natureza

A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) reúne cerca de 80 profissionais de todas as regiões do Brasil e alguns do exterior que trazem ao trabalho que desenvolvem a importância da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. São juristas, urbanistas, biólogos, engenheiros, ambientalistas, cientistas, professores universitários – de referência nacional e internacional – que se voluntariaram para serem porta-vozes da natureza, dando entrevistas, trazendo novas perspectivas, gerando conteúdo e enriquecendo informações de reportagens das mais diversas editorias. Criada em 2014, a Rede é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores. Acesse o Guia de Fontes em www.fundacaogrupoboticario.org.br

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