Por Livia Lie –
Indígenas brasileiros e 350.org se manifestaram neste domingo (08/12) próximos à sede da petrolífera Repsol em Madrid contra o uso de combustíveis fósseis, pedindo um “mar sem petróleo”.
O protesto ocorreu na capital espanhola, sede da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP25), na qual, na opinião da diretora da 350.org na América Latina, Nicole Oliveira, “não se está a falar do petróleo, nem das catástrofes ecológicas como o derrame de 10.000 toneladas de óleo na costa brasileira”.
Foi a primeira vez que a imprensa europeia cobriu a notícia sobre do derramamento de óleo nas praias brasileiras, que afetam mais de 900 localidades e continua a atingir a costa brasileira de norte a sul do país. O assunto não é de conhecimento global e o governo brasileiro “não assume qualquer responsabilidade”, afirmou Nicole.
A ativista acrescentou que as tarefas de limpeza estão a cargo de voluntários e de pessoas que utilizam o mar como forma de subsistência e que estas pessoas estão colocando suas vidas em risco devido à alta toxicidade do petróleo.
“Não culpamos a Repsol pelo vazamento de petróleo“, disse a ativista, que justificou a escolha da sede da petrolífera espanhola por ser uma das empresas que explora no Brasil. Entretanto, a Repsol é mais uma das empresas de óleo que estão re-colonizando a América Latina, a África e o Sudeste Asiático.
“Nós estamos enfrentando uma re-colonização na América Latina pelas companhias de óleo. Companhias de Portugal estão investindo em Moçambique, Angola e Brasil. A Repsol está investindo no pré-sal perfurando o nosso oceano. E esse é o motivo de grandes desastres que estão impactando comunidades que dependem do mar. E é por isso que estamos aqui em frente. Para lembrá-los que são muitas vidas que estão sofrendo com as ações deles.”, completou Nicole.
O protesto foi acompanhado por indígenas brasileiros vestidos com trajes tradicionais e também por ativistas espanhóis e europeus, empunhando cartazes onde pediam um “mar sem petróleo”.
“Nós estamos aqui representando todos os povos indígenas e tradicionais ligados com o mar: indígenas, pescadores, marisqueiras, caiçaras, todos nós somos a extensão da natureza e merecemos respeito à nossa cultura, respeito ao nosso meio de vida. Quando empresas perfuram para extrair petróleo elas estão ferindo a mãe natureza e o resultado é devastador para nós“, afirmou Andreia Takua Fernandes, coordenadora do Programa Indígena da 350.org e presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena do Litoral Sul (Condisi Litoral Sul) e coordenadora do Fórum de Presidentes de Condisi (FPCondisi) Nacional.
Voz Indígena na COP 25
A principal demanda da 350.org, no Brasil e América Latina (AL), na COP-25, é que as vozes dos mais impactados pelas mudanças climáticas estejam no centro da tomada de decisão de como nós vamos conter o Aquecimento Global em 1,5 graus.
No último dia 6, a ONG fez o lançamento de um documentário “Vozes Indígenas da América Latina: Somos o Documento da Terra” que pode ser assistido gratuitamente aqui:
“Os mais impactados são comunidades indígenas, ribeirinhas e pescadores artesanais. Todas estas pessoas têm uma relação de defensores climáticos e ao mesmo tempo dependem mais diretamente do meio ambiente para sua sobrevivência; e não os poluidores, que integram a indústria fóssil. Por isso, estamos levando como convidadas algumas vozes indígenas da região para serem ouvidas. Esta é a nossa prioridade”, destaca Nicole Oliveira, diretora da 350.org na região.
Sobre a 350.org e as mudanças climáticas
A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.
Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima. Mais uma vertente das iniciativas apoiadas pela 350.org é da conjugação entre Fé, Paz e Clima.
Livia Lie – Digital Campaigner da 350.org América Latina.
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