ODS 13

O país pegando fogo: Marina fala em terrorismo climático

Queimada na Amazônia

por Samyra Crespo* –

Ontem como muitos brasileiros, assisti à cobertura feita pelas principais televisões brasileiras sobre as queimadas.

Em especial, vi o programa Cidade & Soluções da Globo News, com André Trigueiro que coletou depoimentos de vários especialistas climatologistas, com destaque nessa edição vista, para Paulo Cartaxo, cientista e especialista da USP.

Em seguida ao programa, foi ao ar um pronunciamento da Ministra Marina Silva que alegou estarmos sofrendo um ataque orquestrado, antiambientalista de ‘terrorismo climático’.

Se for verdadeiro, gravíssimo, exigindo medidas drásticas de contenção e punição para os incendiários. A Polícia Federal admite que mais de 90% dos incêndios são criminosos.

A ministra chegou a comparar os focos de incêndio provocado ao ‘8 de janeiro’: uma tentativa de desestabilizar o país.

Da cobertura vista ontem, e do acompanhamento que faço pela imprensa, sobretudo pela imprensa independente ou ambientalista, alguns anúncios ficam evidentes e merecem a atenção das autoridades:

1. Os Estados e municípios não contam com um aparato suficiente (em máquinas e recursos humanos) para prevenir ou combater o fogo;

2. Tampouco o Ibama, agência ambiental nacional;

3. Se o caso é de ‘terrorismo climático ‘, além da PF e do MMA, e do Ministério Público, é preciso uma medida contundente do Ministério da Justiça.

4. Um esforço nacional precisa ser construído às pressas e suas estratégias precisam incluir a defesa civil; e a sociedade civil organizada;

5. Uma Frente Nacional que inclua os 4 poderes e tire o Congresso da sua anemia cívica;

6. Este tema, a prevenção e mitigação da secas, enchentes e incêndios deve entrar na agenda das eleições municipais e orientarnos do voto;

7. Devemos cobrar dos governos estaduais e federal uma transparência nos gastos com emergências e desastres climáticos;

8. O anúncio da constituição de um gabinete com uma ‘autoridade climática’ não pode demorar e nem se embrenhar em trâmites burocráticos;

Os fatos são mais do que graves e estão a exigir celeridade e eficiência.

Vejamos: Mais de 2/3 das áreas queimadas são matas nativas e sob algum status de proteção.

Em todos os biomas há focos de incêndio.

Os incêndios estão destruindo grandes áreas na Amazônia, Cerrado e Pantanal.

Com a vegetação também se vão milhares de animais que morrem em agonia.

A Amazônia, antes um sumidouro de Carbono agora é uma das maiores emissoras de CO2.

O fogo também ocorre em áreas próximas às cidades ou até mesmo dentro delas (como o caso da Serra da Cantareira em São Paulo e dos Parques da Tijuca e Pedra Branca no Rio).

A fumaça intensa prejudica vôos, e afeta a população com o aumento de doenças respiratórias.

A ‘chuva negra’, repleta de materiais particulados oriundos dos incêndios não é própria para o consumo humano e ainda poderá causar estragos nas plantações.

Tudo isso está acontecendo, e 2024 ficará como um registro dramático deste cenário nacional.

Mas, como disse o cientista Paulo Artaxo na TV: com este dano tão imenso, talvez venha também a consciência definitiva sobre a necessidade de enfrentarmos juntos os desafios das mudanças climáticas e criarmos estruturas adequadas de prevenção e mitigação.

Assim seja!

Samyra Crespo é ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

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