por Samyra Crespo –
A proposta da Autoridade Climática já estava lá no plano inicial de Governo, antes de Lula tomar posse, e concordavam com ela Marina Silva e a ex-ministra Izabella Teixeira.
Ambas sabiam que as mudanças climáticas em curso iam trazer sérias consequências, impactar o país, e num curto prazo.
Divergências quanto a quem se submeteria ou responderia essa Autoridade Climática acabaram por obstaculizar a sua criação.
A ex ministra Izabella defendia que essa Autoridade e seu gabinete deveriam estar ligados à própria Presidência da República. Já Marina Silva, nossa atual ministra, defendia que tal pessoa e seu staff deveriam responder a ela, ao MMA.
Foi criado um impasse. E a ideia ficou em banho-maria, naquela água malsã dos egos.
Agora, uma realidade que já se configura em tragédia nunca vista, aqueceu a ideia da Autoridade Climática e uma coordenação de alto nível para lidar com o problema.
Enchentes devastadoras e secas sem fim
Num curto espaço de tempo, Lula já caminhando para metade do seu mandato e os fatos ganharam magnitude: enchentes devastadoras no sul, seca severa na Amazônia, incêndios incontroláveis no Pantanal e Cerrado.
Agora é correr atrás do prejuízo: mais de 3 milhões de hectares de mata nativa queimada.
Sem contar a perda de fauna e de vidas humanas.
Safras perdidas. Um estado (RS) arrasado.
Tantos focos de incêndio, em praticamente todo o país, levantam suspeitas para além de crime comum, de incendiários casuais.
Onde estão os culpados?
Se mais de 90% dos incêndios se devem à ação humana, quem são os criminosos? Agem isolados ou há articulação entre eles? Existem mandantes?
Qual o objetivo em fazer arder o país? Gabeira, jornalista e ambientalista histórico, tem batido nesta tecla e cobrando da PF uma explicação que nos deixe menos perplexos e impotentes.
Literalmente, orquestradamente, estão queimando o país.
Um gabinete de crise focado nesse fenômeno é urgente.
Esperamos ansiosamente pela criação da Autoridade Climática.
* Samyra Crespo é ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.