ODS14

Mais de 25 mil toneladas de lixo plástico proveniente da pandemia foram despejados nos oceanos

Por Suzana Camargo para Conexão Planeta – 

Desde que a pandemia de covid-19 começou em 2020 ficava claro que além das mortes de seres humanos e impacto na economia global, a natureza também iria sofrer com a crise global de saúde. Logo nos primeiros meses, já havia registros em diversas partes do mundo do aumento da geração de lixo doméstico e hospitalar. Em junho do ano passado, mergulhadores encontraram máscaras e luvas de proteção nas águas da Riviera Francesa, na França, por exemplo (são justamente da Opération Mer Propre as imagens que aparecem neste post) . Agora, um novo estudo global, faz uma estimativa dos números desse lixo plástico todo que foi descartado nos oceanos do planeta: mais de 25 mil toneladas.

Num artigo científico na publicação Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, pesquisadores da Escola de Ciências Atmosféricas da Universidade de Nanjing, na China, em parceria com colegas do Instituto de Oceanografia Scripps da Universidade da Califórnia San Diego, apontam que mais de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos de uso único foram gerados desde o início da pandemia no mundo todo e 25,9 mil toneladas desse volume acabou indo parar nos oceanos.

A análise, que usou modelos matemáticos e imagens de satélite, indicou que o lixo hospitalar foi o principal responsável pela poluição (73%) e que a Ásia o continente que mais descartou esses resíduos de maneira inapropriada (72%).

“Quando começamos a fazer as contas, ficamos surpresos ao descobrir que a quantidade de resíduos médicos era substancialmente maior do que a quantidade de resíduos de indivíduos, e muitos deles vinham de países asiáticos, embora não seja onde a maior parte dos casos de covid-19 ocorreram”, revela Amina Schartup, professora assistente da Scripps Oceanography e co-autora do artigo. “As maiores fontes de resíduos excedentes eram hospitais em áreas que já lutavam com a gestão de resíduos antes da pandemia; eles simplesmente não foram criados para lidar com uma situação em que você tem mais resíduos”.

Os cientistas explicam que a maior parte do lixo plástico global da pandemia chegou aos oceanos através de rios. Entre os asiáticos, os que mais apresentaram resíduos foram os rios Shatt al-Arab, Indus e Yangtze, que desembocam no Golfo Pérsico, Mar da Arábia e Mar da China Oriental. Os rios europeus respondem por 11% da descarga, com pequenas contribuições de outros continentes.

Os cientistas alertam, entretanto, que apesar da maioria dos plásticos associados à pandemia devem ser levados para praias e ficar no fundo do mar, uma quantidade menor provavelmente acabará indo para o Oceano Ártico, que os autores do estudo chamam de “beco sem saída” para os detritos de plástico, devido aos padrões de circulação do oceano.

“Na verdade, o plástico relacionado à covid é apenas uma parte de um problema maior que enfrentamos no século 21: o lixo plástico. Para resolver essa questão precisamos de muita inovação técnica, transição da economia e mudança de estilo de vida”, diz Yanxu Zhang, professor da Universidade de Nanjing e um dos envolvidos no estudo.

Os pesquisadores ressaltam ainda que a pandemia não será completamente controlada em alguns anos e é essencial que políticas públicas sejam implementadas para conter o descarte de lixo plástico no meio ambiente. “A gestão de resíduos requer mudanças estruturais. É necessário aumentar a conscientização pública global sobre o impacto ambiental dos equipamentos de proteção individual (máscaras, luvas, etc) e de outros produtos plásticos. Tecnologias inovadoras precisam ser promovidas para uma melhor coleta, classificação, tratamento e reciclagem de resíduos plásticos, bem como o desenvolvimento de materiais mais ecológicos. É necessária uma melhor gestão de resíduos médicos em epicentros, especialmente em países em desenvolvimento”, destacam.

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