Por Larissa Warnavin*
Para compreender a COP 16 em seus diferentes desdobramentos, é importante lembrar que existem três ênfases distintas nas conferências da ONU sobre questões ambientais: mudanças climáticas, desertificação e biodiversidade. Neste ano aconteceu a COP com foco na biodiversidade, que tem um olhar dedicado à preservação ambiental. Nela se discutem metas para proteger espécies e ecossistemas, além de garantir uma repartição justa dos recursos para promover ações que possam reduzir a crescente perda de biodiversidade.
Para o Brasil, um dos destaques da conferência é a apresentação do trabalho do estado do Pará – o qual será palco, no próximo ano, da COP 30 sobre mudanças climáticas, na cidade de Belém. Com políticas como o Plano Estadual Amazônia Agora e o programa de Pagamento por Serviços Ambientais, o Pará concede incentivos financeiros a pequenos produtores que se comprometem a conservar e recuperar o meio ambiente. É um modelo que enxerga o pequeno produtor como um guardião da floresta, que contribui para preservar a biodiversidade e auxilia a manter vivas as tradições das populações locais.
A fala do escritor e líder indígena Ailton Krenak ecoa a urgência e a essência dessas discussões. Em “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, Krenak afirma: “É preciso parar de tratar a Terra como um recurso a ser explorado e passar a vê-la como uma entidade viva com a qual podemos nos relacionar de outra maneira.” Esse pensamento sintetiza uma das mensagens mais urgentes da COP 16: a necessidade de desenvolver políticas que respeitem o planeta e construam um relacionamento de reciprocidade com ele, considerando as populações e povos tradicionais como grandes aliados desse processo.
Apesar das ambições da conferência, a realidade é que alcançar essas metas ainda é um grande desafio. Os compromissos financeiros feitos até agora para apoiar a biodiversidade global não são suficientes, e especialistas temem que sem uma injeção de recursos muito maior, a implementação do Marco Global Kunming-Montreal — com metas como a proteção de 30% das áreas terrestres e marinhas até 2030 — fique ameaçada. O sucesso desses esforços depende, mais do que nunca, de que os países reconheçam a urgência da crise ambiental e cooperem de maneira genuína.
A COP 16 nos lembra que cuidar da biodiversidade é, em última análise, cuidar de nós mesmos. Não se trata apenas de manter espécies e habitats, mas de assegurar que a própria ideia de “lar” — seja ele uma cidade, uma fazenda ou uma floresta — continue a existir. Afinal, adiar o fim do mundo exige mais do que políticas públicas e compromissos financeiros; exige que mudemos o modo como nos relacionamos com a Terra, com respeito e responsabilidade, para que possamos coexistir e prosperar.
* Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.