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IEF e Uniube realizam primeira cirurgia de catarata em onça-parda feita no Brasil

O Instituto Estadual de Florestas (IEF), em parceria com o Hospital Veterinário da Universidade de Uberaba (Uniube), realizou a primeira cirurgia de catarata em uma onça-parda feita no Brasil. A onça-parda fêmea, recebida no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) em Patos de Minas precisou do procedimento após sofrer um trauma na cabeça, ocorrido em 2020, o que ocasionou uma lesão ocular. Apelidado pelos profissionais do Cetras de Kiara, o animal tem 11 meses e pesa 31kg.

 

Kiara foi operada,no último sábado (23/10), pelos oftalmologistas veterinários Fabrício Villela Mamede e Glauber Tasso, sob supervisão dos professores de oftalmologia veterinária da Uniube, Renato Linhares, Cláudio Yudi, Ananda Teodora e pelo médico veterinário do Cetras, Rafael Ferraz de Barros. Previamente à realização da cirurgia, o animal passou por exames complementares, como: eletroretinograma, tonometria e ultrassonografia ocular, a fim de garantir a capacidade de visão do animal. A cirurgia teve duração de 1h30 e de acordo com a equipe médica foi bem-sucedida.

 

Agora, a onça-parda ficará sob cuidados no Cetras, onde passará por exames laboratoriais, receberá alimentação à base de proteína animal e toda medicação adequada ao tratamento, além de atividades de estímulo de comportamento natural da espécie. O médico veterinário do Cetras Patos de Minas, Rafael Ferraz de Barros, destacou a importância de se reunir um grupo de profissionais renomados para realizar um procedimento tão complexo. “Ainda não havia relatos sobre esse procedimento na espécie. Foi um grande desafio para todos, mas a parceria funcionou perfeitamente e as expectativas para a recuperação são muito positivas”, comentou.

 

Rafael acredita que em alguns dias a onça possa enxergar normalmente e tenha qualidade de vida e, principalmente, um retorno bem-sucedido à natureza. “Experiências como essa são importantes para que possamos realizar os mesmos procedimentos em outros animais da mesma ou de outras espécies, quando necessário, ainda que seja em outros centros de reabilitação pelo país”, complementou.

 

A diretora de proteção à Fauna do IEF, Liliana Adriana Nappi Mateus, disse que a equipe do IEF busca sempre realizar um trabalho de excelência. “Essa cirurgia mostra mais um trabalho exitoso da equipe e reforçaa necessidade do Estado de Minas Gerais investir cada vez mais nessas estruturas e em profissionais capacitados para esse tipo de trabalho”, frisou.

 

O animal

 

A Onça-parda (Puma concolor) ‘Kiara’ chegou ao Cetras Patos de Minas em dezembro de 2020, com idade estimada de 12 a 15 dias de vida e com um quadro neurológico de convulsões, ataxia, entre outros sintomas compatíveis de um quadro de trauma.

 

Desde três meses de idade apresentou seqüela decorrente de traumas na cabeça, um quadro progressivo de catarata bilateral, ou seja, nas duas vistas, que é basicamente uma opacificação da lente do olho, que inviabilizou sua visão.

 

Recuperação

 

O animal ainda seguirá em tratamento pós-cirúrgico no Cetras, onde receberá acompanhamento médico com uso de colírios e medicações orais baseadas em antibióticos e anti-inflamatórios. Além disso, serão realizadas atividades de enriquecimento ambiental com intuito de estimular comportamentos naturais da espécie.

A alimentação é à base de proteína animal: um mix de carnes bovina, pescoço de frango, camundongos e outros alimentos que possamestimular o comportamento natural da espécie.

 

A expectativa é de que após esses três meses, os olhos sejam reavaliados e ela possa seguir o processo de reabilitação comportamental, com o objetivo de futuramente, ser reintroduzida na natureza. O processo total de recuperação do procedimento é de aproximadamente quatro a seis meses.  “Até o momento, a recuperação pós-cirúrgica tem sido extremamente satisfatória e Kiara passa bem”, disse Rafael Ferraz.

 

Cetras

 

Os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) e os Centros de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) são estruturas autorizadas a receber, identificar, marcar, triar, avaliar, recuperar, reabilitar e destinar animais silvestres e exóticos provenientes das ações de fiscalização do estado, de entrega voluntária de particulares ou do recolhimento no ambiente rural e urbano quando em situação de risco ou feridos, neste caso vítimas de atropelamento, choques elétricos, atacados por outros animais e submetidos a maus-tratos pela própria população.

Atualmente, o estado de Minas Gerais compartilha com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por meio de Acordo de Cooperação, a gestão dos Cetas localizados em Belo Horizonte, Montes Claros eJuiz de Fora. Além disso, o estado possui dois outros Cetras, em Patos de Minas e Divinópolis, que são mantidos e geridos pelo IEF.

 

O IEF mantém nas estruturas, tanto compartilhadas quanto próprias, equipe de biólogos, médicos veterinários e tratadores em número suficiente para atender a quantidade de animais recebidos em cada um dos Cetas e Cetras. Os profissionais são responsáveis pelas atividades de manejo, reabilitação e destinação final dos animais encaminhados e mantidos nas estruturas. Neste ano já foram recebidos pelo IEF um total de 4.135 animais nos Cetas e Cetras.

 

A Diretora de Proteção à Fauna do IEF, Liliana Adriana Nappi Mateus, frisa que a prioridade do IEF é a reabilitação e reintrodução no ambiente natural dos animais silvestres recebidos nos centros de triagem, para isso, sua equipe busca todos os meios disponíveis. Exemplo disto foi a cirurgia inédita de catarata na onça-parda Kiara, que foi possível em função do trabalho de cooperação interinstitucional, complementa.

 

A diretora reforça, ainda, a “necessidade do Estado de Minas Gerais investir cada vez mais nessas estruturas, inclusive ampliando seu quadro funcional, de modo a permitir que cada vez mais animais silvestres oriundos de apreensão, de recolhimento ou de entrega voluntária tenham uma nova chance de retornar a vida livre ou que, minimamente tenham qualidade de vida”.

 

 

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