Por ONU Brasil –
Incêndios florestais, poluição sonora e descompasso dos ciclos de vida são destacadas com as principais ameaças emergentes no novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que também identifica e oferece soluções para esses problemas ambientais.
Os três tópicos da edição deste ano devem afetar, cada vez mais, a saúde pública e o meio ambiente e, por isso, merecem atenção e ação de governos e do público em geral. As questões também realçam a necessidade urgente de se enfrentar a tripla crise planetária da mudança climática, poluição e perda de biodiversidade
Esta é a quarta edição do relatório Fronteiras, que foi publicado pela primeira vez em 2016 com um alerta para o risco crescente de zoonoses, quatro anos antes da emergência da pandemia de COVID-19. A nova edição foi lançada dias antes do reinício da quinta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA).
Incêndios florestais mais frequentes e intensos, uma poluição sonora urbana que cada vez mais ameaça a saúde pública global, e descompassos fenológicos — interrupções na sincronia dos ciclos de vida naturais — que causam impactos ecológicos. Essas questões ambientais graves, que exigem maior atenção, são destaque no novo Relatório Fronteiras, publicado nesta quinta-feira (17) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Esta é a quarta edição do relatório, que foi publicado pela primeira vez em 2016 com um alerta para o risco crescente de zoonoses, quatro anos antes do surto da pandemia de COVID-19.
“O Relatório Fronteiras identifica e oferece soluções para três questões ambientais que merecem a atenção e a ação de governos e do público em geral. A poluição sonora urbana, os incêndios florestais e as mudanças fenológicas — os três tópicos da edição deste ano — são questões que realçam a necessidade urgente de se enfrentar a tripla crise planetária da mudança climática, poluição e perda de biodiversidade”, afirma a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen.
A nova edição do relatório Fronteiras, Barulho, Chamas e Descompasso: questões emergentes de preocupação ambiental, está sendo lançada dias antes do reinício da quinta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA):
Um perigo estrondoso
De acordo com o documento, a poluição sonora nas cidades é uma ameaça crescente à saúde pública. Os sons indesejados, constantes e de alta intensidade do trânsito rodoviário, ferroviário ou de atividades de lazer prejudicam a saúde e o bem-estar humano. Isso inclui situações como a irritação crônica e distúrbios do sono, resultando em doenças cardíacas e distúrbios metabólicos graves, como diabetes, deficiência auditiva e saúde mental mais comprometida.
A estimativa é que a poluição sonora já contribui para 12.000 mortes prematuras a cada ano na União Europeia e afeta um em cada cinco cidadãos da região. Os níveis admissíveis de intensidade sonora são ultrapassados em muitas cidades do mundo, como Argel, Bangkok, Damasco, Daca, Cidade de Ho Chi Minh, Ibadan, Islamabad e Nova Iorque.
As comunidades de faixas etárias muito jovens, idosos e as marginalizadas que vivem próximas a rodovias movimentadas, áreas industriais e longe de espaços verdes são especialmente afetadas.
Mas o barulho constante também é uma ameaça aos animais ao alterar a comunicação e o comportamento de várias espécies, como aves, insetos e anfíbios.
Paralelamente, os sons naturais podem oferecer diversos benefícios à saúde. O planejamento urbano deve priorizar a redução de ruídos diretamente na fonte, investimentos em mobilidade alternativa e infraestruturas urbanas que criem paisagens sonoras positivas, tais como a arborização de vias públicas, muros e coberturas verdes, e outros espaços urbanos arborizados.
Entre os exemplos positivos, o relatório lista a Zona de Ultra Baixa Emissão de Londres, as novas ciclovias de Berlim em estradas e o plano nacional do Egito para combater a poluição sonora.
A restrição de circulação que veio com a COVID-19 trouxe uma nova valorização aos espaços verdes e a redução do barulho do trânsito urbano. Os programas destinados a reconstruir melhor no pós pandemia representam uma oportunidade subutilizada pelas pessoas responsáveis pela formulação de políticas e planejamentos urbanos, bem como pelas comunidades para criarem mais espaços verdes destinados a todas as pessoas.
Clima favorável a incêndios
Estima-se que aproximadamente 423 milhões de hectares ou 4,23 milhões de km² da superfície terrestre — uma área do tamanho da União Europeia — foi incendiada a cada ano entre 2002 e 2016, um fenômeno cada vez mais comum em ecossistemas mistos de floresta e savana. Aproximadamente 67% da área global queimada por incêndios, incluindo os florestais, encontra-se no continente africano.
As condições climáticas perigosas favoráveis a ocorrência de incêndios florestais devem fazer com que eles se tornem mais frequentes e intensos e perdurem por mais tempo, até em áreas antes não afetadas por esse fenômeno. Os incêndios florestais extremos podem desencadear tempestades que atingem a fumaça e agravam a situação devido a ventos fortes. Além disso, também provocam raios que acendem outros focos muito além da fonte do fogo, um perigoso ciclo de retorno.
Isso se deve à mudança climática, com temperaturas mais quentes, condições mais áridas e secas mais frequentes. A mudança no uso da terra é outro fator de risco, incluindo a exploração madeireira comercial e o desmatamento para expansão de propriedades rurais, pecuária e expansão de cidades. Uma outra causa da proliferação de incêndios é a supressão agressiva do fogo natural, essencial em alguns sistemas naturais para limitar as quantidades de material combustível, e políticas inadequadas de manejo do fogo que excluem as práticas tradicionais e o conhecimento indígena.
Os efeitos a longo prazo na saúde humana não se restringem às pessoas que combatem incêndios florestais, ou que precisam evacuar o local ou ainda que sofrem perdas diretas. A fumaça e o material particulado também trazem consequências significativas para a saúde em povoados situados na direção dos ventos, às vezes localizados a milhares de quilômetros da fonte, com impactos muitas vezes agravados entre aqueles com doenças pré-existentes, mulheres, crianças, idosos e pessoas vulneráveis economicamente. Estima-se ainda que as mudanças nos regimes de incêndio levem a uma perda maciça da biodiversidade, ameaçando mais de 4.400 espécies terrestres e de água doce.
Os incêndios florestais produzem o carbono negro e outros poluentes que podem contaminar fontes hídricas, aumentar o derretimento das geleiras, causar deslizamentos de terra e provocar o surgimento de algas em grande escala nos oceanos, além de transformar sumidouros de carbono, como florestas tropicais, em fontes de carbono.
O relatório reivindica maiores investimentos na redução dos ricos de incêndios florestais, bem como o desenvolvimento de abordagens de prevenção que incluam as comunidades vulneráveis, rurais, tradicionais e indígenas. Também reivindica o refinamento de recursos de sensoriamento remoto, tais como satélites, radares e detectores de raios.
Ritmo natural de plantas e animais afetado
A fenologia é o estudo do período em que ocorrem os eventos sazonais nos ciclos de vida biológicos, movidos por fatores ambientais, e a forma como, dentro de um ecossistema, as espécies em interação respondem a condições variáveis. As plantas e os animais que vivem em ecossistemas terrestres, aquáticos e marinhos utilizam-se da temperatura, duração do dia ou chuva como indicações das épocas de folhagem, floração, frutificação, reprodução, nidificação, polinização, migração e outros fins.
As mudanças fenológicas ocorrem quando as espécies alteram o ritmo do ciclo de vida em resposta às alterações nas condições ambientais resultantes da mudança climática. A questão é que as espécies em interação em um ecossistema nem sempre mudam seus ciclos na mesma ordem ou no mesmo ritmo.
Essas mudanças fenológicas são cada vez mais afetadas pela mudança climática, fazendo com que plantas e animais percam a sincronia dos seus ritmos naturais e provocando descompassos, como acontece quando as plantas mudam as etapas do seu ciclo de vida mais rapidamente do que os herbívoros.
As espécies que viajam grandes distâncias estão particularmente vulneráveis às mudanças fenológicas. As indicações climáticas locais que normalmente ocasionam a migração podem atrapalhar a previsão precisa das condições nos destinos e no período de descanso ao longo da rota.
As mudanças fenológicas nos cultivos relacionadas às variações sazonais serão um desafio para a produção de alimentos em face das mudanças climáticas. Alterações nas espécies marinhas comercialmente importantes e em suas presas têm consequências significativas para a produtividade dos estoques e da pesca.
Os impactos completos dos descompassos fenológicos exigem mais pesquisas. Manter habitats adequados e a conectividade ecológica, fortalecer a integridade da diversidade biológica, coordenar esforços internacionais para a preservação das rotas migratórias, apoiar a resiliência e manter a variação genética das espécies são metas de conservação fundamentais. Ainda, acima de tudo, é essencial limitar a taxa de aquecimento global por meio da redução das emissões de CO2.
Sobre a UNEA
A Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA) é o principal órgão de tomada de decisões do mundo sobre o meio ambiente, responsável por abordar algumas das questões mais críticas da atualidade. Neste ano, centenas de importantes lideranças tomadoras de decisões, empresas, representantes de organizações intergovernamentais e sociedade civil estarão unidas para a segunda parte da UNEA-5, que será realizada na sede do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em Nairobi.
*Créditos da imagem destacada: Legenda: As condições climáticas perigosas favoráveis a ocorrência de incêndios florestais devem fazer com que eles se tornem mais frequentes e intensos e perdurem por mais tempo, até em áreas antes não afetadas por esse fenômeno / Foto: © Pixabay
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