ODS 16

A civilização em risco - O imperativo da mudança

O texto que se segue foi escrito como prefácio ao livro "A civilização em Risco - A humanidade na contramão do equilíbrio ecológico", de Marcus Eduardo de Oliveira, economista e ativista ambiental que nos entrega uma reflexão sobre o impacto devastador das ações humanas sobre o meio ambiente. Aponta a financeirização dos serviços ambientais e a mecanização da destruição como o modus operandi da devastação.

A civilização em risco - O imperativo da mudança

por Dal Marcondes –

“estamos fabricando uma Terra na qual ninguém de nós gostaria de viver”
Albert Jacquard (1925-2013), geneticista francês.

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

Esta é a frase que mais me impactou neste livro repleto de verdades inconvenientes. É exatamente o que a humanidade, ao menos uma parte não muito grande dela, está fazendo, e de maneira muito competente. Marcus Eduardo de Oliveira nos coloca frente a frente com os dados de uma sistemática destruição planetária que está sendo perpetrada por apenas 1% das pessoas sobre a Terra.

Dados impressionantes como 15 bilhões de árvores cortadas anualmente e 1% dos humanos mais ricos emitirem em carbono o mesmo que 68% dos mais pobres. E, pelo andar da carruagem, não há redenção no horizonte. Não há empatia com os 46% da humanidade que vivem sem acesso à água potável e saneamento, ou com quase um bilhão de pessoas que vivem em permanente insegurança alimentar.

Entre os muitos cientistas e pensadores citados eu gosto de lembrar uma frase do economista Ignacy Sachs, um grande estudioso da ganância humana: “devemos ter a humildade de reconhecer o buraco em que nos metermos e a coragem para planejarmos uma saída digna”. Sachs foi um defensor incondicional da importância do planejamento na busca de soluções para questões complexas. E nenhuma situação pode ser mais complexa do que a ladeira antropocêntrica em que o planeta Terra está metido.

A degradação dos ecossistemas e da biodiversidade desde a metade do século 19 ganhou uma escala industrial. Justamente por isso me impressiona a frase de Albert Jacquard. A destruição da natureza é um processo industrial que, nos últimos 50 anos ganhou o reforço da financeirização. Quase tudo o que é “fabricado” pela natureza passa por uma transformação em commodities. Ou seja, é padronizado, pesado e precificado de forma a estabelecer métodos de produção uniformes em todo o planeta, com o menor custo operacional e o maior retorno financeiro. Não se trata apenas de gerar lucro, mas sim de produzir ganhos de capital para investidores que mal conhecem uma samambaia.

A financeirização impõe uma lógica ainda mais perversa na relação homem-natureza. A gestão de risco dos processos de exploração dos “recursos” naturais, de impactos sobre a vida humana e dos milhões de outros seres com os quais dividimos a Terra agora é guiada pela formação de preço. Pagar o preço do desastre a das indenizações que eventualmente sejam arbitradas pelo poder público pode ser mais barato do que os ganhos de capital obtidos com a destruição.

Marcus Eduardo alinhava com esmero de pesquisador diligente os dados, números e diagnósticos da sistemática destruição dos ecossistemas, seja pela poluição marinha com microplásticos, a degradação da qualidade do ar, os impactos da emergência climática (enquanto escrevo esse texto assisto às desesperadoras imagens da maior enchente já registrada n Brasil, que atinge o estado do Rio Grande do Sul) e as previsões sinistras que apontam o ano de 2050 como o limite para a resiliência da Amazônia.

Mesmo com todos os dados já pesquisados e a projeções assinadas por centenas, se não milhares, de pesquisadores e cientistas, muitos ainda proclamam que tudo isso são as vicissitudes da vida. As coisas como elas são e como continuarão sendo. Pessoas que não acreditam na ciência, no conhecimento empírico e na vivência dos problemas, ou simplesmente não se importam com os danos que estão provocando são a grande maioria nos cargos de mando de organizações, empresas, bancos e governos.

O paradoxo é que a economia do século 21 é capaz de realizar verdadeiros milagres. Temos a conexão universal, com o potencial de fazer chegar conhecimentos a mais de 90% da humanidade. O mundo produz comida em uma quantidade suficiente para alimentar todas a pessoas em todos os países e, mesmo assim, 1 bilhão de pessoas não tem asseguradas as refeições necessárias nem em quantidade e nem em qualidade.

Temos a capacidade, ainda temos a oportunidade, precisamos da vontade política para a transição para uma economia distributiva, baseada em padrões de produção e consumo sustentáveis. Marcos Eduardo nos mostra com clareza que os conhecimentos necessários estão disponíveis e acessíveis.

Este é um livro imprescindível em todas as salas de aula e em todos os níveis. Os dados chocam e, ao mesmo tempo, carregam o imperativo da mudança.

A Natureza não tem juízo de valor moral, apenas produz consequências“.
Spinoza

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Mais sobre Marcus Eduardo de Oliveira

O economista e ambientalista Marcus Eduardo de Oliveira tem contribuído com obras como a “Economia Destrutiva” e “Civilização em desajuste com os limites planetários”, para trazer luz sobre essa discussão.

Participação como convidado dos DIÁLOGOS ENVOLVERDE comandado pelo jornalista Reinaldo Canto:

Dal Marcondes – jornalista graduado pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Mestre em Modelos de Negócios em Jornalismo Digital e Pós-Industrial pela ESPM. Especialista pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental pela USP. Passagens pelas redações das revistas IstoÉ, Exame, Carta Capital e Dirigente Industrial, pelas agências France Presse, Dinheiro Vivo e Agência Estado e pelos jornais DCI e Gazeta Mercantil. Diretor Executivo da Envolverde, agência de jornalismo para o Desenvolvimento Humano Sustentável.

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