A ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil e Campeã da Terra da ONU, Izabella Teixeira, acredita que o mundo conseguirá proteger a biodiversidade e alcançar o uso sustentável dos recursos naturais. A ambientalista ressalta a mentalidade da juventude e o engajamento da população brasileira, que têm colocado a conservação ambiental no centro da agenda pública.
Quando Izabella Teixeira disse para os pais que ia trabalhar com questões ambientais, no início dos anos 1980, eles ficaram visivelmente chateados.
“Eles não sabiam o que isso significava, eles não achavam que eu poderia sobreviver financeiramente com isso”, lembra Izabella. “Não é era algo que as pessoas fora da ciência entendiam.”
Mas a ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil e atual copresidente do Painel Internacional sobre Recursos ignorou as preocupações da família e aceitou um emprego na Secretaria do Meio Ambiente de Brasília (SEMA) — a precursora do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). A vaga era para trabalhar com o renomado ambientalista Paulo Nogueira Neto.
“Naquela época, foi muito doloroso ir contra a minha família”, conta Izabella.
A especialista, que é hoje uma Campeã da Terra da ONU por sua liderança em políticas que se estende por 30 anos, admite que a lição mais valiosa que aprendeu com a proteção ambiental é a importância do diálogo.
“Eu compreendi com o Nogueira Neto que, se você está procurando uma solução, você precisa dialogar não só com os que são da sua tribo, não só com os convertidos, mas com todos”, diz Izabella.
É por isso que ela passou a maior parte da sua vida no serviço público reunindo diferentes atores, do setor privado a organizações não governamentais indígenas. Os esforços valeram a pena, produzindo feitos notáveis, como a redução do desmatamento na floresta tropical amazônica — de uma perda anual de 27.772 quilômetros quadrados em 2004 para 4.571 quilômetros quadrados em 2012. Suas políticas relativas ao uso da terra também levaram à criação de 250 mil quilômetros quadrados de áreas de conservação — o equivalente a 75% do total global de florestas protegidas.
Quando Izabella se tornou vice-ministra do Meio Ambiente, sua mãe parabenizou a filha por ter uma visão que muitas pessoas, incluindo ela mesma, só tinham percebido que era importante 30 anos depois.
Hoje, Izabella ainda luta pelo uso sustentável dos recursos naturais, bem como por tentativas de encorajar o engajamento político com a conservação da biodiversidade. E embora essas sejam tarefas tremendas, ela é otimista quanto ao fato de que isso vai virar realidade, em particular por causa da mentalidade dos jovens.
“A minha geração cresceu com a obrigação de entender o que a poluição e a degradação ambiental significavam”, conta a especialista. “Para essa geração (atual), proteger o meio ambiente é o padrão, é uma parte dos seus valores fundamentais.”
A copresidente do Painel Internacional sobre Recursos afirma que fica constantemente impressionada com a forma como os jovens incluem a proteção ambiental em cada parte das suas vidas, como, por exemplo, ao recusar empregos em empresas cujos valores não estão alinhados aos deles.
“Para a minha geração, isso nunca aconteceria.”
A geração de hoje entende que priorizar o meio ambiente na formulação de políticas não significa apenas proteger a natureza. Significa garantir que as pessoas terão vidas melhores, que a economia vai prosperar e que o planeta permanecerá saudável para as gerações futuras, Izabella enfatiza.
O atual governo do Brasil tem uma nova visão sobre como os recursos naturais do país devem ser geridos, que se baseia amplamente em dar mais poder aos estados. No entanto, Izabella diz que o público continua a colocar a proteção ambiental no centro da agenda, o que foi demonstrado pelo fato de que o governo Bolsonaro desistiu de tirar o país do Acordo de Paris, apesar da promessa que ele havia feito em sua campanha presidencial.
Izabella recebeu o título de Campeã da Terra em 2013. Seis anos depois, ela ainda está defendendo o planeta obstinadamente.
“Nós, como seres humanos, podemos fazer a diferença de uma maneira positiva, aprendendo com as nossas experiências”, diz a ambientalista. “Eu acho que ser uma Campeã da Terra significa mais do que esperança. Significa agir para mudar, com base no futuro.”
A premiação dos Campeões da Terra, a honraria ambiental mais elevada das Nações Unidas, celebra indivíduos excepcionais dos setores público e privado e da sociedade civil, cujas ações tiveram um impacto transformador positivo no meio ambiente.
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