ODS16

Jornalistas Marcelo Trasel e Ricardo Carvalho falam sobre os riscos à liberdade de imprensa no Brasil

Presidente da ABRAJI e diretor da ABI-SP, respectivamente, comentam como os ataques ao trabalho dos jornalistas tem transformado a profissão

O Diálogos Envolverde recebeu, na última quinta-feira (06), os jornalistas Marcelo Trasel, presidente da ABRAJI – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e doutor em Comunicação Social pela PUC-RS, e Ricardo Carvalho, diretor da ABI-SP – Associação Brasileira de Imprensa. Eles estiveram na live “Os riscos à liberdade de imprensa no Brasil ” mediada pelos jornalistas Reinaldo Canto e Alice Marcondes.

Em uma época em que estamos vivendo com ataques sistemáticos ao trabalho de jornalistas, inclusive com o uso de violência física, processos judiciais e até mesmo o registro de assassinatos, eles conversam sobre como isso tem transformado o exercício da profissão em um risco permanente para a vida dos profissionais. Um levantamento feito pela FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) constatou que, em 2020, teve 428 ataques a jornalistas de diferentes maneiras, sendo 2 assassinatos.

No dia 3 de maio foi comemorado o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa e, na transmissão, Reinaldo Canto fala sobre como a data deve ser comemorada por todos que querem ter direito à voz, a poder discordar, a conhecer as muitas visões sobre determinado assunto, e criticar e ser criticado sem medo ou perseguições, de forma que para cumprir isso, é essencial a presença de uma imprensa livre e atuante. “Eu não me lembro de um outro período em que parecíamos estar em um retrocesso em termos de liberdade de imprensa no Brasil, desde que eu comecei a acompanhar pelo menos”, comenta Marcelo ao lembrar dos anos de ditadura militar. 

Liberdade de imprensa

Até poucos anos atrás, o Brasil parecia estar em um caminho sem volta de consolidação da democracia e das liberdades. “Um dado, por exemplo, que saiu na Folha essa semana é que em 2019 foram 40 casos em que a Lei de Segurança Nacional foi usada pela Polícia Federal para fazer investigações, esse ano foram 77 e, antes do atual presidente assumir o Planalto, tínhamos 20 casos por ano em média de uso da Lei de Segurança Nacional no Brasil”. Felizmente, a Câmara votou para revogar a Lei de Segurança Nacional no dia 4 de maio. “Além desse assédio judicial, que não acontece somente contra jornalistas, mas também cidadãos comuns que usam, por exemplo, o termo ‘genocida’ para caracterizar o presidente, nós temos muitos casos registrados na ABRAJI de assédios virtuais promovidos pelo gabinete do ódio e pela militância de direita, casos em que o discurso estigmatizante do Presidente da República, ministros e outras autoridades podem acabar levando a situações mais graves, até legitimar agressões físicas”, complementa Marcelo.

Por meio das mídias, é possível notar diariamente o aumento de situações que são preocupantes e que ferem a liberdade de imprensa no país e, infelizmente, esses casos de violações tem sidos cada vez mais frequentes desde 2018, ano da eleição presidencial, e isso só tem aumentado a cada ano, ainda mais com o próprio presidente incitando ódio e pressão aos profissionais em coletivas de imprensa. 

Marcelo Trasel diz que uma forma de tentar combater e defender esse tipo de pressão e assédio, principalmente em casos de ameaça, contra os jornalistas é “responsabilizar essas pessoas judicialmente e isso é uma coisa que poucas redações e jornalistas fazem porque dá trabalho e custa dinheiro entrar com processos, mas do casos eu sei de profissionais que foram trás de reparação judicial, tiveram efeito pedagógico bastante forte”. A pessoa ao receber um oficial de justiça na porta de casa por causa de uma postagem nas redes sociais é algo que realmente se espalha pela sociedade. Ricardo Carvalho complementa ainda que é preciso haver uma união entre os profissionais da área da comunicação contra esses ataques e à desinformação. 

Paralelo à ditadura militar

Nesse tempo, tinha uma censura explícita à liberdade de imprensa no país porque, quando um conteúdo contra o governo precisava ser vetado dos jornais, o Estadão punha no local um poema de Camões e o Jornal da Tarde punha qualquer tipo de receita, exemplos citados por Ricardo Carvalho na conversa. “O Brasil vive uma situação excêntrica e única porque durante a ditadura esses jornais eram obrigados a vetar certos assuntos, ou seja, o censor estava na redação, lia a matéria e dizia ‘ah, isso aqui não vai’, não tinha nem tempo de perguntar o porquê”. 

“Quando eu chegava na redação, eu chamava o editor-chefe de política e dizia ‘eu tenho essa matéria, vamos?’ e aí ele concordava. Eu escrevia e depois o escrito ia para o nono andar onde ficava a direção do jornal para saber se ia publicar ou não”, relata Ricardo sobre a época em que ele trabalhava como repórter na Folha de S. Paulo. Ele conta que no local não havia censura como nos outros jornais mencionados e as matérias acabavam sendo publicadas. “Por isso que é excêntrico quando hoje nós temos uma democracia plena, funcionando todos os poderes, eleição pelo voto direto e nunca como antes na história, teve tanta pressão sobre a imprensa”. 

ASSISTA: Reportagem liberdade de imprensa

Diálogos Envolverde

A conversa completa com os jornalistas Marcelo Trasel e Ricardo Carvalho está disponível no Facebook YouTube da Envolverde. O programa Diálogos Envolverde vai ao ar toda quinta-feira, às 11h, nesses canais.

 

*Conteúdo multimidiático produzido por estudantes de Jornalismo Presencial da Universidade Metodista de São Paulo, sob a supervisão das professoras Alexandra Gonsalez, Eloiza de Oliveira Frederico, Filomena Salemme e Wesley Elago.

(#Envolverde)