ODS16

O Socioambientalismo, ou quando um outro mundo parecia ser possível.

Por Samyra Crespo – 

Joseph Stiglitz, economista chefe do Banco Mundial, organismo internacional do establishment (pasmem!) escreveu um livro bombástico na época em que o neo liberalismo se autofirmava como doutrina econômico-política: Os Descontentes da Globalização. Em inglês: The Globalisation and its discontents (2002). Já tinha saído do Banco e, como Hermann Daly anos antes, se voltava contra a Criatura (World Bank). Foi antes de ganhar o prêmio Nobel. Falava da integração econômica e seus efeitos colaterais perversos, da desculturação, da imposição de um estilo de vida urbano e consumista e de muita gente, muita gente que sobrava neste processo que apostava em inovação e tecnologia e criava o que se chamava de “desemprego estrutural”. Não era culpa das pessoas: o sistema ia produzindo riqueza de um lado e miséria econômica e cultural do outro. Tangenciava a questão ambiental, não a encarava de frente.

O Fórum Social Mundial de Porto Alegre, estado onde perdurava uma administração petista na prefeitura, abrigou este FÓRUM ALTERNATIVO. Alternativo a que? A Davos onde os CEOs (líderes das empresas globais), economistas, ministros da área econômica, chefes de estado e celebridades do mundo acadêmico se reúnem para propor AJUSTES no sistema capitalista mundial que vivia, talvez ainda viva – o seu surto neoliberal.

Daí o mote “um outro mundo é possível “. Esta história tem uma perna longa, difícil de ser contada em espaço tão exíguo. Mas é óbvio que o Fórum de PA era contra o neoliberalismo. Ponto.

Num sentido bem amplo, pode-se dizer que era muito mais um território político dos tais descontentes da globalização do que de trupes marxistas num ensaio geral.

Recém eleito, vi com os meus próprios olhos Lula ser carregado nos ombros da multidão que estava em Porto Alegre em dezembro de 2003. Sem perigo algum. Sem seguranças ou atropelamento. Era uma maré alegre de gente esperançosa cantando e contagiava.

Eu e Ralph Dalla Cava (brasilianista, professor emérito da Universidade de Columbia) e o líder católico Luiz Alberto Gomes de Souza, nos apertávamos na calçada.

Havia sim uma euforia política ali. Um encontro da história com uma agenda de mudanças há muito represada no país. Gente do campo, das comunidades eclesiais de base, indígenas, sanitaristas, ambientalistas e vizinhos, gente da América Latina principalmente. Nada das gravatas do poder. Camisas de mangas arregaçadas num calor porto-alegrense de 40 graus.

Fui àquele Encontro para falar da Agenda 21. Fui militante dessa Agenda de reformas ambientais por mais de 10 anos.

Na multidão encontrei o Boff, Marina que se tornaria ministra e uma porção de pessoas que olhavam de cara feia para os meninos do Greenpeace. Verdes de carteirinha não eram bem vindos. Verdes de coração vermelho podiam falar e receber aplausos. De repente o conservacionismo que fora hegemônico recebeu mais tapas do que beijos.
A ala ambientalista da CUT (Central Única dos Trabalhadores) parecia estar em casa.

Vi ali o início da ascensão do SOCIOAMBIENTALISMO no Brasil.

Vou contar essa história que teve como musa a ministra Marina Silva. Saiu dos seringais do Acre para a militância católica comunitarista, tornou-se evangélica e liderança politica em seu estado. Meteoricamente senadora e finalmente ministra.

O desdobramento desse teatro político do Fórum (Que continuaria nos anos seguintes) eu vou contar no próximo post.

O socioambientalismo no poder.

(#Envolverde)