ODS16

Um contexto histórico perturbador

Por Samyra Crespo – 

O que nos espera nos próximos anos.

Em geral, gosto de “pegar leve” nos fins de semana. A nossa merecida pausa da realidade. Falo então, nessas poucas horas do sábado e domingo, descontado o sono e a preguiça, de aspectos mais confessionais ou intimistas, procurando fazê-lo com algum humor.

Mas fim de semana é também quando leio as matérias de jornal que separei e vejo programas televisivos, ou on line, que salvei para assistir depois. Assim, vou resumir – bem resumido mesmo – uma entrevista que o historiador conservador Nial Ferguson deu recentemente à bancada do Roda Viva.

Ele é inglês mas vive e leciona nos Estados Unidos. Por que me darei a este trabalho?

Ainda mais se tratando do maior inimigo cordial de Eric Hobsbawm, o queridinho tipo unanimidade na esquerda?

Porque sendo um historiador das grandes tendências chamou a nossa atenção para uma moldura histórica que impactará todo o drama humano neste século, sejam os governos de direita ou de esquerda, amarelos ou vermelhos.

No resumo dos resumos, aí vai:

  • 1. A nova Guerra Fria, tripolar (EUA, Russia e China) – caminhando celeremente para uma afirmação maior da China como nação de ambições hegemônicas calcadas em comércio e venda de tecnologia;
  • 2. Deslocamento massivo de populações não só devido às guerras e pobreza, mas também pelo agravamento da crise climática. A imigração vai se intensificar e nenhum país está preparado para tal;
  • 3. Convivência com pandemias difíceis de controlar devido à irreversibilidade da globalização. Esperemos por novas ondas pandêmicas;
  • 4. Mudança radical na estrutura do trabalho e do mundo da produção: estamos somente no início da era dos robots e da automatização;
  • 5. O perigo não é mais o da guerra nuclear (anos 60-70) ou o terrorismo islâmico( como até recentemente) mas o dos ataques cibernéticos que podem desorganizar os serviços ou a economia de um país em poucas horas;
  • 6. Em função dos distúrbios advindos de tal contexto, uma erosão da democracia é previsível assim como o surgimento de regimes políticos onde a “lei e a ordem” pareçam uma escolha sensata para os cidadãos.

Não estou endossando nem problematizando – ainda – os pontos que Ferguson levantou. Não se faz isso em poucas linhas.

Mas acho pertinente pensar no assunto.

Nossas “eleições “, ainda que num país paroquial, que jamais se assumiu como liderança no Continente, estão dentro de um quadro maior. Bem maior.

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.

 

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