Com 133 filmes de 32 países, o mais importante evento sul-americano dedicado à temática socioambiental tem sua maior edição

* A maior mostra de cinema gratuita de São Paulo tem seu circuito de exibição ampliado

* O Panorama Histórico traz ciclo A Crise das utopias e o cinema militante pós-68

* Homenagem ao cineasta brasileiro Silvio Tendler

* Novo programa: Mostra Brasil Manifesto

* Sete Debates no Panorama Internacional Contemporâneo

* Lançamentos na Competição Latino-Americana

* Concurso Curta Ecofalante traz  filmes de diversos estados

* Sessão  Infantil com lindíssimas animações internacionais

* Filmes de Realidade Virtual

* Segunda edição do Seminário de Cinema e Educação

* Filmes da mostra estarão na plataforma Spcine Play

Um ciclo sobre as utopias e o cinema militante pós-68 (com obras assinadas por grande diretores do cinema), uma homenagem ao diretor brasileiro Silvio Tendler, o Panorama Internacional Contemporâneo, a Sessão Infantil e o 2º Seminário de Cinema e Educação, além dos novos programas Mostra Brasil Manifesto e Realidade Virtual.

Estas são algumas atrações da oitava edição da Mostra Ecofalante de Cinema, considerado como o mais importante evento audiovisual dedicado ao tema socioambiental da América do Sul. Todas as atividades são gratuitas e acontecem de 29 de maio a 12 de junho. No total, são exibidos 133 filmes, de 32 países. A mostra celebra a Semana Nacional do Meio Ambiente e o Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho.

O circuito de exibição foi ampliado e as sessões acontecem na salas Reserva Cultural, Espaço Itaú de Cinema – Augusta, Centro Cultural Banco do Brasil, no Circuito Spcine com as salas do Centro Cultural São Paulo, Cine Olido, Cidade Tiradentes, Roberto Santos, 15 unidades dos CEUs, além do Sesc Campo Limpo, seis Fábricas de Cultura, seis Casas de Cultura, três Centros Culturais da Prefeitura, totalizando 39 espaços, além de estar presente na plataforma Spcine Play.

Uma apresentação do Ministério da Cidadania e Secretaria Especial da Cultura, do Governo do Estado de São Paulo – por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa – e da Ecofalante, a Mostra Ecofalante de Cinema é viabilizada através da Lei de Incentivo à Cultura e do Programa de Apoio à Cultura (ProAC). Tem patrocínio do Mercado Livre, apoio da White Martins e da Kimberly-Clark e parceria do Sesc. É uma produção da Doc & Outras Coisas, co-produção da Química Cultural, correalização da Embaixada da França no Brasil, do Consulado Geral da França em São Paulo, do Instituto Francês do Brasil, do Centro Cultural Banco do Brasil, da Spcine e da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. A realização é da Ecofalante, do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, do Ministério da Cidadania e do Governo Federal.

A Crise das Utopias e o Cinema Militante Pós-68 é o tema do Panorama Histórico deste ano e traz obras primas assinadas por diretores como a franco-belga Agnès Varda, o italiano Michelangelo Antonioni, o francês Chris Marker, os norte-americanos Frederick Wiseman e Robert Kramer e o brasileiro Glauber Rocha, entre outros. Inédita, a seleção reflete sobre o mundo e a sociedade que se seguiram à grande efervescência cultural dos anos 1960. Entre os destaques, estão “Zabriskie Point”, sobre o contexto cultural da época; “Uma Canta, A Outra Não”, filme militante e um musical feminista; os vencedores do Oscar “Os Tempos de Harvey Milk” e “Corações e Mentes”; “O Leão de Sete Cabeças”, que Glauber Rocha dirigiu em um país africano fictício; e “O Fundo do Ar é Vermelho”, um balanço das utopias daquele que foi um século de luta e resistência. A retrospectiva traz ainda em primeira mão a versão restaurada do clássico de Guy Debord, “A Sociedade do Espetáculo” e ainda a versão restaurada pelo Instituto Arsenal da Alemanha do filme de Ruy Guerra “Mueda Memória e Massacre”, filmado em Moçambique no momento que se seguiu à sua libertação nacional. “Abrigo Nuclear” de Roberto Pires, que será igualmente exibido em cópia restaurada também faz parte da programação. O Panorama Histórico tem apoio da Embaixada da França no Brasil e do Instituto Goethe.

O homenageado desta edição, o brasileiro Silvio Tendler, merece uma mostra com onze títulos, incluindo obras de referência como “Os Anos JK – Uma Trajetória Política” (1980) e “Jango” (1984), duas das maiores bilheterias do cinema documental brasileiro de todos os tempos. A programação inclui ainda “Dedo na Ferida”, grande vencedor da 7ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental na categoria ‘Longas’ da Competição Latino-Americana, “O Veneno Está na Mesa”“O Veneno Está na Mesa 2”, além do recente “O Fio da Meada”, que estréia na Mostra e que aponta alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis. Estão na programação, entre outros, “Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá” e “Glauber o Filme, Labirinto do Brasil”.

Já o novo programa Mostra Brasil Manifesto traz títulos recentes assinados por diretores brasileiros de destaque, como “Amazônia, o Despertar da Florestania” da atriz Christiane Torloni e do cineasta Miguel Przewodowski; “Frans Krajcberg: Manifesto”, da realizadora Regina Jehá; a nova produção do premiado diretor Orlando Sena, “A Idade da Água”; o inédito “O Amigo do Rei”, de André D’Elia, (diretor de “Ser Tão Velho Cerrado”, vencedor em 2018 do prêmio de público da Mostra Ecofalante); e o longa-metragem, assinado por André di Mauro, “Humberto Mauro”, homenagem ao importante realizador pioneiro.

O programa Panorama Internacional Contemporâneo, um dos principais focos da programação do festival, reúne 44 obras e se organiza em sete eixos temáticos: Cidades, Economia, Povos & Lugares, Recursos Naturais, Saúde, Sociobiodiversidade e Trabalho. Entre os destaques está “Frente Atômica”, sobre cidadãos de uma cidade estadunidense que lutam contra a negligência governamental que permitiu um lixão radioativo em seus quintais, “Ecos de Istambul”, sobre vendedores ambulantes de Istambul que tem sua cultura e sua própria subsistência ameaçadas pela gentrificação; “Jane” , filme sobre a pioneira primatóloga Jane Goodall que utiliza imagens de arquivo de mais de 50 anos da National Geographic, “Antropoceno: A Era Humana”, selecionado pelos  festivais de Berlim e Sundance; “Vulcão de Lama: A Luta Contra a Injustiça”, da diretora Cynthia Wade, ganhadora do Oscar em 2008;  “Pra Cima, Pra Baixo e Pros Lados: Cantos de Trabalho”, que retrata uma aldeia no estado indiano de Nagaland; “A Verdade Sobre Robôs Assassinos”, que  mostra como os humanos estão se tornando cada vez mais dependentes de robôs, e “Eldorado”, obra premiada no festival de Berlim inspirada com uma criança refugiada italiana.

Um total de 24 produções estão incluídas na Competição Latino-Americana deste ano, representando obras da Argentina, Brasil, Colômbia, México, Peru e Venezuela. No júri, estão os cineastas Tadeu Jungle e Lina Chamie, além do crítico Heitor Augusto.

Já o Concurso Curta Ecofalante reúne 13 títulos, com trabalhos produzidos em Alagoas, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo e Santa Catarina, completando todas as regiões do país.

A Sessão Infantil traz cinco curta-metragens exibidos em grandes e importantes festivais internacionais, como o Short Film Corner do Festival de Cannes, Festival de Animação de Annecy, Animamundi e Dok Leipzig.

A nova sessão Realidade Virtual exibe projetos que se valem dessa nova tecnologia e expandem os limites da linguagem audiovisual para dar ao espectador a sensação de que ele foi transportado para um outro espaço e uma outra realidade. Participam “Mudanças Climáticas: O Preço do Banquete” (Brasil), que viaja aos confins da terra para descobrir as pessoas e os lugares mais atingidos pelas mudanças climáticas, e “Micro-Gigantes” (China), uma animação realista que permite experimentar o ecossistema a partir da perspectiva única do “micro mundo” dos insetos.

Entre as atividades paralelas, ganha destaque a segunda edição do Seminário de Cinema e Educação, uma reflexão sobre o potencial pedagógico do uso do cinema na escola, em uma realização do Sesc São Paulo e da Ecofalante. O teórico e professor de cinema Ismail Xavier ministra a masterclass “O Que o cinema ainda tem a ensinar às novas gerações”. Já o professor da Unesp de Rio Claro César Leite aborda “O que pode o cinema na escola? Experiências, corte, montagens, espacialidades e encontros”. O Seminário acontece nos dias 3 e 4 de junho, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo.

As atividades da Mostra Ecofalante de Cinema podem ser acessadas através dos seguintes links:

facebook.com/mostraecofalante

twitter.com/MostraEco

instagram.com/mostraecofalante

www.ecofalante.org.br

Sobre a Programação

1 – Panorama Histórico

Programação de destaque deste ano, A Crise das Utopias e o Cinema Militante Pós-68 reúne 14 obras realizadas entre 1970 a 1984 e assinadas por grandes diretores, como Agnès Varda, Michelangelo Antonioni, Chris Marker, Frederick Wiseman e Glauber Rocha, entre outros. Dois debates estão agendados: “Contracultura e 68” e “Ativismos Emergentes”.

O evento propõe, assim, uma reflexão sobre o mundo e a sociedade que se seguiram à grande efervescência cultural dos anos 1960, às utopias, aos sonhos de revolução, às promessas de uma vida mais fraterna e libertária. Trata-se de uma oportunidade de se revisar aquele período pós-utópico no qual uma geração, ao mesmo tempo em que tentava juntar os cacos daquilo que caia por terra, não se furtava a abraçar novas lutas.

Destaca-se “Zabriskie Point” (EUA, 1970, 114 min), em que o mestre Michelangelo Antonioni faz seu primeiro filme norte-americano, em que mergulha no contexto cultural da época, marcado, entre outros, pelo embate entre defensores e contestadores de uma sociedade cada vez mais pró consumo, esvaziada de sentido, em que o clima é de repressão e, ao mesmo tempo, resistência. A trama se inicia num campus universitário onde, após um protesto, um estudante suspeito de abater um policial foge. Em seu caminho, ele encontra uma estudante hippie. Juntos, ambos tomam o rumo das paisagens abertas do Vale da Morte, na Califórnia.

Dirigida pela recém falecida realizadora Agnès Varda, “Uma Canta, A Outra Não” (França, 1977, 120 min) é um filme militante e um musical feminista. Ele retrata duas personagens bastante diferentes: Pomme é uma cantora idealista, enquanto Suzanne torna-se mãe precocemente e tem que moldar sua vida a partir desse fato. Apesar disso, elas se mantêm unidas por fortes laços de amizades e sororidade.

Vencedor do Oscar de melhor documentário, “Os Tempos de Harvey Milk” (EUA, 1984, 88 min), de Robert Epstein, apresenta a carreira política de Harvey Milk, primeiro supervisor municipal de São Francisco assumidamente gay, desde sua ascensão enquanto ativista de bairro até tornar-se um símbolo da luta pelos direitos civis dos homossexuais.

Assinado pelo brasileiro Glauber Rocha durante seu exílio, “O Leão de Sete Cabeças” (Brasil/Itália/França, 1970, 103 min) se passa em um país africano fictício, onde dois homens, um latino-americano e um africano, unem forças para lutar contra o governo, que encontra-se em mãos europeias e norte-americanas.

“O Fundo do Ar é Vermelho” (França, 1977, 180 min) retraça a história das utopias daquele que foi um século de luta e resistência, mas também de opressão e violência. O diretor Chris Marker divide seu filme em duas partes: “As Mãos Frágeis”, em que 1968 e a Guerra do Vietnã aparecem como eventos chave e aglutinadores de movimentos sociais emergentes; e “As Mãos Cortadas”, em que mostra o declínio das utopias que marcaram a geração 1968. A versão exibida pela Mostra Ecofalante foi restaurada em 2008 e é a última validada por Marker.

Do cineasta brasileiro de origem moçambicana Ruy Guerra, a programação exibe “Mueda, Memória e Massacre” (Moçambique, 1979, 75 min), obra selecionada nos festivais de Berlim, Locarno e Roterdã e restaurada recentemente pelo Instituto Arsenal da Alemanha – é esta versão que a Mostra Ecofalante exibe. O filme documenta uma reconstituição do massacre de Mueda, ocorrido em 1960 e levado a cabo por portugueses no distrito de mesmo nome em Moçambique. O episódio sangrento significaria uma virada na história da luta contra o colonialismo no país, pois é a partir daí que emerge a  Luta Armada de Libertação Nacional.

Destaque na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes em 1975, “Milestones” (EUA, 1975, 206 min) é um épico dos diretores Robert Kramer e John Douglas. Trata-se de um mosaico que reúne histórias e depoimentos de pessoas que, no momento de crise das utopias de esquerda dos anos 1970 ainda tentam viver de acordo com seus princípios. O filme retrata, em última instância, um momento de passagem, em que um ideal de coletividade perde cada vez mais terreno para valores pautados em torno do consumo e do culto ao individualismo.

Um retrato coletivo de mulheres trabalhadoras de uma fábrica de roupas na Alemanha Oriental, “Ela” (Alemanha, 1970, 30 min) teve sua versão restaurada exibida este ano no Festival de Berlim. Sua direção é assinada pela veterana Gitta Nickel, uma das mais prolíficas cineastas da antiga RDA (Alemanha Oriental). As protagonistas falam sobre relacionamentos e planejamento familiar, educação de filhos e qualificação profissional, direitos das mulheres e igualdade na sociedade socialista.

Vencedor do Oscar de melhor documentário, “Corações e Mentes” (EUA, 1974, 102 min), de Peter Davis, tornou-se um marco emblemático sobre a Guerra do Vietnã. O filme disseca a ideologia que engendrou e sustentou este trágico episódio da história americana e mostra o que foram os horrores do conflito para aqueles que o viveram in loco. Imagens chocantes às quais a sociedade norte-americana não tinha tido até então acesso vêm à tona.

No documentário “Carne” (EUA, 1976, 112 min), dentro do estilo observacional que lhe é próprio, documentarista Frederick Wiseman examina o processamento da carne, desde o boi no pasto até o hambúrguer. A produção é amplamente automatizada e os trabalhadores são mostrados como uma engrenagem da linha de produção. Ao mesmo tempo em que traz um retrato seco e duro do mundo do trabalho, este filme acaba por questionar as escolhas e o modo de vida da sociedade de consumo, numa década em que esse tipo de crítica começava a aparecer de maneira contundente.

“Angela Davis, Retrato de uma Revolucionária” (EUA, 1972, 62 min), de Yolande Du Luart, traça um retrato da professora de filosofia, membro do Partido Comunista e dos Panteras Negras, Angela Davis. Realizado entre o outono de 1969 até o incidente envolvendo a morte do estudante Jonathan P. Jackson, em 1970, pelo qual ela seria acusada e perseguida. O filme, que tem participação de Jane Fonda,  dá vazão àquilo que a própria Angela Davis declara quando diz que se considera em estado de mobilização permanente.

Os anos 1970 viram a emergência de diversos filmes de ficção científica que propunham cenários distópicos em um mundo pós-desastre ambiental. No Brasil, em 1981, momento em que a discussão sobre o nuclear ganhava corpo, o diretor Roberto Pires filma “Abrigo Nuclear”, um marco do cinema brasileiro, apresentado aqui em sua versão restaurada. O longa-metragem (Brasil, 1981, 85 min) mostra o planeta contaminado por múltiplas explosões nucleares e os sobreviventes dos eventos vivem sob o solo, num abrigo controlado por cientistas. Após um acidente dentro do local, um grupo de rebeldes decide desafiar as restrições impostas e subir para a superfície.

O filósofo francês Guy Debord foi um dos pensadores da Internacional Situacionista e da Internacional Letrista e seus textos pautaram o ideário de Maio de 1968. Em “A Sociedade do Espetáculo” (França, 1973, 88 min), Debord transforma em filme o livro de mesmo nome, hoje um tratado crítico, clássico pioneiro sobre o papel das imagens produzidas pela mídia na cooptação da vida das pessoas na era do capitalismo avançado. O filme acaba de ser restaurado e esta versão será exibida pela primeira vez no Brasil pela Mostra Ecofalante.

Dirigido pelo cineasta Celso Luccas e pelo dramaturgo, ator e diretor teatral José Celso Martinez Corrêa, “25” (Brasil/Moçambique, 1975, 140 min) foi filmado durante as comemorações que se seguiram à independência de Moçambique. O filme aborda o processo de libertação do país, passando pela história da resistência e luta do povo moçambicano contra 400 anos de opressão e dominação colonialista. Os realizadores percorrem as diferentes fases da colonização, desde a invasão de Vasco da Gama ao início da conscientização descolonizadora, passando pela resistência, massacres e pelos dez anos de guerra popular contra o exército português.

2 – Homenagem: Silvio Tendler

Referência da cinematografia brasileira, o carioca Silvio Tendler é homenageado pela  Mostra Ecofalante, que exibe onze de suas mais marcantes obras.  O cineasta é conhecido por abordar em seus filmes personalidades como os ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek, o cineasta Glauber Rocha e Milton Santos, considerado como um dos maiores geógrafos do mundo. Nascido em 1950, Tendler já produziu e dirigiu mais de 80 títulos, entre longas, médias e curtas-metragens, além de séries televisivas.

A programação inclui Dedo na Ferida” (Brasil, 2017, 91 min), grande vencedor da 7ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental na categoria ‘Longas’ da Competição Latino-Americana. O filme trata do fim do estado de bem-estar social e da interrupção dos sonhos de uma vida melhor para todos em um cenário onde a lógica homicida do capital financeiro inviabiliza qualquer alternativa de justiça social.

O diretor assina duas das maiores bilheterias do cinema documental brasileiro de todos os tempos, presentes na programação. Tendo alcançado 800 mil espectadores nas salas comerciais, “Os Anos JK – Uma Trajetória Política” (Brasil, 1980, 110 min) retrata a eleição de Juscelino Kubitschek, o nascimento de Brasília e o golpe militar. Já Jango” (Brasil, 1984, 114 min) refaz a trajetória política de João Goulart, o 24° presidente brasileiro, que foi deposto por um golpe militar nas primeiras horas de 1º de abril de 1964. A obra chegou a impressionante marca de um milhão de espectadores.

O filme “O Fio da Meada” (Brasil, 2019, 77 min) estreia no festival. Aqui, acompanhamos a luta de povos tradicionais brasileiros contra a urbanização opressora, denunciando a violência no campo e nas comunidades tradicionais. No filme, caiçaras, quilombolas e indígenas lutam para sobreviver e para tentar impedir que suas reservas naturais sejam destruídas pelo processo de urbanização.

“O Veneno Está na Mesa” (Brasil, 2011, 50 min) retrata como o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no planeta, com 5,2 litros por ano por habitante. Muitos desses herbicidas, fungicidas e pesticidas que consumimos estão proibidos em quase todo mundo pelo risco que representam à saúde pública. Após impactar o Brasil mostrando as perversas consequências do uso de agrotóxicos, sua continuação, O Veneno Está na Mesa 2” (Brasil, 2014, 70 min), apresenta uma nova perspectiva, em que atualiza e avança na abordagem do atual modelo agrícola nacional e de suas consequências para a saúde pública. O filme apresenta experiências agroecológicas empreendidas, com alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis, que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. Por sua vez, “Agricultura Tamanho Família” (Brasil, 2014, 58 min) focaliza como no Brasil, dos quase cinco milhões de estabelecimentos rurais, 4,5 milhões correspondem a iniciativas de agricultura familiar, que se utilizam de estratégias de produção em pleno acordo com o meio ambiente, produzindo a maior parte dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. Ao lado de “O Veneno Está na Mesa” e “O Veneno Está na Mesa 2”, este filme forma a “Trilogia da Terra” do diretor Silvio Tendler.

Quando o mundo estava pautado pelo pensamento único da globalização, o professor Milton Santos foi a voz discordante denunciando as perversidades do que chamou de “globaritarismo”, sistema econômico que provoca a concentração de riqueza entre os ricos e que distribui mais pobreza para os desfavorecidos. O longa-metragem Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá” (Brasil, 2006, 90 min) apresenta a última entrevista do geógrafo, na qual ele traça um painel das desigualdades entre o Norte rico e o mundo do Sul saqueado, apresentando alternativas e um prognóstico otimista sobre o futuro da humanidade.

Documentário sobre a vida e a morte de Glauber Rocha, o polêmico cineasta baiano que revolucionou o cinema,Glauber o Filme, Labirinto do Brasil” (Brasil, 2003, 97 min) traz imagens do seu enterro, depoimentos recentes de quem acompanhou sua trajetória, seu pensamento e idéias, explodem na tela num filme-tributo à memória de um artista que idealizava um cinema independente e libertário. O filme integrou a competição oficial do Festival de Cannes.

Finalmente, “Utopia e Barbárie” (Brasil, 2009, 120 min) é um road movie que passa pela Itália, EUA, Brasil, Vietnã, Cuba, Uruguai, Chile, entre outros, documentando lugares e protagonistas da história, a fim de reconstruir uma narrativa do mundo a partir da Segunda Guerra Mundial. Mas tão importante quanto os temas retratados é o olhar do autor, que se constrói à medida em que o filme vai acontecendo, de maneira a dar voz a diferentes personagens, independentemente de suas orientações político-partidárias, com o objetivo de chegar a um rico painel de nossa época.

3 – Brasil Manifesto

Novo programa da Mostra Ecofalante, a Mostra Brasil Manifesto, traz um conjunto de filmes que constroem um retrato denso e agudo do Brasil, voltando seu olhar para questões primordiais que abarcam nossas identidades e nossa história. São cinco obras recentes, assinadas por nomes conhecidos, como Orlando Senna, Regina Jehá e a dupla Christiane Torloni e Miguel Przewodowski.

“Amazônia, o Despertar da Florestania” (Brasil, 2018, 111 min) aborda como o meio ambiente vem sendo tratado desde o início do século 20. Seus realizadores resgatam personagens históricos e reúnem depoimentos de representantes dos mais diversos segmentos ligados ao tema. Assinam a obra a atriz Christiane Torloni e o cineasta Miguel Przewodowski.

Em “Frans Krajcberg: Manifesto” (Brasil, 2018, 96 min) a realizadora Regina Jehá nos apresenta ao artista plástico, escultor, gravurista e fotógrafo, Frans Krajcberg. Enquanto se prepara para ser homenageado na 32ª Bienal de Arte de São Paulo, desvela suas memórias e reflexões. O artista, falecido em novembro de 2017, lutou por diversas causas, entre elas a preservação da floresta amazônica.

Nova produção do premiado cineasta Orlando Senna, “A Idade da Água” (Brasil, 2018, 82 min) alerta sobre a questão da falta de água no planeta e sobre a cobiça internacional pela Amazônia, o maior reservatório de água doce do planeta. Além de concentrar 20% da água potável do mundo, a Amazônia é a região com maior possibilidade de manter seus mananciais nas próximas décadas, graças à umidade de sua floresta.

O inédito “O Amigo do Rei” (Brasil, 2019, 142 min) faz sua estréia na Mostra Ecofalante. O filme tem como tema a maior tragédia ambiental da História do Brasil: o rompimento da barragem da Samarco em Mariana-MG e suas consequências. O trabalho anterior do diretor André D’Elia, “Ser Tão Velho Cerrado”, foi o vencedor em 2018 do prêmio do público da Mostra Ecofalante.

Exibido nos festivais de Veneza, Roterdã e Havana, o longa-metragem, assinado por  André di Mauro, “Humberto Mauro” (Brasil, 2018, 90 min) presta homenagem ao importante realizador, que viveu de 1897 a 1987 e é considerado um dos pioneiros do cinema latino-americano. Tendo como fio condutor uma entrevista gravada com Humberto Mauro nos anos 1960, o filme é um amplo painel dinâmico e humano sobre a criatividade e o cinema do realizador.

4 – Panorama Internacional Contemporâneo

Um dos principais focos da programação do festival, o Panorama Internacional Contemporâneo está organizada em sete eixos temáticos: Cidades, Economia, Povos & Lugares, Recursos Naturais, Saúde, Sociobiodiversidade e Trabalho. Estão reunidos um total de 44 títulos, representando obras de 22 diferentes países.

Estreante na programação, a temática Saúde traz cinco obras. “Frente Atômica” (EUA, 2017, 96 min) trata de cidadãos de uma cidade norte-americana que lutam contra a negligência governamental e corporativa que levaram ao despejo permanente de resíduo nuclear em duas comunidades de St. Louis. A produção foi vencedora dos prêmios de melhor documentário no International Docs Awards e no Festival de Uranium, entre outros. Sua diretora, Rebecca Cammisa, já havia conquistado o Oscar de melhor documentário em 2012 por “God is The Bigger Elvis”. “Soldados Atômicos” (EUA/Holanda, 2018, 23 min), de Morgan Knibbe, retrata, “soldados atômicos” que, depois de mais de quatro décadas de silêncio forçado, compartilham suas inimagináveis experiências com testes de bombas nucleares nos anos 1950. Em “Operação Enganosa” (EUA, 2018, 99 min), o documentarista indicado ao Oscar, Kirby Dick, traz as histórias de vítimas da tecnologia usada inadequadamente na medicina e expõe assustadoras más práticas corporativas e as complexas brechas legais que permitem que essas empresas saiam impunes. Já em “Ebola: Sobreviventes” (Serra Leoa/EUA, 2018, 86 min) o cineasta Arthur Pratt apresenta um retrato de Serra Leoa durante o surto de Ebola, expondo a complexidade da epidemia e da agitação sócio-política que a envolve. Por sua vez, “Mulheres Contra a AIDS” (EUA, 2017, 67 min), de Harriet Hirshorn, é o primeiro documentário sobre a história das mulheres na vanguarda do movimento global contra a AIDS. O filme revela como as mulheres não apenas formaram grupos de base como o ACT-UP nos EUA, mas como também exerceram funções essenciais na prevenção do HIV e no movimento de acesso ao tratamento em toda a África Subsaariana.

Em Cidades estão cinco títulos, entre eles “Ecos de Istambul” (Canadá/França, 2017, 100 min), de Giulia Frati, sobre vendedores ambulantes de Istambul que estão sendo despejados de seus bairros. Dirigido por de Anamika Haksar, “Sonhos da Velha Delhi” (Índia, 2018, 121 min) mescla realismo documental e fantástico, histórias verdadeiras e fictícias com poesia e sonhos, para criar uma carta de amor à cultura sincrética da Velha Deli e à sua história. O filme foi vencedor de melhor nova direção no Festival Kerala. Um road movie passado no Extremo Oriente da Mongólia e do Japão, “Memórias do Oriente” (Finlândia, 2018, 86 min), de Niklas Kullström e Martti Kaartinen, tem como foco o linguista e diplomata finlandês Gustaf John Ramstedt, considerado pai da moderna Mongolística, e questiona sobre como a linguagem pode conectar as pessoas sobre fronteiras culturais; e como a economia de mercado conseguiu substituir os velhos modos do passado. “Retrato Chinês” (Hong Kong, 2018, 79 min), de Xiaoshuai Wang, retrata em poses imóveis operários e trabalhadores da construção civil, agricultores, viajantes, mineiros e estudantes. Trata-se de uma viagem à sociedade, política, história, arquitetura, crença e família através da visão de um artista chinês sobre a China contemporânea. Por sua vez, “A Cidade do Futuro” (EUA, 2017, 9 min), de Chad Freidrichs nos mostra o projeto Minnesota Experimental City, uma tentativa futurista de resolver problemas urbanos criando uma cidade nova a partir do zero.

Seis títulos compõem a temática Sociobiodiversidade, com destaque para “Jane” (EUA/Reino Unido, 2017, 90 min), que tem por base mais de 50 anos dos arquivos da National Geographic. Seu diretor, indicado ao Oscar, Brett Morgen conta a história de Jane Goodall, cuja pesquisa sobre chimpanzés desafiou a consenso científico e revolucionou a compreensão do mundo natural. A obra tem ainda composições do músico Philip Glass. Premiado no conceituado Festival de Tribeca (EUA), “Quando Cordeiros se Tornam Leões” (EUA/Quênia, 2018, 76 min), o filme de Jon Kasbe retrata um traficante de marfim no Quênia que luta para manter seu sustento enquanto forças se mobilizam para destruir seu comércio.  Já “A Luta de Silas” (Canadá, 2017, 80 min), de Anjali Nayar, nos apresenta o ativista liberiano Silas Siakor e sua equipe de repórteres que apoiam comunidades tradicionais ao investigar as estruturas de poder que ameaçam suas terras. O filme foi premiado no Directors Guild of Canada, no Festival de Durban, além de ser vencedor do Amnesty International Human Rights Award.

Selecionado nos festivais de Berlim, Sundance, entre outros, “Antropoceno: A Era Humana” (Canadá, 2018, 87 min) documenta evidências da dominação humana no planeta em uma meditação cinematográfica sobre a reengenharia massiva humana no planeta. Abrangendo diversos países, o filme revela em imagens impressionantes como nossa mania de conquista define nossa relação com a Terra – e como criamos uma epidemia global. Trata-se da terceira colaboração entre o premiado fotógrafo Edward Burtynsky e os cineastas Jennifer Baichwal e Nicholas de Pencier. “Genesis 2.0” (Suíça, 2018, 113 min), de Christian Frei, acumulou premiações nos festivais de Moscou, Sundance e Seul ao investigar a possibilidade da ressurreição de espécies extintas. O filme acompanha um grupo dos chamados “caçadores de mamutes”, nas remotas ilhas no norte da Sibéria. Já “A História do Porco (em Nós)” (Bélgica, 2017, 120 min), de Jan Vromman, mostra nossa relação com esse animal que, por sua gula, se torna metáfora para a infinita ganância humana.O filme foi destaque em eventos internacionais como os festivais Vision du Réel e European Film Festival.

Em Recursos Naturais, está entre os destaques “Vulcão de Lama: A Luta Contra a Injustiça” (EUA, 2018, 80 min), de Cynthia Wade e Sasha Friedlander, que conta a luta de moradores que tiveram suas vilas soterradas por um tsunami de lama em ebulição. Consagrada mundialmente, a diretora Cynthia Wade ganhou mais de 40 prêmios, com destaque para um Oscar em 2008, além de uma segunda indicação em 2013. “Éden Sombrio” (Canadá/Alemanha, 2018, 80 min), de Jasmin Herold e Michael Beamish, focaliza a cidade de Fort McMurray, no norte do Canadá,  que abriga o maior projeto industrial do planeta, Athabasca Oil Sands (areias betuminosas). Um lugar de oportunidades desenfreadas onde sonhos podem se tornar realidade e pessoas de todo o mundo buscam fortunas. “Éden Sombrio” explora a realidade por trás do sonho de uma vida melhor. Já a animação “Carga Alheia” (França, 2017, 6 min) de Auguste Denis,  Emmanuelle Duplan, Valentin Machu e Malenaie Riesen, acompanha os dias vividos por um personagem que vive, trabalha, come e dorme em seu navio de carga. Um dia, ele fica sem comida e, para não morrer de fome, deve sair de sua rotina de conforto. O longa-metragem “As Cinzas do Carvão” (2017, 82 min) de Michael Bonfiglio, foi selecionado pelo Environmental Media Awards e mostra comunidades da indústria do carvão diante do futuro frente a administração Trump. A obra vai além da retórica da “guerra ao carvão” para apresentar histórias convincentes e comoventes sobre o que está em jogo para nossa economia, saúde e clima. Premiado no Festival de Sundance e selecionado por diversos eventos internacionais, o impressionante “A Terra dos Sábios” (Bélgica, 2016, 84 min), de Pieter-Jan De Pue, gira em torno de gangues de crianças afegãs que adquirem velhas minas soviéticas e mantém um rígido controle sobre caravanas no deserto. Exibido em festivais na Alemanha e na Suíça, “O Tribunal do Congo” (Alemanha/Suíça, 2017, 100 min), de Milo Rau, aborda os 20 anos de guerra civil e atrocidades geradas pela ganância em um conflito que já custou a vida de mais de 6 milhões de pessoas no Congo.

Povos & Lugares, uma das temáticas favoritas do público do Panorama Internacional Contemporâneo, reúne  sete títulos, como “Pra Cima, Pra Baixo e Pros Lados: Cantos de Trabalho” (Índia, 2017, 83 min), selecionado pelo prestigiado Festival de Amsterdã, o IDFA. Dirigido por  Anushka Meenakshi e Iswar Srikumar, retrata uma aldeia no estado indiano de Nagaland, perto da fronteira com Myanmar, com cerca de 5.000 habitantes, quase todos cultivando arroz para consumo próprio. Nele, o ritmo e o movimento de capinar, arar, plantar e colher é acompanhado por músicas e letras que ecoam pelas colinas. Conforme a estação progride, o tom muda e a música fica cada vez mais hipnótica. Em “Ma’Ohi Nui” (Bélgica, 2018, 113 min), de Annick Ghijzelings, surge uma outra face da colonização contemporânea na Polinésia francesa, nascida dos 30 anos de testes nucleares. Vemos o impulso vital do povo Maohi tentando sobreviver e  buscar o caminho da independência. A multi-premiada animação “Obon” (Alemanha, 2018, 15 min), de André Hörmann e Anna Samo, focaliza uma sobrevivente ao bombardeio atômico de Hiroshima: no meio da destruição total, ela encontra um momento de felicidade. Em “A Ausência dos Damascos” (Paquistão/Alemanha, 2018, 49 min), de Daniel Asadi Faezi, uma aldeia nas montanhas é atingida por um deslizamento de terra. O que resta são as pessoas e suas histórias, transmitidas de uma geração para outra. “O Botanista” (Canadá, 2017, 20 min), de Maude Plante-Husaruk e Maxime Lacoste-Lebuis, se passa após a queda da União Soviética, quando o Tajiquistão mergulhou em uma devastadora guerra civil. Uma fome atingiu a região montanhosa do Pamir, onde Raïmberdi, um botânico apaixonado e engenhoso, construiu sua própria estação hidrelétrica para ajudar sua família a sobreviver à crise. Premiado no Festival de Zurique, na Suíça, “Bem-vindos a Sodoma” (Áustria/Gana, 2018, 92 min), de Florian Weigensamer e Christian Krönes, retrata o maior lixão de lixo eletrônico do mundo: Agbogloshie, em Gana. Lá, crianças e adolescentes desmontam equipamentos, em meio a fumaça tóxica, em uma rotina venenosa.

No eixo Trabalho estão nove títulos. O premiado “A Verdade Sobre Robôs Assassinos” (EUA, 2018, 83 min), de Maxim Pozdorovkin, mostra como os humanos estão se tornando cada vez mais dependentes de robôs e traz os vários pontos de vista, de engenheiros a jornalistas e filósofos, que falam sobre diferentes situações em que os robôs causaram a morte de seres humanos e como eles representam uma ameaça para a sociedade. Já o curta-metragem “Garotas de Plástico” (Coréia do Sul, 2017, 7 min), de Nils Clauss, mostra bonecas robôs que, com movimentos lentos e graciosos e mensagens geradas digitalmente,  contribuem para a sexualização do espaço público em frente às instalações de seus proprietários. “Cinzas e Brasas” (França, 2018, 71 min), de Manon Ott, traça um retrato poético e político de  subúrbio da classe trabalhadora em processo de mudança, cuja perspectiva está entre o trabalho flexível e o desemprego. Ao mesmo tempo, nos convida a conhecer seus habitantes: uma jornada do anoitecer ao amanhecer onde, enquanto falam de suas vidas, eles também expressam sua revolta e busca pela liberdade. Em “Bisbee’17” (EUA, 2018, 112 min), obra vencedora de premiações e dirigida por Robert Greene, uma antiga cidade mineira na fronteira do Arizona (EUA) com o México finalmente conta com seu dia mais sombrio: a deportação de 1.200 imigrantes mineiros, exatamente há 100 anos. Os moradores locais colaboram para encenar recriações de seu passado controverso. Em “Como se Forjou o Aço” (Croácia, 2018, 12 min), de Igor Grubić, um pai leva seu filho para uma fábrica abandonada onde havia trabalhado. A visita se torna um momento de catarse e restabelece a relação entre pai e filho. “Stratum” (Reino Unido, 2018, 12 min), de Jacob Cartwright e Nick Jordan, explora a genealogia social, cultural e ecológica de uma região pós-industrial. Já “Sinfonia Industrial” (Polônia, 2018, 61 min), de Jaśmina Wójcik, trabalha com sons e memória do corpo, fazendo com que os ex-operários de uma fábrica re-encenem um dia de trabalho. “Dedos Ágeis” (Itália, 2017, 52 min), de Parsifal Reparato, mostra mulheres vietnamitas que trabalham em fábricas de algumas das marcas eletrônicas mais populares. São milhares de jovens trabalhadoras migrantes vindas de aldeias remotas nas terras altas do norte do Vietnã que agora vivem em um subúrbio de Hanoi, um distrito desenvolvido em torno de um dos maiores locais de produção industrial do mundo. Por sua vez, “CamperForce” (EUA, 2017, 16 min), de Brett Story, foi exibido no festival canadense Hot Docs, um dos mais importantes eventos de documentários do mundo. Na obra, o sonho norte-americano é reescrito à medida que a crise econômica faz com que aposentados se mudem para trailers e se unam a uma força de trabalho temporária.

Finalmente, na temática Economia, destaca-se “Eldorado” (Suíça/Alemanha, 2018, 92 min), obra premiada nos festivais de Berlim e de Palm Springs, do mesmo diretor de “Mais que Mel”, filme de abertura da 2ª Mostra Ecofalante. Inspirado em seu encontro pessoal com uma criança refugiada italiana durante a Segunda Guerra Mundial, o diretor Markus Imhoof conta como os refugiados e os migrantes são tratados hoje: no Mar Mediterrâneo, no Líbano, na Itália, na Alemanha e na Suíça. “A Indústria do Leite” (Alemanha/Itália, 2017, 91 min), de Andreas Pichler (mesmo diretor de “A Síndrome de Veneza, exibido em nossa 3ª edição), foi premiado no Fünf Seen e Green Screen International Wildlife. A obra promove um olhar crítico no sistema de leite, permitindo conhecer os fazendeiros, proprietários de laticínios, políticos, lobistas, ONGs e cientistas. O filme revela verdades surpreendentes. “Golpe Corporativo” (Canadá/EUA, 2018, 90 min), de Fred Peabody, retrata como o Presidente Trump é o resultado de fracassadas políticas globalistas neoliberais e um “golpe corporativo”, no qual corporações e bilionários gradualmente assumiram o controle do processo político. No filme estão as histórias das vítimas finais – classe trabalhadora e pessoas pobres em “zonas de sacrifício”. Já “Os Despossuídos” (Canadá/Suíça, 2018, 81 min), de Mathieu Roy, focaliza uma jornada impressionista que lança luz sobre a luta diária de agricultores famintos do mundo. Nesta era da agricultura industrializada, em todo o mundo, as pessoas que produzem alimentos recebem menos do que qualquer outra profissão. Parte cinema-vérité, parte ensaio, o filme examina os mecanismos pelos quais os agricultores estão caindo em um sombrio ciclo de desespero, dívida e desapropriação. “Superalimentos” (Canadá, 2018, 66 min), de Ann Shin, revela o efeito cascata da indústria dos superalimentos, super-nutricionais, nas famílias de agricultores e pescadores mundo afora, explorando paisagens e povos da Bolívia, Etiópia e do arquipélago de Haida Gwaii, no Canadá. “A Mentira Verde” (Áustria, 2018, 93 min), de Werner Boote, focaliza carros elétricos, alimentos sustentáveis e comércio justo… E como grandes empresas querem nos convencer de que podemos salvar o mundo apenas com o consumo consciente, mas isso não passa de uma mentira muito difundida e perigosa. “Utopia Revisitada” (Áustria, 2018, 91 min), de Kurt Langbein, mostra como a economia de mercado levou prosperidade aos países desenvolvidos às custas dos outros, gerando cada vez mais desigualdade.

5 – Competição Latino-Americana

A Competição Latino-Americana abriga títulos da Argentina, Brasil, Colômbia, México, Peru e Venezuela, em um total de 24 obras. As obras serão analisadas por um júri composto pelos cineastas Lina Chamie (de “Tônica Dominante” e “Via Láctea), o crítico Heitor Augusto e Tadeu Jungle, diretor e responsável por trabalhos em realidade virtual. Os filmes concorrem aos seguintes prêmios:

Melhor Longa-Metragem Pelo Júri – com prêmio de R$ 15.000,00;

Melhor Curta-Metragem Pelo Júri – com prêmio de R$ 5.000,00 e

Melhor Filme Pelo Público

Conheça os filmes da Competição:

32-Rbit” (México/Alemanha, 2018, 8 min, direção de Victor Orozco Ramirez) – Minha avó estava convencida de que o único animal que comete o mesmo erro mais de duas vezes é o ser humano, e eu estava totalmente convencido de que tudo pode ser resolvido com CTRL+Z. Um ensaio sobre minha internet, um mundo paralelo onde perda de memória, erros, vigilância e dependência turvam a tudo e a todos.

A Camareira” (México, 2018, 98 min, de Lila Avilés) – Eve, uma jovem camareira de um luxuoso hotel da Cidade do México, enfrenta a monotonia de longas jornadas de trabalho com exames silenciosos de pertences esquecidos e amizades que nutrem seu recém-descoberto e determinado sonho por uma vida melhor.

À Cura do Rio” (Brasil, 2018, 19 min, de Mariana Fagundes) – Um velho conhecido da etnia Krenak, o Watú –  o famoso Rio Doce –  está doente. Através de um ritual xamânico, corpo e natureza se unem para um diálogo profético que enxerga a catástrofe, mas também a salvação do rio. O filme mostra o impacto da tragédia de Mariana em um grupo indígena Krenak.

Alma Bandida” (Brasil, 2018, 15 min, de Marco Antônio Pereira) – Numa pequena cidade no interior do país, jovens sem oportunidade de emprego precisam garimpar pedras em buracos fundos. Dentre vários caminhos até os sonhos a se realizarem, é preciso ter coragem e determinação para tentar vencer na vida. Mas, às vezes, a gente gosta de coisas e pessoas erradas.

Antes do Lembrar” (Brasil, 2018, 21 min, de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes) – Nas primeiras evidências de humanidade, no sul do Brasil, encontramos, lado a lado, as partes visíveis e invisíveis de uma história.

Caçador” (Brasil, 2018, 20 min, de Leonardo Sette) – Após um voo de monomotor sobre a floresta, ao chegar na aldeia para onde está se mudando, Nakuá se sente mal. Sem entender direito o que está sentindo, solitário, Nakuá se consulta com Dr. Bruno e se apresenta como caçador.

Cartucho” (Colômbia, 2017, 55 min, de Andrés Chaves Sánchez) – Na Colômbia, um rico bairro colonial, formado por famílias e comércios tradicionais, tornou-se o lar de centenas de sem-tetos e criminosos. Suas ruas e casas antigas tornaram-se locais de consumo de crack. O filme reconstrói a memória fragmentada de El Cartucho, bairro de Bogotá violentamente demolido pelo governo e transformado em um parque estéril em 2001. Esta é a história da degradação que representa uma sociedade que tenta varrer o lixo para debaixo do tapete.

Empate” (Brasil, 2018, 90 min, de Sérgio de Carvalho) – O que é um empate? “É uma forma de luta que nós encontramos para impedir o desmatamento. A gente se coloca diante dos peões e jagunços, com nossas famílias, mulheres, crianças e velhos, e pedimos para eles não desmatarem e se retirarem do local. Eles, como trabalhadores, a gente explica, estão também com o futuro ameaçado. E esse discurso, emocionado, sempre gera resultados. Até porque quem desmata é o peão simples, indefeso e inconsciente.” (Chico Mendes. Jornal do Brasil, 13 dias antes de seu assassinato).

Entremarés” (Brasil, 2018, 20 min, de Anna Andrade) – No chão de lama, mulheres compartilham os seus vínculos e vivências com a maré, a pesca e a Ilha de Deus.

Está Tudo Bem” (Venezuela/Alemanha, 2018, 70 min, de Tuki Jencquel) – A dona de uma farmácia, um jovem cirurgião, um ativista social e dois pacientes com câncer enfrentam a falta de medicamentos que está no centro da crise do sistema de saúde da Venezuela. Sua rotina inclui percorrer diariamente várias farmácias em busca de remédios, que demoram a chegar e nunca vêm em quantidade suficiente, e vasculhar a internet em busca das caixas que sobraram dos pacientes mortos.

Filhos de Macunaíma” (Brasil, 2019, 90 min, de Miguel Antunes Ramos) – Três famílias indígenas vivem na cidade de Boa Vista, no norte do Brasil. Enquanto Maria se despede da mãe, que não fala português e adoece na aldeia, vê o filho Daniel se tornar evangélico e recusar suas tradições. Teuza procura na Guiana uma vida mais intensa e vive se deslocando, entre festas, problemas familiares e buscas por trabalho. Arlen, indígena policial e morador de um conjunto habitacional na periferia, tenta voltar para a aldeia onde sua família mora, enquanto lida com a violência e outros problemas na cidade. Histórias de deslocamento e identidade de personagens em busca de si mesmos.

GIG – A Uberização do Trabalho” (Brasil, 2019, 60 min, de Carlos Juliano Barros, Caue Angeli e Maurício Monteiro Filho) – O trabalho mediado por aplicativos e plataformas digitais cresce no mundo todo. Mas o avanço da chamada “Gig Economy”, fenômeno também conhecido no Brasil por “uberização”, vem despertando debates sobre a precarização e a intensificação do trabalho numa sociedade cada dia mais conectada.

Homens e Caranguejos” (Brasil, 2017, 25 min, de Paulo de Andrade) – Josué está apenas começando a abrir os olhos para o espetáculo multiforme da vida, e o que ele encontra é um mar de miséria. Ao seu redor, uma paisagem peculiar formada por lama, caranguejos e seres anfíbios, habitantes da terra e da água, meio homens e meio bichos. Seres humanos que se fazem irmãos de leite dos caranguejos e encontram força na maré para resistir, sobreviver, viver.

Lapü” (Colômbia, 2019, 75 min, de César Alejandro Jaimes e Juan Pablo Polanco – Amanhece no deserto de La Guajira. Doris, uma jovem Wayúu, acorda inquieta em sua rede. Ela teve um sonho que não sabe interpretar e, ao contá-lo à sua avó, entende que sua prima, que morreu há vários anos, está pedindo para que ela exume seus restos mortais e enterre-os novamente no cemitério da família, na alta Guajira. Este ritual, chamado de Segundo Enterro, é o evento mais importante na vida de um Wayúu e um processo de catarse que fará com que Doris entre em contato direto com a morte, o mundo espiritual e as memórias de sua prima.

Mesmo Com Tanta Agonia” (Brasil, 2018, 20 min, de Alice Andrade Drummond) – É aniversário da filha de Maria. No trajeto do trabalho para a festa, ela fica presa no metrô, que para de correr por alguns minutos.

Meteorito” (México, 2018, 15 min, de Mauricio Sáenz) – Os homens-pássaro sofrem misteriosas quedas em busca do lugar onde nasce o sol. Uma realidade alterada através de ritos que convergem em um objetivo: morrer para gerar vida.

O Espanto” (Argentina, 2017, 67 min, de Martín Benchimol e Pablo Aparo) – Em um recôndito povoado da Argentina, os remédios caseiros substituem a medicina tradicional. Toda doença é tratada pelos vizinhos, exceto “o espanto”, uma enfermidade rara que só pode ser curada por um ancião que ninguém se atreve a visitar.

O Quadrado Perfeito” (Argentina, 2018, 61 min, de Pablo Bagedelli) – Um documentário sobre o mundo da criação de cães de raça pura. Uma fotógrafa de competição mergulha nas memórias de seu falecido marido para nos mostrar seus melhores pódios; um casal narra seus próprios problemas de fertilidade enquanto nos ensina as proporções corretas da cabeça de um poodle; a comissão de juízes da Federação Cinológica Argentina discute modificações no regulamento da instituição… Entre biografias, sprays para o pelo, escritórios e teorias genéticas, é revelado todo um sistema que sustenta e reproduz as raças caninas.

Palenque” (Colômbia, 2017, 25 min, de Sebastián Pinzón Silva) – Guiada por temas que tocam vida e morte e um ritmo musical afro-latino  constante, uma ode a uma pequena cidade que contribuiu imensamente para a cultura e a memória coletiva da Colômbia: San Basilio del Palenque, o primeiro povoado das Américas a se libertar do domínio europeu.

Parque Oeste” (Brasil, 2018, 70 min, de Fabiana Assis) – Depois de ser vítima de uma violenta desocupação ocorrida no bairro Parque Oeste, em Goiânia, uma mulher reconstrói sua vida tendo como norte a luta por moradia.

Terra Molhada” (Colômbia, 2017, 17 min, de Juan Sebastián Mesa) – Oscar vive com seus avós em uma humilde casa de campo, ameaçada por um grande projeto hidrelétrico. Diante da incerteza e da dor de serem forçados a deixar o local onde nasceram, seus avós decidem acabar com tudo.

Um Filósofo na Arena” (México/Espanha, 2018, 100 min, de Aarón Fernández e Jesús Muñoz) – Após sua aposentadoria, o filósofo francês Francis Wolff, grande fã de touradas, decide fazer uma viagem pela França, México e Espanha, acompanhado por dois cineastas mexicanos que nada sabem sobre esse mundo, hoje com os dias contados. Ao longo da jornada, eles encontram vários personagens, com os quais refletem sobre a relação dos seres humanos com os animais e a natureza, e, acima de tudo, sobre a nossa relação com a morte e o significado da jornada que chamamos vida.

Wiñaypacha” (Peru, 2017, 86 min, de Óscar Catacora) – O filme acompanha o casal de idosos Willka e Phaxsi que, com mais de oitenta anos de idade, vivem isolados em uma parte remota dos Andes peruanos, a mais de cinco mil metros de altura. Eles sobrevivem às inclemências do tempo e da miséria, esperando que o vento lhes traga de volta seu filho que emigrou. O filme é repleto de metáforas que expressam a realidade atual dos povos originários e da cultura andina, refém da emigração dos jovens que se enredam no sistema globalizado.

Yover” (Colômbia, 2018, 14 min, de Edison Sánchez) – Yover tem apenas doze anos, mas precisa trabalhar. Todos os dias ele pedala pelas ruas da nova Bojayá – um povoado sobrevivente do massacre mais sangrento da guerra na Colômbia – e se mantém, roubando da realidade alguns minutos da fantasia e da alegria típicas do mundo infantil.

6 – Concurso Curta Ecofalante

O Concurso Curta Ecofalante incentiva a produção audiovisual brasileira de jovens realizadores, abrindo uma janela para ela. Curtas de estudantes universitários, de ensino médio e técnico, e de cursos livres de cinema concorrem ao Prêmio do Júri, de 3 mil reais, e ao Prêmio de Público. Fazem parte do júri os cineastas Thiago Mendonça e Nádia Mangolini, e o professor do departamento de cinema da Unicamp, Pedro Guimarães.

Este ano, foram selecionados curtas das cinco regiões do país, incluindo os estados de Alagoas, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, São Paulo e do Distrito Federal.

Seus temas dialogam com as preocupações globais e latino-americanas, presentes nos outros programas do festival. Com soluções criativas, os curtas abordam desde o mundo da tecnologia, que a cada dia molda mais o nosso cotidiano, passando por nossa relação com a cidade e como ela é pautada pelo trabalho, até o retrato de povos tradicionais que enfrentam crimes contra seu meio e suas vidas, e lutam por suas terras e sua identidade.

Estão na competição:

À Luz do Sol” (Brasil, 2017, 13 min), realizado pela UFPA – Universidade Federal do Pará e dirigido por Edielson Shinohara, o filme traz relatos sobre aspectos da trajetória de personagens travestis e transexuais de Belém-PA, na região amazônica.

ATL: Acampamento Terra Livre” (Brasil, 2017, 7 min), produção da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais dirigida por Edgar Kanaykõ Xakriabá, se passa em abril de 2017, em Brasília, quando povos indígenas de todos as regiões do país e das mais diversas etnias reuniram milhares de lideranças no maior Acampamento Terra Livre da história exigindo seus direitos, que têm sido sistematicamente vilipendiados.

Produzido pelo É NÓIS NA FITA – Curso Gratuito de Cinema e assinado por Beatriz Costa, “Beta” (Brasil, 2018, 7 min) se passa em um futuro distópico, no qual seres humanos perderam sua subjetividade e a natureza é reprocessada para consumo. Eles acordam. Eles trabalham. Eles dormem. Eles acordam. Eles trabalham. Eles dormem. Eles acordam… o que é aquilo?!

Corpo D’Água” (Brasil, 2018, 10 min) focaliza as águas do Rio Mundaú. Lá, a lagoa-mãe dos ribeirinhos verteu e se fez laguna. Uma região urbana se delineia em suas margens. Entremeio às transformações, a lagoa expõe suas cicatrizes, persistentes na memória de seus habitantes, reescrevendo a biografia de uma cidade que se desenvolve em conflito com a natureza. A produção é do IFAL – Instituto Federal de Alagoas e a direção é assinada por Aline Alves, Camila Moranelo, Dávison Souza, Elizabete França, Isadora Padilha, Ítalo Rodrigues, Jean Bonifácio, Marcella Farias, Maykson Douglas e Nycollas Augusto.

Derradeiro” (Brasil, 2018, 15’) retrata seu Luiz, que navega no oceano de suas memórias, deixando as lembranças falarem mais alto do que a realidade. A realização é da Escola Municipal Profª Ana Ribeiro Barbosa e a direção é assinada por Renata Alves.

Estrela D’Água” (Brasil, 2017, 4 min) focaliza uma indígena tupi-guarani que encontra-se totalmente fascinada pela Lua, e faz tudo ao seu alcance para continuar admirando-a. O filme é baseado na lenda da Vitória-Régia, dos indígenas tupi-guarani, é assinada por Julia Milreu. Uma produção da Univille – Universidade da Região de Joinville.

Produção da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, “Laklãnõ/Xokleng: Os Órfãos do Vale” (Brasil, 2018, 30 min) resgata a tradição oral como forma de reafirmação e preservação de sua história e cultura. O filme relaciona a chegada dos imigrantes europeus em seu território, na metade do século 19, com as condições atuais. A direção é de Andressa Santa Cruz e Clara Comandolli.

Em “Loucos pelo Bento” (Brasil, 2019, 13 min), de Juliana Chelotti, retrata dois ex-moradores de um município devastado pela lama na maior tragédia ambiental do Brasil, em 2015. Suas vidas foram transformadas desde então e hoje, enquanto Sandro não consegue deixar de olhar para trás, Zezinho acredita que a melhor saída para eles seja seguir em frente. A produção é da New York Film Academy.

Mãe do Mangue” (Brasil, 2018, 17 min), de Isabella Cruvinel Santiago e Jonas Torralba Batista, retrata o modo de vida e trabalho das mulheres pescadoras da Reserva Extrativista de Canavieiras, na Bahia. A produção é da FGV – Fundação Getulio Vargas.

Em “O Pinguim” (Brasil, 2018, 3 min), depois de encontrar seu pinguim de porcelana dentro do congelador, uma jovem estilista precisa descobrir o que está acontecendo em seu apartamento. A realização da UFF – Universidade Federal Fluminense e a direção é de Vitor Neves Martins.

Outra realização de alunos do É NÓIS NA FITA – Curso Gratuito de Cinema, “Prestes” (Brasil, 2018, 9 min) sobe as escadas do Edifício Prestes Maia junto de Madalena, uma empregada doméstica que mora na ocupação há anos. Seu percurso revela uma íntima relação com o espaço e seus moradores, a beleza de um cotidiano instável e a dura decisão de partir ou ficar. A direção é de Gabriela Sallum.

“Reality” (Brasil, 2017, 4 min) explora como as pessoas passam mais tempo na internet do que vivendo a realidade. A tela, do computador ou do celular, se tornou uma entrada para um novo mundo ou para uma caverna da qual temos medo de sair? Afinal, o que é a realidade? A produção é da E.E Paulo Roberto Faggioni e a direção é assinada por João Victor Nascimento.

Produção da Universidade Anhembi Morumbi e dirigida por Marcos Damasceno, “Vitrine Musical” (Brasil, 2018, 11 min) se passa em meio a uma sociedade agitada e alienada, na qual a diversidade étnica e cultural percorre todos os lugares, cantores e grupos musicais se apresentam nas ruas da grande selva de pedra.

7 – Sessão Infantil

A Sessão Infantil traz filmes para introduzir às crianças, de maneira lúdica, uma gama de questões socioambientais contemporâneas.

Na 8ª edição da Mostra Ecofalante, teremos cinco curta-metragens exibidos em grandes e importantes festivais internacionais, como o Short Film Corner do Festival de Cannes, Festival de Animação de Annecy, Animamundi e Dok Leipzig. Saiba mais sobre cada um deles:

Dara – A Primeira Vez que Fui ao Céu” (Brasil, 2017, 18 min), de Renato Candido de Lima, se passa nos anos 1960, quando uma garota negra de 10 anos reside em um sítio com os avós em Nova Soure, na Bahia. Na véspera de migrar para São Paulo, Dara deseja montar um balancinho no cajueiro, mas seus pais já estão em São Paulo e é hora da menina partir.

Em “Dois Trens” (Rússia, 2017, 10 min), de Svetlana Andria, pai e filho são trens urbanos que trabalham valentemente para estarem sempre na hora certa em seu caminho pela cidade. A produção foi selecionado para o renomado Festival de Annecy, na França, assim como “Gokurōsama” (França, 2016, 7 min). Dirigido pelos realizadores Aurore Gal, Clémentine Frère, Yukiko Meignien, Anna Mertz, Robin Migliorelli e Romain Salvini, o enredo se passa no início da manhã, quando uma velha senhora japonesa trava as costas durante sua rotina em sua loja, dentro de um shopping. Sua jovem assistente decide ajudar e tenta levá-la a um médico alguns andares acima. Parece simples, não parece?

“O Sonho da Galinha” (Estônia, 2016, 5 min), de Andres Tenusaar, se passa em uma tarde de outono quando a família está reunida no parque, os pássaros migrantes voam pelo céu e uma pequena galinha sonha com os dias ensolarados do sul e quer seguir a migração. A obra foi selecionada no festival alemão Dok Leipzig.  Finalmente, “Strollica” (Itália, 2017, 10 min), Peter Marcias, mostra que, quando uma turbina eólica é construída em seu parque favorito, uma garota aprende sobre fontes de energia renovável.

8 – Realidade Virtual

Tendência contemporânea do audiovisual, projetos que lançam mão de realidade virtual estão presentes na Mostra Ecofalante de Cinema.  Conhecida internacionalmente como VR, nela a tecnologia transporta o usuário para outra realidade, provocando o seu envolvimento por completo. As produções são criadas através de tecnologia de interfaces e lançam mão de recursos gráficos 3D ou imagens 360o..

Nesta edição estão incluídos obras do Brasil e da China. “Mudanças Climáticas: O Preço do Banquete” (Brasil, 2018, 9 min), de Danfung Dennis e Eric Strauss, faz parte de uma série de documentários de realidade virtual expansiva da Participant Media e Condition One. A série viaja aos confins da terra para descobrir as pessoas e os lugares mais atingidos pelas mudanças climáticas. Somos convidados a testemunhar a bela extensão da floresta Amazônica ameaçada por madeireiros, à medida que árvores maciças são derrubadas para dar lugar a fazendas de gado industriais. Pode a Amazônia sobreviver à crescente demanda global por carne bovina?

“Micro-Gigantes” (China, 2018, 7 min), de Yifu Zhou, é uma animação realista que permite experimentar o ecossistema a partir da perspectiva única do “micro mundo” dos insetos. Pequenas flores são árvores poderosas, pulgões são feras, gramas se tornam florestas, rochas são montanhas e gotas de água são tão grandes quanto piscinas. É neste mundo magnificamente surreal – mas baseado na realidade – que uma história de sobrevivência brutal e hipnotizante se desenrola.

9 – Atividades Paralelas

2º Seminário de Cinema e Educação

Nos dias 3 e 4 de junho, acontece a segunda edição do Seminário de Cinema e Educação, uma reflexão sobre o potencial pedagógico do uso do cinema na escola. A iniciativa é do Sesc São Paulo e da Ecofalante e acontece no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc-SP.

O teórico e professor de cinema Ismail Xavier é destaque do ciclo e ministra a masterclass “O que o cinema ainda tem a ensinar às novas gerações”. Autor de textos como “O Discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência” e “Sétima arte: um culto moderno”, Xavier aborda como cinema traz para as novas gerações dois tipos de importantes conteúdos formadores. O primeiro diz respeito à história da linguagem audiovisual, que se constituiu através dele, antes de se expandir para novos suportes técnicos; uma história que tem enorme impacto na capacidade de compreensão desta linguagem e suas variantes conforme as diferentes mídias de hoje em seus distintos gêneros de produção, um preparo que contribui para o espírito crítico do espectador e para a criatividade do realizador em quaisquer dessas mídias. O  segundo diz respeito ao enriquecimento da sensibilidade e da compreensão da história em seus múltiplos aspectos e, em particular, da arte moderna e contemporânea, dado o enorme acervo de informações e experiências estéticas e acústicas acumuladas por mais de um século, seja nos documentários, seja na ficção.

Já a palestra “O que pode o cinema na escola? Experiências, corte, montagens, espacialidades e encontros” é ministrada pelo professor César Leite, da Unesp-Rio Claro, e trata como nas duas últimas décadas, nos espaços de convergência entre Cinema e Educação, possibilidades pedagógicas vêm surgindo e provocando diversas reflexões.

O seminário aborda ainda “Que tipo de abordagem para o cinema e com quais objetos?”“Formação de professores: principais desafios necessários”, “A importância da formação de um repertório cinematográfico: como a escola e o professor podem contribuir? e “Produção de filmes na escola: fazer e mostrar”.

(#Envolverde)