Por Patrícia Kalil, especial para Envolverde –
Ainda no primeiro dia do oitavo Fórum Global do Pacto de Milão, duas plenárias discutiram lições aprendidas durante a pandemia de Covid-19 sobre segurança alimentar, quando a fome e a desnutrição dispararam no mundo e várias cidades tiveram graves problemas de abastecimento. A crise escancarou a necessidade de mudança sistêmica na alimentação global no qual as transnacionais da indústria de alimentos dominam o comércio mundial de comida.
Problemas de má nutrição tanto por falta de alimentos quanto por excesso de ultraprocessados são evidências científicas, já divulgadas pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU) e relatórios de diversos institutos no mundo. A população mundial já enfrenta uma epidemia de obesidade e desnutrição. O fórum traz um alerta inevitável para os governos, visto que a crise climática e a maior frequência de eventos severos de seca e calor trarão consequências ainda mais severas que as enfrentadas pela população entre 2020-2021.
Prefeituras de cidades de todo mundo precisam estar preparadas e desenvolver sistemas alimentares locais e resilientes, que garantam alimentação saudável para suas populações. São necessárias políticas públicas e vontade política. Os governos precisam de planos concretos para promover e dar incentivos para a produção local de alimentos –com investimento em hortas urbanas, cozinhas comunitárias e agricultura nas regiões metropolitanas. A população também precisa passar por um processo de re-alfabetização alimentar, desenvolvendo uma visão crítica sobre a indústria e sobre o que é realmente qualidade nutricional. Na plenária com prefeitos de cidades da América Latina, essas estratégias foram amplamente discutidas.
A plenária reuniu representantes das prefeituras de Lima, Quito, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
Comer alimentos cultivados ou produzidos no entorno das cidades promove uma rede de abastecimento de curta distância, fortalece as economias locais gerando novos empregos e garante alimentos mais frescos, com menos conservantes, menos gasto de energia em transportes e com menos impacto ambiental. Em contraste, consumir produtos industrializados ultraprocessados faz mal à saúde, emite muito mais gases de efeito estufa e causa grande impacto ambiental com o uso de agrotóxicos e poluição de recursos hídricos.
Outro desafio global é combater o desperdício. Um relatório recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) revelou que 17% de todos os alimentos disponíveis para consumo humano são jogados fora, um gasto à toa de energia e de recursos num planeta em que 2,3 bilhões de pessoas (quase 30% da população) enfrenta insegurança alimentar. São igualmente urgentes estratégias nacionais para prevenção do desperdício alimentar.
*Créditos da imagem destacada: Plenária com casos de Copenhagen, Nova York e Sebrae Alagoas discute como a alimentação nas escolas deve fomentar sistemas locais e uso da biodiversidade
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