Retomada da atuação presencial da ONG ocorreu nas regiões de Pau Brasil e Barra Velha, na Bahia, e no Parque Indígena do Xingu; novas expedições estão sendo planejadas para 2022.
– Após quase dois anos de pausa nas ações presenciais, em razão da pandemia do novo coronavírus, a Associação Médicos da Floresta — AMDAF retomou nos últimos meses de 2021 seus atendimentos oftalmológicos e odontológicos às populações indígenas. Ao todo, foram 2.000 pessoas contempladas pelas ações clínicas, realizadas nas regiões de Pau Brasil e Barra Velha, no sul da Bahia, e no Parque Indígena do Xingu (Mato Grosso).
Essas avaliações, agora, renderão frutos. Primeiro, duas expedições entregarão nessas regiões, em fevereiro, centenas de pares de óculos corretivos — que se somarão àqueles já distribuídos durante as ações.
Além disso, os voluntários da AMDAF identificaram, em seus diagnósticos na região do Xingu, cerca de 250 casos com necessidade de cirurgia, a maioria em razão da catarata ou de pterígio.
“Todas as nossas atividades comunitárias foram significativamente impactadas pela crise sanitária, o que significa que muitos seguem esperando tratamento e cuidados — e, enquanto isso, ainda sofrem com problemas oculares”, diz Frank Hida, presidente e cofundador da AMDAF. “Esse cenário faz com que esse retorno às expedições seja muito especial para a ONG, mais ainda quando falamos de nossa volta ao Xingu.”
Foi ali que, em 2016, a entidade realizou suas primeiras missões para levar diagnóstico, tratamento e acompanhamento oftalmológico às populações indígenas. Nos primeiros anos de atuação na área, foram identificadas 168 pessoas com problemas que requerem solução cirúrgica. Em dezembro, outras 86 se somaram à lista.
Para atendê-los, os voluntários angariam atualmente apoio para uma segunda etapa das expedições, prevista para maio. “Com a melhora do quadro de contaminações e a vacinação ampla da população contra a Covid-19, pudemos finalmente realizar novos atendimentos. Mas ainda há muito a ser feito.”
Ele conta que, além de organizar novas missões ao longo do ano, a AMDAF quer retomar em 2022 o Amazonian Trachoma Project. Idealizado pelo Dr. Celso Takashi Nakano, um dos fundadores da associação, o projeto visa ajudar a eliminar o tracoma como causa de cegueira nas tribos brasileiras.
A doença é causada por uma bactéria e transmitida por meio do contato com secreções infecciosas dos olhos e nariz, além de ser propagada por moscas que tenham contato com a secreção da pessoa infectada.
Sua ocorrência se dá, principalmente, em áreas de maior concentração de pobreza, deficientes de condições de saneamento básico e acesso à água. Em algumas comunidades indígenas, o tracoma chega a ser identificado em mais de metade da população, atingindo percentuais acima de 30% entre crianças.
Para mudar esse cenário, é preciso tratar os infectados (com antibióticos e, eventualmente, cirurgias), além de promover a educação sobre as condições necessárias para evitar a infecção — como higiene pessoal e melhoria do ambiente.
“Esse é um projeto pelo qual temos um carinho imenso, e que precisou ser completamente paralisado em razão da pandemia. Agora, em 2022, queremos finalmente colocar essas ações em prática”, afirma Hida.
Aliança internacional
A AMDAF é a única entidade no Brasil associada à Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB), aliança internacional fundada em 1975 e atuante em mais de 100 países, que trabalha para promover a saúde ocular ao redor do mundo.
E, como parte do programa 2030 in Sight (2030 em Vista) da IAPB, cujo objetivo é eliminar a cegueira evitável em todo o mundo até o fim da década, a AMDAF tem a meta de abranger um total de 300 mil indígenas com suas ações neste período.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, ao menos 2,2 bilhões de pessoas têm uma deficiência visual ou cegueira. Entre elas, estima-se que ao menos 1 bilhão tenham uma condição que poderia ter sido evitada, se tratada, ou que ainda não foi endereçada.
“A grande demanda de saúde hoje, no mundo todo, é a oftalmologia. Até 2050, o número de pessoas com miopia chegará a 5 bilhões, segundo a OMS. E a vantagem dessa especialidade é que o atendimento pode resolver a maioria dos problemas dos pacientes. A gente só precisa chegar até eles”, diz o presidente da ONG.
A organização vem investindo ainda no uso de equipamentos portáteis e com recursos de inteligência artificial para o diagnóstico precoce desses problemas. Para isso, receberá nos próximos meses um grande reforço: foi selecionada no fim de 2021 pelo programa Silver Economy Challenge, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que concederá até US$ 1 milhão (R$ 5,5 milhões) em recursos para iniciativas que visem a melhorar a qualidade de vida da população em envelhecimento.
Sobre a AMDAF
A Associação Médicos da Floresta é uma entidade civil sem fins lucrativos que reúne médicos, gestores e criativos para prestar atendimento a comunidades indígenas em todo o território brasileiro. Sua missão é promover a qualidade de vida e inclusão social das comunidades carentes, por meio de ações inovadoras nas áreas da saúde, infraestrutura e educação.
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*Créditos imagem destacada: Foto: Andre Dib/AMDAF
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