Compreender de que forma a questão racial opera na saúde nos dias de hoje foi o objetivo da Tese de Mestrado “Raça e saúde: concepções, antíteses e antinomia na atenção básica“, de autoria da psicóloga Mônica Mendes Gonçalves, na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, sob orientação da Profa. Dra. Maria Cristina da Costa, docente do Departamento de Política e Gestão de Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Observando a formação do Brasil republicano e da Saúde Pública como eventos contíguos e contingentes, Monica percebeu que este campo de pensamentos e práticas não ficou indiferente ao impacto da raça na nossa formação social, pelo contrário: participou ativamente do processo que fez a raça e, sobretudo, o racismo, um axioma de nosso Estado e instituições. Instigada pelo movimento histórico e suas rupturas e permanências, Mônica motivou-se a fazer esta pesquisa, ciente de todos indicadores que apontam a população aquela com as condições de saúde mais precárias (entre os grupos raciais), e de que esses dados têm lastro na sociedade, propôs-se e pensar nos mecanismos dentro desse sistema que reiteram o lugar subalterno do negro.
Com ênfase na relação profissional de saúde-usuário no espaço na Atenção Básica, certa de que essa relação particular daria pistas das relações raciais em esfera mais abrangente, a pesquisadora analisou o discurso dos profissionais de saúde em relação a seus pacientes negros.
Nos relatos desses sujeitos, Mônica faz um percurso que vai desde a escravidão, passa pelo racialismo, pelo racismo estrutural e institucional, pelas múltiplas tentativas de negação e ocultação desse sistema e pela branquitude.
Com base nestes resultados, a pesquisadora concluiu que muitas vozes compõem os discursos sobre a raça, o racismo e a saúde da população negra, discursos marcados pelas contradições inerentes à raça e a todo sujeito social.
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