Por Antônio Graça –    

O professor John S. Bak, da Universidade de Lorraine (França), conferencista da abertura do 16º Congresso da Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBP JOR), fez uma veemente defesa do jornalismo literário no evento. Para ele, esta é um das formas mais apuradas do jornalismo, por combinar recursos literários com a narrativa factual, aprofundando e contextualizando as reportagens.

Na palestra intitulada “A Natureza de Janus (o deus romano bifronte) do Jornalismo Literário: Narrativas de Guerra e Conflito”, Bak afirmou que  jornalismo literário é, por excelência, um gênero que, além de informar,  faz pensar e refletir sobre as coisas do mundo. Por isso mesmo, tem demonstrado ser uma arma de grande utilidade num tempo de guerras e contendas políticas.

“Ele pode mesmo funcionar antes da tragédia e nos ajudar a prevê-la. Onde a literatura é ativa, o jornalismo é pró-ativo em promover mudanças.”, afirmou. Bak, e questionou: “Se a literatura não pode mudar a história e o jornalismo tornou-se apenas mais um aspecto no tabuleiro de uma política desprezível e de notícias tendenciosas ou falsas, que outro gênero de mídia pode restaurar  o pacto to ético entre quem escreve e quem lê, um pacto que promete informar se não de forma imparcial , pelo menos factualmente.”

Para o professor, o jornalismo literário é a mídia que pode fazer isso. “Ele tem qualidades tanto da literatura como do jornalismo e pode potencializar a força da imprensa e compensar suas fragilidades, quando combate as fake news, por exemplo. “Ele pode mudar o curso de uma atrocidade antes de ela acontecer, influenciando muitas pessoas na forma de fatos com aparência de ficção”, disse.

No entanto, segundo o professor, o jornalismo literário infelizmente ainda não realizou toda sua potencialidade. Principalmente porque continua sendo lido como duas entidades separadas: como um jornalismo que registra o passado recente, embora de forma mais extensa, como fazem os historiadores, ou como uma literatura que recorre ao passado para entender tanto a loucura como a  grandeza da humanidade.

Bak não acredita, porém, que o jornalismo literário deva ser um mero registro de eventos. “Para mim, jornalismo literário não é uma forma chique de jornalismo, nem um marca de literatura. É um gênero singular, que procura entender o mundo em sua totalidade. Ele tem o obvio poder de capturar a história, mas pode também mostrar o presente e, mais importante, prever o futuro”, afirmou.

Para o professor, o desafio colocado para o jornalismo literário hoje é explorar todo o seu potencial e conquistar mais leitores em todo o espectro político da sociedade. Assim, poderá ser um fator que contribua para mitigar a oposição “nós” versus “eles”, que, segundo Bak, estamos enfrentando em todos os países. “Uma das grandes vantagens do jornalismo literário é que, como Janus, que olha para o passado e o futuro, ele pode olhar também para a esquerda e para a direita, contemplando tanto a perspectiva liberal como a conservadora, e contribuir para moldar o futuro”, afirmou.

NOTA: O jornalista Antonio Graça acompanhou o congresso da SBJ JOR e é colaborador da Associação Profissão Jornalista (APJor)

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