Uma análise do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), realizada em parceria com o coletivo de estatísticas Common Data, revela que o número de candidaturas autodeclaradas indígenas neste ano aumentou 32% em relação ao pleito de 2018. Enquanto, naquele ano, 130 indígenas se dispuseram a disputar as eleições, agora o número chega a 172 nomes.
Proporcionalmente, os indígenas saíram de 0,47% para 0,62% no universo geral das candidaturas, na comparação entre 2018 e 2022. Apesar de ser um percentual mínimo, vale ressaltar que, segundo o Censo Habitacional do IBGE (2010), os indígenas representam 0,5% da população brasileira, indicando uma proporção equivalente na presença desses povos nas candidaturas deste ano.
A maior parte dos indígenas candidatos é de professores (12% do total), habitantes da região Norte do país (40%) e postulantes a vagas de deputado estadual (quase 60%). Das 172 candidaturas de pessoas indígenas, 98 estão concentradas em partidos de esquerda, com destaque para o PSOL (24) e para o PT (22).
Chama atenção também o fato de haver maior equidade de gênero nas candidaturas indígenas, já que 48% são mulheres e 52%, homens. Neste universo, merece destaque duas candidatas indígenas ao Congresso Nacional que utilizaram o seu nome social: Ten Silvia Waiapi (AP), pelo PL, e Indinarae Siqueira (RJ), pelo PT.
A análise foi feita no universo das 27.951 candidaturas registradas, aptas a concorrer em todas as unidades federativas incluindo o Distrito Federal.
Para a assessora política do Inesc Carmela Zigoni, a maior presença de indígenas nas candidaturas reflete o posicionamento defendido num evento ocorrido em abril, o Acampamento Terra Livre, cuja agenda tratou da necessidade de “aldear a política” e constituir “bancadas do cocar”. Tudo isso com o objetivo de evitar a barbárie nos seus territórios, operada pela mineração ilegal, além dos assassinatos de lideranças indígenas e indigenistas, como os ocorridos recentemente.
“A representatividade importa, mas também é preciso reconhecer que, apesar de haver 117 candidaturas de centro e de esquerda com pautas progressistas, também há indígenas de partidos de direita, indicando a existência de propostas neoliberais e conservadoras na corrida eleitoral”, lembra Carmela.
Resta saber agora se a representatividade dos indígenas nas candidaturas vai se repetir na escolha dos seus nomes para exercer um mandato. “Os indígenas precisam estar mais representados nos espaços de poder para preservar e incentivar novas políticas públicas voltadas à proteção dos direitos de seus povos”, conclui.
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