Governo, empresas e especialistas do Brasil e do exterior discutirão os caminhos para a modernização de redes elétricas no país, envolvendo investimentos estimados em R$ 250 bilhões; evento ocorre em São Paulo, dias 11 e 12 de setembro.
A inserção eficiente da geração distribuída na rede elétrica, bem como a complexidade da gestão de diferentes fontes de energia renováveis e outros recursos distribuídos de energia, como veículos elétricos e sistemas de armazenamento, e a adoção de um sistema inteligente de rede elétrica (smart grid) que garanta um modelo tarifário mais justo socialmente serão alguns dos temas a serem discutidos no Smart Grid Forum ou Fórum Latino-Americano de Smart Grid, em São Paulo, dias 11 e 12 de setembro. O evento também debaterá a integração entre edifícios e casas inteligentes com a rede de distribuição e o uso estratégico de Inteligência Artificial generativa no setor elétrico.
“Muito se fala em transição energética para fontes renováveis, como a solar e a eólica, mas a estrutura da atual rede de distribuição não está preparada para utilizar eficientemente essa energia, cuja geração sofre picos e vales, oscilando diariamente”, relata Cyro Vicente Boccuzzi, engenheiro especialista, consultor, CEO da ECOee (Engenharia Energética) e organizador do evento.
A rede de distribuição nacional foi construída para trabalhar com o modelo previsível de geração a partir de fontes controláveis, a exemplo das hidroelétricas e termoelétricas, afirma Boccuzzi. “O cenário hoje mudou completamente. A geração distribuída a partir de fontes renováveis está em franco crescimento, e a nossa rede não está preparada para a gestão otimizada desse modelo, de injeção de fluxos variáveis de energia”, alerta.
Pesos pesados
O Smart Grid Forum, que chega à sua 15ª edição este ano, contará com a presença do ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, além de presidentes, diretores e representantes de agências reguladoras e órgãos do setor (ANEEL, ONS, CCEE, CEPEL e EPE), representantes de distribuidoras (CPFL, ENEL CEMIG, EDP, CELESC e COPEL) e lideranças empresariais.
Participarão do evento, ainda, profissionais do setor, pesquisadores e especialistas internacionais como Luciano Martini, profissional italiano que preside o conselho da International Smart Grid Action Network (ISGAN), da IEA (agência internacional de energia); Reji Kumar, presidente da Índia Smart Grid Forum e presidente do conselho do Global Smart Energy Federation e Ravi Seethapathy, embaixador para as Américas na Global Smart Energy Federation, sediada no Canadá.
Momento crítico
Para Boccuzzi, sem a necessária modernização das redes de transmissão e distribuição elétrica, que passa pela utilização intensiva de sensores (IoT) e sistemas inteligentes de comunicação de dados, e a incorporação de outros recursos distribuídos como armazenamento de energia, é muito provável que o País sofra com uma maior frequência de interrupções no fornecimento de energia por desequilíbrios ou descompassos entre a geração disponível e a carga na rede. “Não se descarta a ocorrência de desligamentos indesejados, não por falta ou falhas na geração de energia, mas por fortes oscilações na rede devido, em particular, a inexistência de sistemas de controle e sensoriamento avançados e inteligentes, que possam detectar e endereçar rapidamente excessos de produção, sobrecargas e, consequentemente, evitar desligamentos em sequência”, alerta.
Para o especialista, a rede inteligente possibilita lidar com essas questões, além de minimizar problemas no sistema de distribuição de energia, decorrentes de intempéries climáticas, como fortes chuvas, vendavais e enchentes. “Estudos apontam que eventos climáticos extremos devem se intensificar, o que pode também provocar interrupções do fornecimento”, frisa. Para ele, no entanto, a rede inteligente tem capacidade de reagir rapidamente para minimizar danos e restabelecer o fornecimento.
Investimentos e regulamentação
Boccuzzi lembra que muitos países já estão em plena migração de suas redes para o modelo smart grid. No Brasil, contudo, esse processo está em fase inicial. “Algumas distribuidoras estão realizando testes em pequenas regiões, com ambientes controlados, mas ainda não fizeram aportes expressivos devido à falta de uma política pública que ofereça segurança para os investimentos necessários”, pontua. Ele calcula que o investimento necessário para migração total da rede de distribuição no país seja próximo dos R$ 250 bilhões. Aportes estes, que podem ser escalonados em programas plurianuais.
“O custo da modernização da rede elétrica tende a cair porque as tecnologias necessárias já estão disponíveis, são escaláveis e há tendência de queda nos preços”, diz. “E a grande oportunidade para a colocação deste tema em discussão é o atual momento em que se discute a renovação das concessões de grande parte das distribuidoras que atendem a mais de 60% dos consumidores do país e a progressiva abertura do mercado livre de energia para todos os consumidores nos próximos anos, com redução de subsídios e melhor alocação de custos por meio de opções tarifárias”, completa.
A rede inteligente de distribuição elétrica é fundamental, também, para que se possa implantar no país um mercado livre de energia, que atenda qualquer perfil de consumidor, inclusivo o uso residencial. “A tarifa elétrica no Brasil é uma das mais caras do mundo devido a diversos subsídios”, aponta. “Os maiores consumidores pagam proporcionalmente menos pela energia que consomem e custo é socializado com o pequeno consumidor, que paga essa conta sem opção”, pontua. Boccuzzi frisa que o mercado livre amplia a concorrência, oferece opções e novas modalidades de tarifas aos diferentes consumidores e elimina subsídios e possibilita que o consumidor escolha qual fonte de energia quer consumir.
Confira alguns dos painelistas confirmados:
Alexandre Ramos, presidente do Conselho de Administração da CCEE; Angela Livino, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE); Julio Omori , superintendente da COPEL; Luis Henrique Ferreira, vice-presidente de Operações Reguladas da CPFL; Luiz Carlos Ciocchi, diretor geral da ONS; Marcos Madureira, presidente da ABRADEE; Tulio Alves, diretor executivo da CIER; Nelson Fonseca Leite, diretor do Conselho Mundial de Energia, WEC Brasil; Rosario Zacaria, Head de Networks Operation & Maintenance da Enel Brasil; Sandoval Feitosa, diretor geral da ANEEL; Marisa Maia de Barros, subsecretária de Energia e Mineração na Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Governo do Estado de São Paulo; Denis Molica, diretor de Engenharia, CEMIG; Heron Fontana, diretor da Neoenergia.
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(Envolverde)