ODS8

Desenvolvimento lento de pequenas e médias empresas prejudica empregos e economia global, diz OIT

As pequenas e médias empresas (PME) eram responsáveis por 35% de todo o emprego no mundo em 2016, comparado a 31% em 2003. No último ano, no entanto, a contribuição dessas empresas para o emprego total estagnou, segundo novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Para reverter a tendência recente de estagnação do emprego nas PME, precisamos de políticas para promovê-las (…), assim como um ambiente de negócios melhor para todas as empresas, incluindo acesso a financiamento para as mais novas”, disse a diretora-geral adjunta de políticas da OIT, Deborah Greenfield.

Relatório da OIT insiste no papel fundamental do diálogo social entre governos, empregadores e trabalhadores para a sustentabilidade das empresas. Foto: EBC

Relatório da OIT insiste no papel fundamental do diálogo social entre governos, empregadores e trabalhadores para a sustentabilidade das empresas. Foto: EBC

Com mais de 201 milhões de trabalhadores desempregados em 2017 — aumento de 3,4 milhões em relação a 2016 — as empresas desempenham papel crucial na criação de empregos decentes em todo o mundo, especialmente as pequenas e médias (PME).

Entre 2003 e 2016, o número total de funcionários que trabalhavam em tempo integral nas PME quase dobrou. As PME eram responsáveis por 35% de todo o emprego no mundo em 2016, frente a 31% em 2003. Os dados são do relatório global “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo 2017: Empresas Sustentáveis e Empregos”, lançado nesta segunda-feira (9) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

No último ano, no entanto, a contribuição das PME para o emprego total estagnou. Entre 2015 e 2016, a contribuição delas para o emprego total se manteve praticamente inalterada, passando de 34,6% para 34,8%.

“As empresas do setor privado foram responsáveis pela maior parte do emprego global em 2016. Cerca de 2,8 bilhões de pessoas estavam empregadas pelo setor privado, o que representa 87% do emprego total”, disse a diretora-geral adjunta de políticas da OIT, Deborah Greenfield.

“Para reverter a tendência recente de estagnação do emprego nas PME, precisamos de políticas para promovê-las (…), assim como um ambiente de negócios melhor para todas as empresas, incluindo acesso a financiamento para as mais novas”, completou.

Nas economias em desenvolvimento, as PME representam 52% do emprego total, em comparação com 34% nas economias emergentes (incluindo o Brasil) e 41% nas economias desenvolvidas.

Além disso, entre 2003 e 2008, a taxa de crescimento do emprego permanente em tempo integral foi, em média, 4,7 pontos percentuais maior em pequenas empresas e 3,3 pontos percentuais maior em médias empresas na comparação com empresas maiores. No entanto, essa vantagem das PME não continuou no período de 2009 a 2014.

A dinâmica de emprego entre as empresas novas, em termos de emprego permanente em tempo integral, também se enfraqueceu a partir da crise financeira global, afirma o relatório.

Durante o período anterior à crise, a taxa de crescimento do emprego permanente em tempo integral nas empresas novas foi 6,9 pontos percentuais maior na comparação com as empresas estabelecidas. Porém, no período pós-crise, essa diferença diminuiu para 5,5 pontos percentuais. Essa mudança reflete o ambiente geral de negócios, no qual empresas novas estão perdendo empregos num ritmo muito mais rápido.

Investir nos trabalhadores é essencial

O relatório também revela que as decisões das empresas de fornecer treinamento formal para seus funcionários permanentes estão associadas a salários mais altos, maior produtividade e menor custo de mão de obra por unidade produzida.

Ao mesmo tempo, suas decisões de intensificar o uso de emprego temporário estão associadas a salários mais baixos e menor produtividade, sem quaisquer implicações para o custo de mão de obra por unidade produzida.

A evidência indica que, em média, as empresas que oferecem treinamento formal para seus funcionários permanentes que trabalham em tempo integral pagam salários 14% mais altos, são 19,6% mais produtivas e são mais competitivas, com custo de mão de obra por unidade produzida 5,3% menor em comparação com as empresas que não oferecem treinamento.

Por outro lado, as empresas com uma participação de 10 pontos percentuais maior de emprego temporário em tempo integral pagam salários 2,6% mais baixos, são 1,9% menos produtivas e são menos competitivas em termos de custo de mão de obra por unidade produzida.

Inovação e comércio impulsionam empregos e produtividade

O relatório afirma que a inovação é uma importante fonte de competitividade e criação de empregos para as empresas.

As empresas inovadoras, em geral, tendem a ser mais produtivas, criar mais empregos, contratar mais mulheres trabalhadoras e empregar trabalhadores mais qualificados, o que significa que elas empregam trabalhadores mais educados e oferecem mais oportunidades de treinamento.

Em alguns casos, no entanto, a inovação levou a um uso mais intenso de trabalhadores temporários (especialmente em empresas com inovação de produtos e processos), com mais mulheres representadas no emprego temporário. Por exemplo, as empresas que implementam a inovação de produtos e processos tendem a empregar 75% mais trabalhadores temporários do que as empresas não inovadoras.

O engajamento do comércio e das empresas nas cadeias produtivas globais também é estímulo importante para a criação de empregos e o crescimento da produtividade.

Com a estagnação do comércio internacional nos últimos anos, o mesmo aconteceu com os empregos ligados ao setor. Em 2016, 37,3% dos trabalhadores estavam empregados em empresas privadas de exportação formal. Essa parcela é inferior à de antes da crise, de 38,6%. O relatório observa que as empresas exportadoras têm maior produtividade e pagam salários mais altos do que as empresas que não estão envolvidas no comércio internacional.

No entanto, as margens de produtividade para exportação e importação superam a margem de salário em 13 e 5 pontos percentuais, respectivamente, indicando que há margem para compartilhar os ganhos do comércio de forma mais inclusiva.

PME é importante fonte de emprego para mulheres

A pesquisa da OIT mostra que as funcionárias permanentes que trabalham em tempo integral no setor formal são mais propensas a serem encontradas nas PME do que nas grandes empresas.

Em média, e em todas as regiões do mundo, cerca de 30% dos funcionários permanentes em tempo integral nas PME são mulheres, comparado com 27% nas empresas de maior porte.

Além disso, a participação do emprego das mulheres, particularmente nas PME, está fortemente correlacionada com a renda per capita de um país.

Um número maior de mulheres nas empresas pode, portanto, ter um impacto positivo no crescimento e no desenvolvimento, porque as microempresas e as PME muitas vezes oferecem às mulheres uma porta de entrada no mercado de trabalho formal.

Por fim, o relatório da OIT insiste no papel fundamental do diálogo social entre governos, empregadores e trabalhadores para a sustentabilidade das empresas.

“Embora os governos desempenhem um papel importante na formação de instituições que promovam empresas sustentáveis e crescimento inclusivo, os trabalhadores e suas organizações defendem políticas e regulamentos adequados, assim como representação”, disse Greenfield.

“Por sua vez, as empresas sustentáveis promovem oportunidades de emprego com igualdade, proteção e direitos dos trabalhadores, além de investirem nos trabalhadores e em outros fatores importantes de produção”, concluiu. (Envolverde)

Clique aqui para acessar o relatório completo.