Por Anderson Pellegrino* –
O ano de 2019 chega repleto de desafios econômicos ao Brasil. Como no clássico filme de Western de 1966 – The Good, The Bad and The Ugly – a economia brasileira enfrentará, no ano que se inicia, um importante embate envolvendo o bom, o mau e o feio, quadro que brevemente exponho a seguir.
O Bom: estamos em recuperação econômica e provavelmente continuaremos nela em 2019. O processo de recuperação econômica começou em meados de 2017 e vem prosseguindo em trajetória lenta e discreta desde então. Após 11 trimestres de recessão, com perdas acumuladas no PIB em torno de 7% entre 2014 e 2016, ligar máquinas paradas e contratar desempregados é tarefa que depende, entre outros fatores, da retomada da confiança do empresariado no país. E o“efeito lua de mel” – comumente observado entre o momento de transição e os primeiros meses de um novo governo e um novo congresso – ajudará a impulsionar essa confiança, acelerando nossa trajetória de recuperação. Recente divulgação do Índice de Confiança Empresarial (ICE) e do Índice de Confiança do Consumidor (ICC) pelo IBRE-FGV já demonstra certo otimismo no Brasil, corroborando a ideia de que a “lua de mel” poderá exercer influência positiva sobre a atividade econômica já nos primeiros meses de 2019.
O Mau: expectativa de desaceleração na economia global, com possíveis impactos negativos sobre países emergentes já em 2019. O gradual ciclo de aumentos dos juros nos EUA (foram 8 aumentos promovidos pelo Fed desde dezembro de 2015) começa a gerar efeitos sobre o globo: da depreciação cambial (fortalecimento do dólar) e fuga de capitais em diversas regiões do planeta a elevação de juros em países emergentes como Argentina, Paquistão e Turquia. A China recentemente apresentou indícios de desaceleração de seu desempenho econômico, observável em dados divulgados sobre a indústria e o varejo. Mesmo nos EUA, após alguns anos de forte expansão da atividade econômica e do emprego, a projeção (FMI) do PIB para 2019 é de 2,5% e para 2020 de 1,8% (ante 2,9% em 2018). Há, portanto, chance de resfriamento da economia global nos próximos dois anos, algo negativo para emergentes exportadores e dependentes de investimento externo como o Brasil. Essa possível pressão externa aumentará a necessidade de ativação – por parte do governo – de nosso mercado interno como elemento indutor do crescimento.
O Feio: o ambiente de negócios no Brasil ainda é precário e pouco atraente ao investimento produtivo. Como panorama do quadro atual, o Brasil ocupa, na última edição (2019) do relatório Doing Business (publicação do World Bank Group), a 109ª posição no ranking geral de “facilidade de se fazer negócios em um país” em um grupo formado por 190 países. Para compor esse ranking vários indicadores foram analisados, como por exemplo: “Começando um negócio”, que busca medir o tempo gasto e as dificuldades para se começar uma empresa, e “Pagamento de impostos”, que reflete o impacto da carga tributária sobre os negócios no país. No primeiro ocupamos a 140ª posição e no segundo a 184ª posição. Claramente a necessidade de reformas, modernização, simplificação e desburocratização, em especial de certos marcos regulatórios, se faz imediata. Em particular, cabe mencionar a urgência de uma reforma tributária que elimine a complexidade e as inúmeras distorções – sociais e produtivas -provocadas pelo atual regime, que bloqueia a expansão da competitividade, do emprego, da produtividade e do empreendedorismo no país. Visão de futuro e vontade política são ingredientes obrigatórios aqui.
2019 promete emoções para a economia brasileira. Nos bons filmes de Western, independentemente do enredo e de seus percalços, você sabe que o “mocinho” triunfará no duelo final. Já no mundo real…
*Anderson Pellegrino é economista e Mestre em História Econômica pelo Instituto de Economia da UNICAMP. Doutorando em Desenvolvimento Econômico. Atualmente é palestrante, professor convidado dos cursos de MBA da IBE Conveniada FGV. Autor e coautor de livros nas áreas de desenvolvimento econômico e economia internacional.
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