Por Reinaldo Canto, especial para a Envolverde* –
Nos últimos anos, a cidade de Ingá, localizada a pouco mais de 100 kms da capital João Pessoa tem renovado as esperanças por meio do cultivo de um algodão especial, orgânico e também colorido.
Nesse período a união entre agricultores familiares, comunidade quilombola em torno da Cooperativa dos Agricultores do Município de Ingá e Região (Itacoop) e contando com apoio da Prefeitura de Ingá e da Associação Brasileira da Indústria da Moda Sustentável (Abrimos) possibilitou a produção de algodão orgânico de alta qualidade.
A maior das conquistas recentes ocorreu em 2022 quando foi realizada a primeira edição do “Dia da Colheita”. Nessa celebração, o algodão orgânico da região entrou na fase de escala industrial aumentando a produção e conquistando novos mercados. Já no ano seguinte, 2023 a cooperativa, com o apoio das Indústrias têxteis Companhia Industrial Cataguases, Dalila Têxtil, da empresa de confecção Natural Cotton Color e com negociação da Texpar (grupo têxtil paraibano Unitextil), conseguiu adquirir uma grande máquina de beneficiamento.
Para mostrar o quanto apoios a boas ideias trazem resultados expressivos, a produtividade que era de 225 ramas de algodão beneficiados por hora pulou para 4.000 quilos de rama em apenas uma hora. O trabalho que levava oito meses para ser finalizado passou para 72 horas. Maior rapidez, lucratividade e ganhos para todos.
Segundo a Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária – Empaer Regional, que é a responsável pela assessoria técnica pela produção do algodão orgânico, a seriedade do projeto fez com que em três anos o número de agricultores participantes subisse de sete famílias para 28, ou seja, um crescimento de 400% em período tão curto de tempo!
O presidente da Itacoop, Severino Vicente da Silva (seu Bio), disse que a volta ao trabalho com algodão era razão de desconfiança em função do trauma vivido pelos agricultores nos anos 80, mas que quando os resultados começaram a chegar, as pessoas começaram a se animar.
Para fazer jus ao título de orgânico sustentável, o algodão é plantado em consórcio com alimentos como feijão e milho, que entre outras razões, garante produtos de subsistência para as famílias e também contribui para que as pragas tenham dificuldade para se espalhar com a colocação de outros cultivos em meio ao algodão. Sistema conhecido como agroflorestal.
Do ponto de vista puramente comercial, o que garante a sustentabilidade econômica do projeto é a garantia de compra por empresas têxteis e de confecções como a Natural Cotton Color.
Francisca Vieira, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Moda Sustentável (Abrimos) é uma das principais responsáveis pelo sucesso do chamado projeto Algodão Paraíba, pois busca fazer as conexões entre os produtores rurais, artesãos, governos locais, comerciantes e entidades exportadoras. Francisca explica que, na atualidade, o Brasil só está atrás da Índia no que se refere ao algodão orgânico, mas essa vice colocação pode estar com os dias contados “pode ser que neste ano mesmo a gente consiga ultrapassá-los e sermos os maiores do mundo”, afirma Francisca otimista. Boas razões existem, pois há 12 anos a produção brasileira era de apenas 1.800 quilos. Já há três anos atingiu 30 toneladas e atualmente 130 toneladas.
O semiárido brasileiro conseguiu realizar essa pequena revolução recuperando uma vocação paraibana para a produção do algodão com exemplos que deveriam ser seguidos em todo o país produzindo qualidade, com respeito ambiental e valor agregado com enormes benefícios para as comunidades envolvidas.
Nestes tempos de desequilíbrios climáticos nada melhor do que experiências exitosas e sustentáveis!
*O Jornalista viajou a convite dos organizadores do Dia da Colheita