O debate em torno da proteção e preservação ambiental passou por uma profunda transformação nos últimos anos. Enquanto cada vez mais consumidores pautam suas escolhas sob aspectos relacionados a práticas sustentáveis e ambientalmente adequadas, mais empresas enfrentam um impasse ao tentar equacionar sustentabilidade e rentabilidade à sua estratégia de negócios. Claramente, ambas podem caminhar juntas, mas uma nova mentalidade precisa ser desenvolvida a fim de abrir caminhos que equacionem as duas vertentes e, desta forma, expandam a atual noção de sustentabilidade organizacional.
Até pouco tempo atrás, o conceito de sustentabilidade, quando analisado sob o aspecto ambiental, estava bastante atrelado ao tema de reciclagem erenovabilidade. Nesse sentido, diferentes esforços foram conduzidos pelas iniciativas pública e privada a fim de aumentar a oferta de produtos recicláveis e produzidos a partir de fontes renováveis e ambientalmente responsáveis – o que, por consequência, abriu espaço para o diálogo junto às novas gerações, altamente engajadas com essa primeira noção de sustentabilidade.
Notoriamente, um número cada vez maior de consumidores tem direcionado seus investimentos para a compra de produtos de empresas sabidamente alinhadas a práticas sustentáveis e que demonstram esforços consistentes no sentido de reduzir seu impacto ambiental. Em síntese, ao longo dos anos isso significou para a indústria a priorização do desenvolvimento de produtos recicláveis e que utilizem matérias-primas de origem renovável, alinhado a um modelo de produção consciente e ambientalmente seguro – sob o risco de ficarem para trás as empresas que não soubessem se adaptar a essa realidade.
Para exemplificar, estudo recente conduzido pelo Instituto Ipsos em parceria com a Tetra Pak indica que embalagens ambientalmente sustentáveis influenciam na decisão de compra de 43% dos consumidores. Na mesma linha, proporção quase igual (42%) procura por logos nas embalagens que indiquem um processo produtivo adequado à preservação do meio ambiente, o que para eles confere maior confiabilidade e valor ao produto e à marca por trás dele. Sob esse aspecto, o conceito de sustentabilidade começa a ser ampliado.
A partir do avanço nas discussões em torno de responsabilidade ambiental, o que surge de modo adjacente é a importância do desenvolvimento de toda uma cadeia de fornecimento e da aplicação de novos modelos produtivos que possam dar origem a produtos alinhados à economia circular. Ou seja, partimos para uma perspectiva na qual deixamos de analisar a indústria somente pela sua capacidade de produzir produtos recicláveis e de acessar matérias-primas renováveis, mas que também passa, necessariamente, pela aplicação de modelos de produção mais eficientes e que, por consequência, reduzam impactos no processo produtivo.
Quando, por exemplo, falamos de fábricas inteligentes e da aplicação de tecnologias que hoje baseiam a 4ª Revolução Industrial, indiretamente falamos sobre sustentabilidade. A inteligência operacional, nesse ponto, não se restringe aos limites físicos da fábrica, mas a todo um arcabouço tecnológico que implica menor consumo de matérias-primas, menor gasto energético, menor consumo de água e em tantas outras variáveis relacionadas à gestão de materiais finitos – portanto, que impactam tanto na operação do negócio como no equilíbrio ambiental das comunidades em seu entorno.
Nesse ponto, nota-se a expansão do conceito de sustentabilidade e o seu avanço para novas frentes, além daquelas mais visíveis para o público em geral. Claramente, a necessidade das companhias em demonstrarem práticas sustentáveis se tornou um diferencial competitivo junto aos consumidores, mas, um passo antes, a sustentabilidade também está diretamente correlacionada à forma de operação e gestão de recursos de uma organização, sendo, portanto, uma ferramenta importante para a estratégia de negócios da companhia e para o seu desenvolvimento de longo prazo.
Inegavelmente, companhias que valorizam práticas sustentáveis conseguem aumentar sua produtividade e resultados financeiros, criando o ambiente adequado para crescimento organizacional em equilíbrio com a oferta de produtos alinhados às expectativas do mercado. Não por acaso, muitas das empresas listadas no ranking The Global 100, que indica as companhias com melhores práticas de sustentabilidade corporativa no mundo, são líderes em seus respectivos mercados de atuação.
Naturalmente, a busca por uma operação sustentável deve ser tratada como um compromisso permanente da empresa com os seus consumidores e comunidades onde ela atua. Contudo, é inegável a sua importância e influência sob o ponto de vista de negócios, mostrando não somente a expansão do conceito de sustentabilidade, mas, principalmente, a impossibilidade de dissociar sustentabilidade de estratégia de negócios no mundo atual.
*Valeria Michel é Engenharia Química (FEI-SP) e possui especialização em Gestão Ambiental (Unicamp-SP). Atualmente ocupa o cargo de diretora de meio ambiente para a Tetra Pak Brasil.