ODS12

Turismo por Work Exchange para fomentar a sustentabilidade

Como podemos fomentar a sustentabilidade através do turismo? Lugares que proporcionam o Work Exchange, na tradução livre “trabalho por troca”, estão mostrando como é possível aproximar viajantes comuns à projetos sustentáveis.

De acordo com a WTTC, em 2018 o turismo cresceu 3,9%, ficando acima da economia global que cresceu 3,2%, demonstrando como este é um setor de suma importância para o desenvolvimento mundial, e não apenas para a economia, mas para as pessoas que estão por trás destes números e são diariamente impactadas por essa troca de cultura.

Outro dado importante que a WTTC demonstra, é que entre as macrotendências para 2019, o turismo sustentável, assim como os destinos alternativos estarão em alta, movimentando grande parte do setor, o que faz com que turismo no estilo work exchange cresça e represente cada vez mais um grande impacto na maneira de viajarmos.

Mas afinal, o que é o Work Exchange?

Este é um conceito de viagem adotado de maneira informal há muitos anos, onde o viajante trabalha algumas horas por dia e em troca se hospeda gratuitamente no local e, de acordo com cada combinado, ganha outros benefícios como alimentação, transporte e etc. Hoje existem sites e aplicativos especializados em conectar os anfitriões com os viajantes.

Voluntariado que fiz por fora de qualquer plataforma, nele fui para aprender sobre educação infantil, mas aprendi muito mais sobre bioconstrução e agrofloresta.

É possível fazer work exchange em grande parte do mundo, e pode ser realizado em diversos tipos de hospedagens, desde em casa de família até pousadas ou hotéis. Seu grande diferencial não é apenas oferecer hospedagem de maneira gratuita, mas sim, a oportunidade de trabalhar com tarefas, pessoas e lugares que dificilmente você teria acesso ou disponibilidade para um trabalho “tradicional”, características que atraem especialmente os jovens, que estão em busca de se descobrir, desenvolver e conhecer o mundo com o menor custo possível.

Work Exchange x sustentabilidade

Em qualquer uma das categorias dessa modalidade de turismo podemos ver impactos sustentáveis, especialmente quando focamos na face econômica e social do tripé da sustentabilidade, mas apenas em alguns locais podemos ver o meio-ambiente integrado, como no caso dos ecolodges, alguns campings e hostels, sítio e fazenda, e finalmente, os projetos de permacultura e agrofloresta.

Existem inclusive plataformas que são especializadas em sítios e projetos sustentáveis, como a HelpX e o WWOOF, e elas atendem um público que já está em busca deste tipo de experiência, mas também existem as plataformas mais genéricas, como o Worldpackers, Workaway, entre outras,  e são nelas que a grande massa de viajantes dessa modalidade podem ter contato com iniciativas que nunca imaginariam, entre elas os projetos sustentáveis.

Ao se cadastrar nessas plataformas você pode filtrar pelo estilo de viagem, localização, duração, e outras opções:

Página inicial do Workaway

Página de anfitriões do WordpackersAs viagens costumam durar no mínimo 2 semanas, e o trabalho diário gira em torno de 5 horas por dia, 5 dias na semana, podendo variar por acordos pré-estabelecidos antes da estadia,  o que dá a oportunidade do viajante conhecer o cotidiano de um espaço sustentável, entender a rotina, conhecer o estilo de vida dos anfitriões, colocar as mãos na mass, se familiarizar e aprender conceitos como permacultura, bioconstrução, agrofloresta, e outras possibilidades dependendo do local escolhido. Com tudo isso, ainda lhe sobra tempo para descansar, passear e curtir o entorno.

Os ganhos desta troca

Em tempos onde as informações são rápidas e rasas devido aos novos meios de comunicação, e onde os relacionamentos humanos estão cada vez mais sendo deixados de lado, vemos pessoas que estão se movimentando para ir à outra direção e usam essas viagens como uma oportunidade de imersão em um estilo de vida totalmente diferente, com um custo muito baixo, o que permite viagens mais frequentes e, para lugares mais interessantes.

Importante observar que a retirada do dinheiro como papel principal de troca parece ter um impacto direto nas vivências e aprendizados, gerando conexões que realmente impactam e mudam a maneira desses viajantes verem a vida.

Marco Siqueira, psicólogo, teve seu primeiro contato com este tipo de experiência em 2016, através do sítio Instituto Ecovida São Miguel diretamente, e comenta, “Em minha experiência dentro da permacultura, as trocas foram e continuam sendo uma experiência fundamental. Ao construir um intercâmbio onde excluímos o capital financeiro pelo capital social e experiencial, formamos uma teia ilimitada de conhecimentos e possibilidades, onde substituímos o paradigma atual da escassez, pelo da abundância, com relações mais humanizadas e com um imenso potencial de transformação social e ambiental”. Desde então o Marco seguiu voluntariando em vários outros projetos, saiu do seu emprego tradicional, e hoje diretamente com permacultura e sustentabilidade.

O Victor R. Loureiro seguiu por outro caminho, após perceber que gostaria de viver de uma maneira mais sustentável, saiu de um emprego de vendedor em uma empresa tradicional e através do WWOOF, fez uma viagem que durou um pouco mais de um ano pela América Latina, ele diz, “Para quem trabalhava e só conhecia um tipo de sistema, que é o trabalho por dinheiro, quando eu me deparei com possibilidade de conhecer lugares, e ter experiências diferentes na base da troca que não fosse só monetária, literalmente a minha vida mudou, por que eu pude me transformar e ver novas possibilidades na maneira que eu vivia. O dinheiro perdeu e as doações ganharam valor. Você pode se aplicar e dedicar de uma maneira muito mais genuína, real, profunda e conectada do que pela relação fria que é trabalhar para ter dinheiro na conta. Construir com as próprias mãos e usar a tecnologia social é um sistema muito mais avançado do que a tecnologia financeira, têm-se experiências muita mais completas e complexas.”

Hoje o Victor junto com amigos e parceiros, constrói um novo projeto, a Vila das Borboletas, que busca a autossuficiência e também recebe viajantes. Ele acredita que este tipo de relação é fundamental, “nós conseguimos proporcionar experiências diferenciadas, podemos ser canal na transformação das pessoas, além de possibilitar que elas possam conhecer o mundo inteiro, pessoas diferentes, e ter experiências que dificilmente teriam se a troca fosse baseada no dinheiro”.

Voluntários em mutirão de bioconstrução

Assim como os dois casos citados, outras pessoas têm percorrido o mesmo caminho, mudando não apenas a maneira de viajar, mas também de viver, pois, através deste turismo elas experenciam integração com a natureza, consciência do impacto que geramos, e menos dependência do sistema tradicional. Uma maneira divertida e enriquecedora de entendermos que a sustentabilidade é uma troca saudável, natural e necessária.

(#Envolverde)