Por Pedro Z. Malavolta, de Paris–
Ministra do Meio Ambiente participou de debate organizado durante o último dia da COP 21 pela Iniciativa Empresarial pelo Clima, integrada, entre outros, pelo Ethos, CEBDS e GVCes
Otimista, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, avaliou que o rascunho do acordo da COP 21 “sinaliza uma nova fase nas emissões de carbono para o mundo”. Ela participou do evento, promovido pela Iniciativa Empresarial pelo Clima (IEC) para debater as ações do Brasil ate 2020, no último dia da Conferência do Clima em Paris. Além da ministra, o debate mediado pelo jornalista Reinaldo Canto, da Envolverde, contou com a apresentação de casos de sucesso de empresas na diminuição de emissão de carbono e de organizações ligadas a iniciativa privada.
A ministra aproveitou o clima de final de conferência para falar sobre os passos que o governo e a sociedade brasileira deve tomar no período depois da COP 21. Para ela a iNDC (intended Nationally Determined Contribution, em português pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira deverá servir como parâmetro do planejamento de longo prazo.
Teixeira defendeu que é preciso uma mudança de “cultura política” mas que é possível que a iNDC possa ser utilizada para o planejamento das organizações públicas e privadas no Brasil. Para que isso seja possível, no entanto, a própria ministra admitiu que ainda é necessário definir mecanismos e políticas que viabilizarão esse planejamento. Sem entrar em detalhes, ela listou algumas questões.
Não será possível condicionar as mudanças para uma economia de baixo carbono apenas no aporte de recursos. “O Brasil foi o único grande país em desenvolvimento que não condicionou a sua contribuição ao aporte de recursos internacionais”, lembrou a ministra. “Não podemos também passar anos debatendo como será financiado essa mudança, precisamos fazer acontecer, como um país”, afirmou.
Para reforçar seus argumentos, ela exemplificou com as dificuldades enfrentadas para implementar duas políticas públicas na área ambiental: os aterros sanitários, que são tema de debate no congresso nacional há mais de duas décadas; e a logística reversa da indústria de eletroeletrônicos, que não conseguiu até o momento financiar as ações nos Estados.
A ministra também lembrou que imagina que os debates sobre os mecanismos para estímulo para a transição para uma economia de baixo carbono deva acontecer até 2020, quando acaba a vigência do Plano Nacional de Mudanças Climáticas. “Até lá, podemos funcionar como business as usual. Depois, precisamos já ter mudado de patamar”, declarou Teixeira.
Na visão da ministra, “o papel da iniciativa privada não poderá ser reativo as mudanças climáticas. Também não poderá ser apenas estar atento as oportunidades de mercado. É mais do isso”. Ela se diz otimista com o que esperar das empresas brasileiras e já vê algum protagonismo nessa direção. “Essa nova geração de homens e mulheres de negócio com quem eu tenho conversado, precisam assumir a gestão dos seus negócios pensando o baixo carbono como um ativo econômico”, afirmou.
Na avaliação da ministra os dois pontos mais preocupantes na emissão de carbono do Brasil são a energia, em especial a questão da eficiência energética, e a agricultura. “A agricultura precisará mudar. Passar a ser de baixo impacto no carbono, já que o Brasil será o maior produtor mundial de comida em 2024, segundo a FAO”, explicou.
A IEC é uma ação conjunta de várias organizações empresariais e acadêmicas que atuam na área no combate às mudanças climáticas. Entre elas estão o Instituto Ethos, o Fórum Clima, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a Rede Brasileira do Pacto Global da ONU, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (Gvces), o Carbon Disclosure Project (CDP), e a agência Envolverde.
Diferenciação dos países
A ministra também comentou sobre o grupo de trabalho que coordenou na elaboração do acordo, sobre a diferenciação dos países em relação as suas obrigações e possibilidades na contribuição do combate às mudanças climáticas. Segundo ela trata-se de criar uma maneira que todos os mais de 190 países que participam da conferência consigam atingir as suas metas. “Nós estamos falando aqui de qual vai ser o caminho de desenvolvimento de todos os países. A questão da flexibilidade [que a diferenciação garante] é para que as adaptações não sejam algo imposto”, explicou.
Apoio a presença do “muito abaixo dos 2º”
Também presente ao evento, o secretário de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Klink, comentou sobre uma das polêmicas em relação ao texto final do acordo: a presença da meta de aquecimento “muito abaixo dos 2º” de aquecimento. “A proposta do Brasil é ainda a questão de limitar a 2º o crescimento. Mas achamos bom que essa questão possa aparecer como um indicativo no texto e para as revisões”, disse Klink
Klink também disso que avaliar a política nacional de combate a mudança climática avançou muito nos últimos 4 ou 5 anos e que a sua adaptação “é algo que já começa a ser feito aqui na COP”.
Casos de sucesso das empresas
Três empresas brasileiras apresentaram seus casos de sucesso na redução das emissões carbono durante o evento organizado pela IEC. A primeira delas foi a CPFL Energia. Rodolfo Sirol, Diretor de Sustentabilidade da empresa, explicou que os investimentos em energia renováveis, em especial as menos comum no Brasil, como eólica e solar, dão uma vantagem competitiva de longo prazo para a empresa e também “nos torna mais atrativo no mercado de trabalho, ajudando a atrair essas mentes jovens que querem contribuir com a mudança”, declarou.
Já Celina Carpi, do conselho de administração do grupo Libra e presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, comentou sobre o projeto de expansão do porto do Rio de Janeiro. Durante a Rio+20, a empresa colocou como meta uma redução de 40% de emissão de gases de efeito estufa em suas obras até 2020. Em 2015, já atingiu uma redução de 21%. Porém este não é a única preocupação do projeto na questão de sustentabilidade. “A mais desafiadora para nós empresários é a dimensão do ser humano”, afirmou. Ao lado do porto do Rio de Janeiro, fica a comunidade do Caju, que possui um dos piores IDH da cidade do Rio de Janeiro. Para evitar piorar a situação dessa população, uma série de medidas forma feitas. Entre elas o transporte de material de construção por meio de balças, evitando assim, aumento da poluição e do barulho na região.
Carpi ainda afirmou “Estou muito orgulhosa da proposta do nosso país. E essa proposta de iNDC vai nos ajudar a mudar a forma de fazer negócios no Brasil.”
O terceiro caso de sucesso foi apresentado por Jorge Soto, diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem. Uma das grandes inovações da empresa foi o inventário da emissão de carbono de todas as suas plantas. Ele também está otimista com o Brasil e afirma que o país precisa tomar a dianteira na pesquisa e produção de uma economia de baixo carbono. “Que outro país que vai conseguir fornecer produtos com baixo carbono com a intensidade que nós podemos?”, questionou.
Perspectivas para as políticas públicas para 2020
O evento foi encerado com uma mesa de debate com representantes das entidades que fazem parte da IEC. O primeiro a falar foi Carlos Pereira, da Rede Brasileira do Pacto Global da ONU, que defendeu que as empresas brasileiras precisam entender a transição para uma economia de baixo carbono como uma oportunidade.
Paul Dickson, o presidente do CDP, trouxe uma perspectiva de alguém de fora do Brasil sobre o protagonismo das empresas brasileiras nessa questão. A iniciativa que ele dirige reúne quase 8% do capital de investimento no Brasil, um número muito superior a outros países. Uma das razões serve para todos os lugares, como uma iniciativa que divulga a emissão de carbono de várias empresas de maneira comparável, estar no ranking do CDP é como participar de uma olimpíada. “E empresas são competitivas”, explica Dickson. Agora, o americano acredita que, diferente de outros países, as “empresas no Brasil tem uma face mais humana, como se tivessem mais coração”, supõe.
Coordenadora do GVCes, Mariana Nicolletti, listou uma série de desafios para a iniciativa privada em relação a meta presente no iNDC, como viabilização dos investimentos, dar escala ao que já é feito, planejar ao longo prazo. Nicolletti acredita que “essas não são questão simples” mas questiona, “a expertise da iniciativa privada não é fazer acontecer?”.
Mudança do estilo de vida
Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos, também listou desafios para as empresas depois da COP 21. Para ele as empresas precisam trabalhar a adaptação, a transparência de seus dados, a ambição de longo prazo, o financiamento dessa mudança de perfil da economia e como elas vão participar das políticas públicas que vão delinear essa nova fase da economia.
Abrahão, lembrando do discurso do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que é preciso tratar da questão da mudança do estilo e modo de vida. “As empresas precisam tratar dessa questão, algo que ainda não começamos a fazer. Essa pode ser uma oportunidade para que as empresas brasileiras sejam liderança nesse processo”, declarou.
Coube a Marina Grossi, presidente do CEBDS, a última intervenção da mesa. Ela lembrou que nunca as iniciativas empresariais brasileiras estiveram tão organizadas numa COP. Na sua avaliação, 2016 será “o ano da implementação” de tudo que tem sido debatido em relação às mudanças climáticas nos últimos anos. E encerrou dizendo que “é a hora de mostrar que o Brasil não é melhor apenas comparativamente, mas também competitivamente aos outros países”. (#Envolverde)
* Pedro Z. Malavolta é jornalista, trabalhou na Agência Brasil, no portal iG e no instituto Ethos.