Etanol e o futuro que nós queremos

Há vinte anos, o mundo olhava atento para o Rio de Janeiro. Com a Eco 92, veio a consagração do conceito de desenvolvimento sustentável e ampla divulgação do tema. Em junho último, a capital fluminense sediou novamente um debate mundial sobre sustentabilidade: a Rio+20. Porém, ao contrário de sua antecessora, a Conferência pouco avançou no debate ambiental. Pior que isso, passados dois meses do evento, o assunto praticamente sumiu do noticiário. Mas, diante da importância do tema, as discussões sobre sustentabilidade não podem ser esquecidas tão facilmente. Cabe agora uma avaliação sobre tudo o que foi levantado na Rio+20 e uma reflexão sobre o que realmente pode contribuir em favor do meio ambiente.

O Brasil, nesse contexto, possui um papel de destaque. Com características peculiares, tem de aproveitar suas vantagens ambientais e geográficas únicas para continuar contribuindo da melhor maneira possível em favor da redução das emissões de gases de efeito estufa. Isto passa fundamentalmente pelo maior aproveitamento das diversas fontes de energia limpa disponíveis, em particular do etanol para os veículos leves.

Esse processo depende não só da recuperação dos investimentos na produção de cana-de-açúcar, mas principalmente do desenvolvimento tecnológico associado ao combustível. Hoje, as usinas brasileiras trabalham com o chamado etanol de primeira geração, que é produzido por meio da fermentação da sacarose do caldo de cana. Mas já estão bem avançadas pesquisas acadêmicas e corporativas para a produção de etanol de segunda geração – processo em que o biocombustível é produzido a partir da celulose do bagaço da cana –, e de terceira geração – que inclui a gaseificação de biomassa e reações de síntese para a produção do combustível. Estas tecnologias são as principais alternativas para tornar realidade um aumento considerável da produção do combustível, sem prejuízo às plantações de alimentos ou às áreas de preservação ambiental.

O Brasil também pode contribuir em termos globais, com a transferência de tecnologia para outros países com condições adequadas para produção de etanol. Há experiências importantes de produção do biocombustível em países da África, Caribe e Sudeste Asiático, que podem se beneficiar do know how brasileiro. Em termos de mercado consumidor, o fim dos subsídios ao etanol nos Estados Unidos abre espaço para que outros produtores – e inclusive o Brasil – forneçam o combustível ao mercado norte-americano, o maior do mundo. Além da importância comercial dessas transações, elas ajudam na transformação do etanol em uma commodity internacional. Em médio prazo, os principais efeitos disso devem ser a difusão global dos veículos flexíveis ou dos dedicados exclusivamente ao etanol.

A realização desse cenário pode representar um pequeno passo, mas pode resultar em alternativas práticas e relativamente fáceis de serem alcançadas. Com a adoção em maior escala do etanol, o Brasil pode reduzir significativamente suas emissões e ainda lucrar com isso. É possível, com o biocombustível, obter a plenitude do desenvolvimento sustentável, com medidas positivas para a economia, o meio ambiente e a sociedade, que podem inclusive contribuir no enfrentamento da crise financeira atual que tanto causa temor ao mundo. A iniciativa representa ainda uma chance importante de avançarmos na questão ambiental, impedindo que toda a boa vontade manifestada antes e durante a Rio+20 efetivamente se perca.

* Rodrigo Somogyi é gestor de Inovação e Sustentabilidade da Ecofrotas.