Caatinga: muito mais que uma simples mata branca

Figura 1 - Flora da região de Caatinga. Foto: Cássio J.S. Barbosa

Na maioria dos Estados da região Nordeste, ao se distanciar das áreas litorâneas em direção ao interior, podemos perceber uma grande mudança na paisagem, o que fica evidenciado ao se observar a vegetação, denominando o que consideramos o único bioma exclusivamente brasileiro, a Caatinga.

Muitos estudiosos corroboram que a palavra Caatinga, de origem tupi, deriva das palavras caa (mata, vegetação) e tinga (branco, clara), ou seja, mata branca. Assim é chamada por causa da perda das folhas no período seco, expondo ainda mais a coloração acinzentada, quase branca, da casca da vegetação que predomina na região.

A área de domínio da Caatinga é de, aproximadamente, 734.478 km², ou seja, cerca de 10% do território nacional, localizando-se em quase todo território nordestino do Brasil e em parte do norte de Minas Gerais. Um bioma que já foi descrito na literatura como pobre, com pouquíssimas espécies e com grau de endemismo baixo. Entretanto, já se conhece pelo menos 932 espécies vegetais, sendo 318 endêmicas (Figura 1), 348 espécies de aves, das quais 15 espécies e 45 subespécies são endêmicas. Dentre os mamíferos, duas espécies foram descritas como endêmicas, e ainda estima-se que quase 40% dos lagartos e anfíbios sejam exclusivos desse bioma (Figura 2).

Figura 2 - Fauna na região de Caatinga. Foto: Cássio J.S. Barbosa

Apesar das descrições já existentes, ainda temos muito a conhecer e admirar, pois esta região, além da rica biodiversidade, esconde uma beleza exuberante que tende a se mostrar no período chuvoso, com florações multicoloridas, cantos de pássaros dos mais belos, cachoeiras deslumbrantes, dentre outras belezas naturais (Figura 3).

Não obstante a importância e singularidades do bioma Caatinga, este é considerado, entre os biomas localizados na região neotropical, o mais ameaçado pela ação antrópica, sendo ainda a região brasileira com o maior número de áreas em processo de desertificação. Em 2002, os resultados do primeiro Seminário de Planejamento Ecorregional da Caatinga foram publicados no livro Ecorregiões, Proposta para o Bioma Caatinga, que relata, dentre outras coisas, a presença de, aproximadamente, 73 mil km² de áreas protegidas em unidades de conservação, ou seja, menos de 10% do bioma. E, em 2008, foi publicada pelo Miniatério do Meio Ambiente a 2º edição do livro Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição da Biodiversidade Brasileira, no qual é relatada a existência 72 áreas protegidas (12,58% de toda a área de domínio de Caatinga) e a necessidade de mais 220 áreas, para com isso garantir a proteção de 51% do bioma.

Figura 3 - Paisagem geral do bioma Caatinga. Foto: Cássio J.S. Barbosa

Na prática, as ações de conservação são inexistentes ou raras. E o aumento das áreas protegidas é incipiente, quase que imperceptível diante da importância e da relevância da Caatinga, bem como, diante da contínua ação antrópica. Fato esse que ameaça a diversidade biológica de uma região tão bela, ainda desconhecida por muitas pessoas.

Bibliografia

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VELLOSO, A.L.; EVERARDO, V.S.B.; SAMPAIO, E.V.S.B.; PAREYN, F.G. Ecorregiões: Propostas para o Bioma Caatinga. Associação Plantas do Nordeste e Instituto de Conservação Ambiental The Nature Conservancy do Brasil. 2002, 76 p.

* Lamartine Soares Bezerra de Oliveira é agrônomo, doutorando em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília ([email protected]). Mércia de Oliveira Cardoso é agrônoma, doutoranda em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal Rural do Pernambuco ([email protected]). Cassio José Sousa Barbosa é biólogo e fotógrafo especializado em natureza ([email protected]).