Roma, Itália, 24/9/2012 – Enquanto o mundo busca desesperadamente maneiras de aumentar em pelo menos 70% da produção alimentar até 2050, muitos veem as terras aráveis da África como o lugar onde é possível concretizar grande parte deste potencial. Entre 26 e 28 deste mês, Arusha, na Tanzânia, será a sede do Fórum para a Revolução Verde na África, que tentará encontrar soluções africanas para a insegurança alimentar.
Na última cúpula do Grupo dos Oito países mais poderosos, os líderes mundiais se comprometeram a colocar US$ 3 bilhões em uma nova aliança para a segurança alimentar e a nutrição. Seu objetivo é tirar da pobreza 50 milhões de pessoas nos próximos dez anos. O Fórum está projetado para promover compromissos entre os líderes africanos, incentivando investimentos ad hoc e apoio político para aumentar a produtividade e a renda dos produtores africanos, principalmente mediante métodos ambientais sustentáveis e inovadores modelos de finanças agrícolas.
O presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), Kanayo F. Nwanze, abordará estes dois temas em Arusha, durante um painel sobre como fazer com que funcionem os mercados nacionais e regionais africanos. O recente crescimento agrícola da Tanzânia é um exemplo do possível, segundo os organizadores do Fórum. No distrito de Kilombero, em Morogoro, os rendimentos do milho de alguns pequenos produtores aumentaram de 1,5 para 4,5 toneladas por hectare. E os do arroz passaram de 2,5 para 6,5 toneladas por hectares.
Os pequenos produtores terem a chave para desenvolver o potencial agrícola da África é um conceito amplamente reconhecido, e os ativistas esperam que o fórum “explore novas vias de aportar recursos, superar os desafios e melhorar os rendimentos para os milhões de agricultores que trabalham menos de dois hectares de terras em todo o continente”. Segundo Carlos Seré, estrategista principal de desenvolvimento do Fida, aumentar os investimentos agrícolas é um fator crucial.
“Desde a Revolução Verde não investimos tanto em agricultura como deveríamos, porque, basicamente, sentia-se que isto era algo de que o mercado se encarregaria”, afirmou Seré. “Agora percebemos que temos reservas pequenas. As grandes, por exemplo, de cereais, que no passado as agências governamentais mantiveram, agora diminuíram significativamente. Assim, quando uma seca nos Estados Unidos ou na Austrália ou problemas na Rússia afetam estes mercados, os preços sobem rapidamente porque não há nada para amortizar estas existências, como ocorria no passado”, explicou.
Os investimentos agrícolas têm enorme impacto direto na vida dos pequenos produtores, que manejam uma grande proporção da terra no mundo em desenvolvimento. “Eles necessitam de mais bens públicos em termos de pesquisa, extensão e entorno político favorável”, afirmou Seré à IPS.
“O Fida está plenamente voltado a ajudar os governos a fazerem isso. Nosso trabalho tem a ver com aumentar o fornecimento de alimentos, e em ajudar a criar a resiliência dos pequenos agricultores e de suas organizações para que se tornem mais eficientes, usando a terra de modo mais eficiente, compartilhando conhecimentos, se organizando melhor e aumentando sua produção de uma maneira mais rentável, fazendo chegar alimentos às cidades e aos mercados sem incorrer em altos custos de transação”, acrescentou Seré.
Muitos dos mais pobres do mundo gastam mais da metade de sua renda com alimentos, o que os torna vulneráveis quando os preços sobem.
O índice de preços de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que mede mensalmente as mudanças de preços da cesta básica de cereais, sementes oleaginosas, produtos lácteos, carne e açúcar, registrou em agosto a média de 213 pontos, como em julho. Embora ainda esteja alto, o índice da FAO atualmente está 25 pontos abaixo de seu teto de 238 pontos de fevereiro de 2011, e 18 pontos abaixo do registrado em agosto de 2011.
Segundo a FAO, o índice é tranquilizador, e, embora necessite de vigilância, os preços atuais “não justificam falar de uma crise alimentar mundial”, disse Seré à IPS. “Esta situação é muito diferente da que tivemos há dois anos. Percebemos que é preciso vigiar esta situação cuidadosamente, mas, claramente, não vemos que seja tão séria com a que tivemos antes”, acrescentou.
Os especialistas em segurança alimentar acreditam que agora a comunidade internacional está melhor preparada para abordar as variações bruscas dos preços dos alimentos do que em 2007 e 2008. “Temos mecanismos mais fortes para a coordenação, para a análise e para compartilhar informação”, afirmou Seré.
No entanto, acrescentou que restam muitos desafios: “É necessário aumentar a produtividade, particularmente nos pequenos sistemas agrícolas; uma agricultura melhor adaptada ao clima; mercados integrados que funcionem melhor e rendas maiores e mais estáveis para mulheres e homens que vivem na pobreza”.
Todos os assuntos deveriam ser parte de uma agenda contínua, que vá além das instâncias específicas das altas dos preços mundiais. Alguns especialistas consideram que o problema é a falta de consciência mundial sobre os resultados interligados da insegurança alimentar.
Mas, quando o preço internacional dos cereais começou a aumentar até chegar a níveis sem precedentes em junho deste ano, após uma das piores secas na história dos Estados Unidos (maior produtor de milho e soja) isto enviou uma forte mensagem sobre um sistema alimentar mundial interdependente. “Penso que é vital estabelecer o vínculo entre a crise alimentar interna e o que ocorre no resto do mundo”, ressaltou Seré.
“Frequentemente as pessoas não entendem claramente o quanto estes assuntos estão interligados. Por exemplo, os grãos de soja para alimentar porcos na Alemanha chegam do Brasil, que está afetado pelo desmatamento de suas florestas tropicais, e, então, há empregos vinculados à produção destas matérias-primas em diferentes lugares”, acrescentou Seré. Apenas uma análise integral do sistema alimentar pode conduzir a soluções mundiais concretas. Envolverde/IPS